ARTIGO

O homem na Lua: passado, presente e futuro – Parte 1.

Por: Cláudia Medeiros

05/05/2023 | Tempo de leitura: 5 min
São José dos Campos

Créditos da imagem: NASA

O ano é 1957, a União Sovié1ca coloca no espaço o seu primeiro satélite artificial mais conhecido pelo nome Sputnik. A trajetória do Sputnik em torno da Terra dava uma volta completa em torno da Terra aproximadamente a cada 100 minutos e cruzava eventualmente o céu dos Estados Unidos da América, o que deixava os americanos extremamente incomodados com a possibilidade de que o domínio do espaço estivesse nas mãos sovié1cas. Não demorou muito para que o primeiro satélite americano fosse lançado. A missão Explorer-1 lançada em 1958 foi um sucesso para os Estados Unidos que passou então a dominar a arte de fazer foguetes e lançar satélites para exploração espacial. Mas dessa vez, não querendo ficar para trás, o seu programa de ir à Lua iniciou com o crescente apoio dos americanos e um orçamento invejável para a exploração espacial. Os próximos anos foram baseados na consolidação dos conhecimentos obtidos em missões científicas como a Explorer – 1 para garantir o sucesso dessa missão.

Um dos desafios que a Explorer-1 nos ensinou foi a existência de dois cinturões de radiação, chamados Cinturões de Van Allen localizados nas imediações do planeta Terra. Nesse local, a quan1dade de partículas de alta energia se mostrou uma condição de risco para equipamentos e para uma tripulação sensível a radiação. A distância a Lua e a quantidade de combustível necessária para a missão, os riscos inerentes do próprio foguete e toda a engenharia puderam contar com as mentes mais brilhantes na busca de solução. Nessa época foram desenvolvidas técnicas de comunicação, blindagem, treinamento especial para pilotos de ensaio de voo de aeronaves. O estudo da trajetória do foguete também previa atravessar o cinturão de radiação Van Allen nas regiões mais próximas ao polo que eram mais estreitas e com menor concentração de partículas.

Além do cinturão, o espaço é hostil para o homem. O vento Solar, as possíveis tempestades solares de radiação e partículas, a ejeção de massa coronal, os raios cósmicos vindo de fora do nosso Sistema Solar eram um risco para o homem e os equipamentos. Para isso foi estudado um período em que a Lua estaria em oposição ao Sol, ou seja, dentro da própria magnetosfera terrestre evitando o máximo possível que o homem ficasse desprotegido. Mais uma vez nosso escudo protetor auxiliando o homem nessa etapa.

Como toda missão de grande risco, várias etapas se seguiram. O foguete Saturn foi escolhido como veículo lançador. O Saturn I fez o primeiro voo suborbital não tripulado no ano de 1961 seguido pelos testes II e III em 1962, conhecido como projeto Highwater, que testaram as condições da água em diferentes temperaturas, além do cone frontal do foguete e a comunicação de rádio. Nos lançamentos posteriores como o teste IV, foram testados motores e falhas possíveis além de instrumentos e altitudes maiores chegando ao perigeu de 785 km. Os testes VI já apresentaram a configuração da missão Apollo acoplada ao foguete Saturn I em voo orbital como módulo de serviço, tudo isso em 1964. No final desse mesmo ano, o teste VII foi realizado sendo úl1mo voo de qualificação do lançador. Nos voos de teste VIII, IX e X as missões levaram os detectores de micro meteoroides Pegasus para baixa órbita.

As etapas subsequentes ainda seriam realizadas sem tripulação pois o objetivo era testar a reentrada e as possíveis falhas em subsistemas de controle térmico e ambiental, que foram corrigidas ao longo das diversas tentativas realizadas. Finalmente em 1967 o primeiro voo orbital usando o lançador Saturn V demonstrou a integridade de todos os sistemas assim como a operação a distância do módulo e de toda a cadeia necessária para o voo até a Lua.

Mas somente no dia 11 de outubro de 1968 1vemos o primeiro voo tripulado, a Apollo 7. Esse voo ainda não levaria o homem à Lua, mas demonstraria todos os conceitos da missão além de contar com a observação de astronautas em tempo real para corrigir problemas dentro do módulo e a primeira transmissão pela TV em rede nacional americana. Assim, Walter Schirra Jr., R. Walter Cunningham e Donn F. Eisele foram os eleitos para essa etapa. O voo atingiu cerca de 226 km de al1tude com 163 órbitas em torno da Terra e durou cerca de 10 dias, retornando em 22 de outubro em pouso no oceano Atlântico.

Em dezembro de 1968 uma nova missão tripulada, a Apollo 8, com Frank Borman, William A. Anders e James A. Lovell Jr. foi lançada em direção a órbita lunar e nos trouxe a primeira imagem da Terra do ponto de vista da Lua, a “Earthrise”, que em português poderia ser traduzida como nascer da Terra. Eles não pousaram, apenas contornaram a Lua para comprovar que seria possível realizar todas essas etapas sem risco e garantir as próximas missões. A próxima missão Apollo 9 contornou a Lua, mas já com uma nova missão, a transferência para módulo lunar que futuramente pousaria na Lua. Nessa missão James McDivim, David Scom e Russell Schweickart testaram seus trajes espaciais, situações de risco e técnicas de resgate, voaram bem próximo a Lua e fizeram o mapeamento multiespectral do solo Lunar que serviria de local para pouso. Na missão Apollo 10, os astronautas Thomas P. Stafford, John W. Young e Eugene A. Cernan fizeram uma missão quase completa, com o desacoplamento do módulo lunar e a aproximação da Lua a ponto de sentir os efeitos da sua gravidade. Com o sucesso dessa missão o homem finalmente estava pronto para pousar na Lua.

Nosso texto da semana que vem falaremos sobre a missão Apollo 11 com detalhes para os amantes do espaço. Como puderam ver no texto acima, a missão para a Lua foi extremamente cuidadosa e criteriosa para corrigir todos os pontos de falha ao longo de cada etapa. Assim como qualquer fabricante de uma tecnologia nova, um carro ou um avião por exemplo, não basta saber fazer, é preciso garantir a segurança máxima possível. Isso aconteceu para as missões Apollo e, conforme veremos a seguir, vem sendo usada até hoje em missões espaciais como a nova missão para a Lua e além, a Artemis.

Deixo aqui também a sugestão da série “Os Eleitos” em duas versões, uma mais antiga de 1983 ou a nova versão de 2020 disponível na Disney+. Esse filme/série conta a história dos pilotos de teste selecionados para a missão Apollo e seus desafios e testes ao longo desse processo. Quer saber mais sobre o assunto acima? Visite o canal MaisQueRaios no Youtube e @maisqueraios no Instagram. Um agradecimento especial ao jornal O Vale por nos apoiar para que esse conteúdo chegue a mais pessoas.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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