IDEIAS

Sim, raios caem no mesmo lugar!

Por Cláudia Medeiros |
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução/ pixabay

Sim, raios caem no mesmo lugar. Qual seria o sentido de instalarmos para-raios em locais fixos, como no topo de prédios, se raios não caíssem no mesmo lugar? Esse ditado de que raios não caem no mesmo lugar não encontra embasamento nem mesmo nas primeira observações feitas por Benjamim Franklin que, ao tentar entender esse fenômeno, sabia que certos pontos no topo de igrejas, mastros de barcos e pipas seriam os locais favoritos a serem atingidos por raios. E sim, mais do que uma vez.

No entanto, é possível compreender o porquê de ainda existir essa confusão. Uma parte vem da limitação de observações e de instrumentações adequadas para medir os raios. A outra vem da desinformação de como funcionam as descargas elétricas atmosféricas, mais conhecidas como relâmpagos.

Relâmpagos podem ocorrer dentro das nuvens, da nuvem para o ar e também da nuvem para o solo, e vice-versa. Hoje vamos focar no tipo de relâmpago que atinge o solo, os raios.

Observar os raios sem nenhum instrumento pode nos dar a falsa sensação de que eles não caem no mesmo lugar. Se você ficasse o tempo todo observando, por exemplo, o Cristo Redentor, o veria sendo atingido diversas vezes. Segundo o grupo de eletricidade atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais o Cristo é atingido em média 6 vezes ao ano.

Outro aspecto a se considerar está mais ligado a característica das descargas elétricas. Normalmente o raio parece seguir um caminho aleatório e errático, dificilmente atingindo o mesmo local. O que você não consegue ver a olho nu é que muitas vezes, aquela fração de minuto já possui várias descargas no mesmo lugar. Câmeras de alta velocidade, que registram diversos quadros por segundo, mostram que, o que vemos como apenas um raio, podem conter diversas descargas consecutivas em questão de milissegundos no mesmo lugar. Você pode se perguntar, mas depois que acaba, ele pode voltar a cair no mesmo lugar algumas horas ou dias depois? A minha resposta é sim. Nada impede que o raio caia novamente naquele local e as chances são as mesmas que as anteriores se o clima local for favorável. O que não posso afirmar é que vai seguir o mesmo caminho, exatamente igual entre a nuvem e o solo porque é praticamente impossível reproduzir as mesmas condições.

Algumas pessoas podem argumentar que isso significa que o raio não cai no mesmo lugar. Falar isso é equívoco no sentido de proteção e poderíamos passar horas discutindo filosoficamente se a mesma água percorre o rio duas vezes. O que quero deixar bem claro aqui é que existe um risco imenso em interpretar o raio por parâmetros filosóficos sem utilizar o conhecimento estatístico e prático da densidade de descargas.

As estatísticas são claras o suficiente para que empresas invistam em equipamentos de proteção contra raios e quem negligenciar isso pode pagar um preço caro demais. O Brasil é um dos países que concentra a maior densidade de raios do planeta e felizmente possui uma rede de detecção de relâmpagos capaz de auxiliar nesse processo de prevenção. Além disso, possuímos empresas altamente qualificadas na implementação de equipamentos de proteção contra raios.

No Brasil temos o grupo de eletricidade atmosférica dentro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais que ao longo de anos vem estudando a ciência dos relâmpagos. Somos pioneiros no uso de câmeras rápidas para estudo de raios e inclusive, raios que saem do solo em direção a nuvens, uma tipo de raio intrigante que fascina toda a comunidade científica. Aqui na região, estamos em plena temporada durante os meses de janeiro, fevereiro e março. Quase todos os dias temos ao menos uma região no Vale do Paraíba com registros de raios.

Antes de encerrar esse texto, não posso deixar de enfatizar as medidas de proteção mais efetivas em caso de alerta de raios: não fique em área descoberta, não fique embaixo de árvores e marquises. Se tiver na praia, procure abrigo fechado, saia da água e da areia. Não use aparelhos ligados a tomada. Se tiver dentro do carro, mantenha os vidros fechados. Se tiver de moto, procure abrigo e espere os raios passarem. Lembre-se, raios caem no mesmo lugar.

Comentários

2 Comentários

  • Celina 06/04/2023
    Texto muito bem elaborado e claro . Informaçao e utilidade e ecclarecedor obrigada por contribuir .
  • Roberto Rigobello Filho 06/04/2023
    Parabéns Claudia.De forma clara, concisa e especialmente cientifica você nos transmitiu informações úteis para o nosso dia-a-dia. Parabenizo também o jornal OVALE pela iniciativa de divulgar matérias cientificas para enriquecer o conhecimento dos leitores.