COLUNA

Qual é a cor do Sol?

Por Cláudia Medeiros | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
NASA/SDO/Goddard Space Flight Center

A visão que temos do Sol é uma grande bola de fogo queimando como lava quente alaranjada de um vulcão. No entanto, o Sol não tem nada a ver com isso, exceto no nosso imaginário. Essa imagem que temos acontece porque não conseguimos expressar esse tipo de fenômeno sem encontrar algo similar como exemplo. Te convido a fazer essa tentativa aqui comigo.

A primeira coisa que precisamos fazer é apagar a imagem da internet que temos do Sol e vamos passo a passo caminhar pelos nossos sentidos como forma de compreendê-lo mais facilmente.

Numa manhã comum, você tendo ou não o Sol encoberto pelas nuvens, é bem provável que sentirá seu calor. Se esse calor não for o suficiente para te incomodar, ainda assim sua pele sentirá seu efeito. Agora imagina se você estivesse no espaço desprotegido em frente ao Sol. Todo esse efeito é sentido diretamente sem proteção nenhuma e em questão de segundos sua pele sofrerá com os efeitos da radiação solar. Se você tentasse olhar para o Sol para saber sua cor provavelmente seria a última coisa que veria na vida.

Mas, imagine que fosse possível continuar enxergando e ao mesmo tempo se aproximando sem ao menos sofrer com os efeitos da radiação, coisa impossível até mesmo para os satélites mais tecnológicos existentes. Nesse caso, se você estivesse no espaço e pudesse olhar para o Sol diretamente, veria uma bola esbranquiçada parada no meio do nada. Ao se aproximar bastante, seria como observar uma espécie de bola de gás branca flutuando no espaço, tão densa que não seria possível ver seu interior claramente. Eventualmente poderíamos ver algumas regiões escurecidas no disco solar, as tais manchas solares. Até então nada disso parece muito interessante talvez decepcionante poderíamos dizer assim.

Mas então o que são as imagens que observamos na internet que nos mostram cores e detalhes do Sol?

O grande passo de Galileu Galilei de olhar para o Sol com sua pequena luneta e nos dar as primeiras pistas registradas das manchas solares, tudo isso no visível e da Terra, hoje se transformou em algo grandioso. A decomposição das cores promovidas pelo prisma de Sir Isaac Newton mostrou que a luz do Sol, de uma certa forma branca, na verdade era um conjunto de emissões de diversas cores unificadas em uma única direção. Se usarmos um prisma, por exemplo, conseguiríamos ver que o Sol tem várias cores, ou seja, a combinação de todas essas cores que nossos olhos veem como branco, na verdade são todas as cores juntas se propagando na nossa direção e a decomposição delas é a única forma de percebermos que a fonte daquela luz é, na verdade, emissões de diversos comprimentos de onda diferentes. Esse prisma artificial é o mesmo que nossa atmosfera natural. Quando os raios de Sol atingem a atmosfera, que funciona como um prisma, faz o céu parecer mais azul, ou mais alaranjada, de acordo com a posição do Sol, ou até mesmo fornecer a possibilidade de surgir um arco íris de diversos tons em alguns dias sob condições específicas de umidade.

Nosso sentido da visão é limitado em captar emissões do espectro eletromagnético apenas no visível e, portanto, vemos apenas o que esse nosso sensor natural é capaz de enxergar. Isso acontece porque existem diversos elementos químicos no Sol que ao sofrerem excitação emitem radiação em comprimentos de onda diferentes. Ora, se isso acontece com as cores do visível, talvez possa existir mais comprimentos de onda em frequências que não conseguimos detectar com nossos olhos. E de fato isso acontece.

Para isso, utilizamos instrumentos que conseguem detectar comprimentos de onda que não enxergamos. Os mais conhecidos no nosso dia a dia são os detectores de raio-X, ultravioleta e infravermelho. Esses e outros sensores detectam o que o Sol está emitindo. E para que possamos tornar esses dados possíveis de serem analisados, definimos códigos de cores para os valores medidos e depois geramos uma imagem no visível. Dessa forma são construídas as belas fotos que vemos na internet.

Essas “imagens” são do Sol e representam o que está acontecendo no Sol, mas não significa que conseguiríamos vê-las a olho nu. E elas são simplesmente fantásticas porque mostram detalhes que não imaginávamos existir como a granulação presente na cromosfera, as linhas de campo magnético e seus arcos, os detalhes das regiões ativas do Sol, os buracos na corona Solar entre diversos fenômenos que estão acontecendo e que nossos olhos não veem. Tudo isso é o Sol.

Toda essa inspiração e descobertas do passado nos faz hoje entender melhor o que é o Sol. E tem muito mais a ser descoberto. O que os olhos não veem, outros sensores podem sentir sim. Tudo isso tem nos dado vida, conduzido diversos fenômenos no nosso planeta e ainda há mais por vir. Qual é a cor do Sol? Muito mais do que os nossos olhos podem ver.

Quer saber mais sobre o Sol e suas cores? Visite o canal MaisQueRaios no Youtube e @maisqueraios no Instagram

Comentários

1 Comentários

  • Celina 14/04/2023
    Maravilhiso o que vc fala sobre o Sol. Obrigada por contribuir com o conhecimento, nos mostrando o que está envolvido no Sol e meus olhos nao consegue ver. Lindo demais??