O fosso da desigualdade.
A pesquisa Mapa da Riqueza no Brasil, divulgada pela FGV Social (Fundação Getulio Vargas Social), mostra que a diferença entre a maior e a menor renda média da população do Vale do Paraíba é de 1.249%, revelando o tamanho da desigualdade social encravada numa das regiões mais desenvolvidas do país.
Enquanto a cidade de Campos do Jordão tem renda média de R$ 2.900, Potim registra R$ 214,96, diferença de R$ 2.685 a favor da população do município da Serra da Mantiqueira.
O Mapa da Riqueza é baseado em dados de 2020 do IRPF (Imposto de Renda Pessoa Física), gerados pela Receita Federal.
A pesquisa mostra que o patrimônio líquido médio dos declarantes do imposto em Campos do Jordão é de R$ 614,4 mil, o que representa 10 vezes mais do que a média em Potim, que é de R$ 60 mil.
Campos do Jordão lidera com a maior renda média da RMVale, a 10ª do estado de São Paulo e a 24ª do Brasil.
Em segundo aparece São José dos Campos (R$ 2.153), 26ª do estado e 66ª do país com a maior renda média.
Na sequência, estão as cidades do Vale e as respectivas rendas médias da população: Taubaté (R$ 1.627), Guaratinguetá (R$ 1.609), Tremembé (R$ 1.535), Jacareí (R$ 1.465) e Caçapava (R$ 1.367).
CAMPINAS
Na RMC (Região Metropolitana de Campinas), a diferença entre as rendas das cidades é menor do que na RMVale.
A campeã é Vinhedo, que tem renda média de R$ 3.750 e está na 4ª posição estadual e na 11ª nacional. Comparando com a renda de Engenheiro Coelho (R$ 813), a menor da região, a diferença é de 361%.
Depois de Vinhedo, aparecem Valinhos (R$ 3.228), Holambra (R$ 2.852), Campinas (R$ 2.693), Paulínia (R$ 2.502) e Indaiatuba (R$ 2.249).
A distribuição da riqueza é mais equilibrada na RMC do que na RMVale, cujas rendas médias são de R$ 1.718 e R$ 927, respectivamente, 82% a mais para a RMC.
O dado pode ser visto de outra forma: 65% das cidades da RMC têm renda média acima de R$ 1.000, enquanto no Vale o percentual é de 41%. Na porção inferior, as cidades da RMVale têm R$ 582 de renda média contra R$ 911 na RMC.
BRASIL
Olhando os dados de todas as cidades do país, chega-se a um fosso ainda mais profundo e grave de desigualdade.
O município de Nova Lima (MG) tem a maior renda média do país (R$ 8.897) em contraponto a Matões do Norte (MA), que tem a menor (R$ 22,17). A diferença é de 40 mil por cento.
No estado de São Paulo, que é o segundo com a maior renda média do país (R$ 2.063) atrás de Brasília (R$ 3.148), a desigualdade é menor do que a brasileira, mas mesmo assim ainda assustadora.
Santana de Parnaíba lidera com renda média de R$ 5.791 contra R$ 142,57 da cidade de Pracinha, uma diferença de 3.962%.
“A desigualdade de renda no Brasil é ainda maior do que o imaginado”, disse o economista Marcelo Neri, da FGV Social. “Se a fotografia da distribuição de renda é péssima, o filme da pandemia também é. Mesmo com o Auxílio Emergencial, ao contrário do que se acreditava, a desigualdade brasileira não caiu durante a pandemia.”
O estudo liderado por Neri revela que o índice de Gini, que mede o grau de concentração de renda, chegou a 0.7068 em 2020 no Brasil, bem acima dos 0,6013 calculados em 2019.
Para o cálculo do Gini, quanto mais perto de 1 está o índice, maior é a desigualdade. E, segundo Neri, cada 0,03 pontos equivale a uma “grande mudança da desigualdade”.
Uma das explicações é que a “classe média achatou”, como disse Neri. As perdas dos mais ricos (-1,5%) foram menos da metade das da classe média (-4,2%), a grande perdedora da pandemia.
“No caso brasileiro houve esse achatamento forte da classe média. E ele jogou uma parte da população para um dos extremos de renda. No caso, para o lado dos mais pobres”, afirmou Neri ao portal Metrópoles.
Para o economista, a classe média foi a mais ‘desprotegida’ durante a crise provocada pela pandemia.
“Os mais pobres tiveram o Auxílio Emergencial. O valor era de 600 reais, mas, pelas nossas estimativas, o benefício médio foi de 900 por família de baixa renda. Os mais ricos perderam um pouco, mas eles têm ativos, patrimônio. Já a classe média não contou nem com a proteção social, nem tem os benefícios da riqueza. Daí, ter sido o grupo mais adversamente afetado. E ela já vinha sendo achatada por outras crises.”
RENDA
Segundo o relatório, as unidades da federação do Brasil com mais renda por habitante são Brasília (R$ 3.148), São Paulo (R$ 2.063) e Rio de Janeiro (R$ 1.754). O estado com a menor declaração de patrimônio por habitante é o Maranhão (R$ 6,3 mil). No outro extremo está o DF (R$ 95 mil).
Nas capitais, na renda média, aparecem Florianópolis (R$ 4.215), Porto Alegre (R$ 3.775) e Vitória (R$ 3.736).