Seria o ciclo natural da moda ou resultado do impacto da quarta temporada da série “Sucession”? A verdade é que o tal do quiet luxury vai muito além de uma tendência. Conforme a tradução, o “luxo silencioso” pode ser classificado como um estado de espírito, onde a moda assume um papel confiante e discreta.
Como vi recentemente em uma matéria, a melhor explicação para o quiet luxury é você “luxar sem mostrar ao mundo inteiro que você está luxando”, ou seja, a ostentação passa a ser brega (mas não deveria sempre ser?).
A tendência tem sua essência no estilo clássico, com itens básicos, bem-feitos, versáteis e que não gritam a sua marca, mas nem por isso deixa de comunicar sofisticação. É ter a discrição como um norte, é não usar logomarcas excessivamente expostas, é prezar pela qualidade das peças, é focar na procedência, em como ela foi feita, quais materiais e por quem.
Após a pandemia, com as flexibilizações e reaberturas, a moda sofreu um exagero, vigoravam as cores, a ostentação, o brilho – aliás um processo bem natural após o choque. Não foi a primeira vez que o mundo passou por um momento traumático e na sequência se recuperou e expos a ostentação. Quando analisamos, por exemplo, a Gripe Espanhola que aconteceu de 1918 a 1920, o período logo após foi marcado pela opulência, pelo desejo de Carpe Diem e pela necessidade de mostrar-se mais forte que o obstáculo vivido, resultando no sentimento de liberdade para consumir. Uma curiosidade foi o sucesso de Chanel após tal pandemia ou Dior com seu New Look após a Segunda Guerra Mundial. Desta vez vimos o dopamine dress, o color blocking, o lurex, entre outras.
Já nas últimas semanas de moda presenciamos o luxo silencioso assumir seu papel e gritar que a sociedade está exausta e precisa se despedir dos exageros, trazendo cores neutras e sóbrias, alfaiataria sofisticada, poucos pontos de cor, o minimalismo aparente através de peças sem tantos detalhes e modelagens mais clássicas, um tipo de roupa que não anuncia seu valor.
Já participei de discussões onde a tendência foi pontuada como uma “moda chata”, sem graça, sem borogodó. E refletindo - sendo uma amante da moda, do mix de estampas, das modelagens ousadas, das cores, das peças maximalistas - tenderia a concordar, porém também preciso acatar que há um excesso. Somos constantemente bombardeadas por informações de moda, nos deixando divididas entre o que é o seu estilo pessoal e o que o mercado está oferecendo, a imagem que transmite e a que gostaria de transmitir, uma nova tendência de manhã e outra a tarde sendo impossível acompanhar.
Independente do seu time nessa discussão, para mim o Quiet Luxury chega para questionar aquela história de renovar o guarda-roupa a cada coleção apontada, vem trazer a sabedoria de deixar os excessos de lado e ir construindo sua identidade com o seu guarda-roupa. Eu sigo usando peças de 20 anos atrás, mas também estou constantemente em busca de algo novo. E vc?