PERSONAGEM

Ex-militar supera crise de ansiedade virando caçador de tesouros no Vale; veja vídeo

Por Xandu Alves | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 3 min
Divulgação
Douglas Lemes em uma das expedições para encontrar relíquias da Revolução de 1932 no Vale
Douglas Lemes em uma das expedições para encontrar relíquias da Revolução de 1932 no Vale

O Brasil foi considerado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) o país mais ansioso do mundo, com 18,6 milhões de pessoas com o transtorno. No mundo, são mais de 350 milhões.

Para piorar, ainda segundo a OMS, os reflexos do coronavírus promoveram um aumento de 25% nos casos de ansiedade e depressão. A saúde mental chegou a ser chamada de ‘a quarta onda’ da pandemia.

Trabalhando como técnico de sistemas de climatização e refrigeração na região de Guaratinguetá, Douglas Lemes, ex-militar da Aeronáutica, é um dos milhões de brasileiros que lida com o transtorno de ansiedade diariamente. “Sofro já há algum tempo de ansiedade e faço tratamento”, disse.

No entanto, o melhor remédio que ele encontrou para enfrentar o problema foi tornar-se um caçador de tesouros. No caso dele, de relíquias da Revolução Constitucionalista de 1932, que colocou em lados opostos das trincheiras o estado de São Paulo e o governo federal, comandado pelo governo provisório de Getúlio Vargas, após o golpe de 1930.

A missão dos paulistas ao ir à guerra era convocar uma Assembleia Nacional Constituinte, medida essencial à República brasileira, que não tinha nem 50 anos naquela época.

MELHORIA

Lemes apaixonou-se por esse período da História e passou a pesquisar sobre a Revolução de 1932, até seguir um colega nas primeiras expedições a campo, há cerca de três anos.

Desde então, coleciona artefatos e relíquias encontrados enterrados em morros, montanhas, sítios, fazendas e locais ermos da região do Vale Histórico, que abrigou as principais batalhas da revolução, em cidades como Guaratinguetá, Lorena, Cunha, Cruzeiro e Piquete.

O hobby tornou-se parte do tratamento contra a ansiedade, com melhora de até 80% no problema, segundo Lemes, depois que começou a procurar relíquias.

“Isso para mim é terapêutico. Depois que comecei a fazer o detectorismo, melhorou a ansiedade em uns 80%, pois exercita o físico, a mente, tem contato com a natureza, contato com o Criador. Limpa a mente da gente. A minha mulher já fez expedições comigo, meu cachorro também. Meu pai também me acompanha”, contou.

“O hobby me ajudou a superar meus traumas e medos, pois me mantém ativo. Iniciei as expedições em outubro de 2019 e com mais intensidade em 2022.”

EXPEDIÇÕES

Lemes procura conhecer a História para encontrar as melhores trincheiras das batalhas na região, extraindo das escavações itens como cápsulas de fuzil e metralhadora, pedaços de granadas e de lança morteiro e outras relíquias – todos materiais inertes, ou seja, sem condição de explosão ou uso, como lembrou o pesquisador.

“Desde criança sempre fui apaixonado pela História. Por meio disso, depois de servir à Aeronáutica, onde fiquei seis anos e fui militar, sempre gostei desse segmento”, contou o caçador de tesouros históricos.

“A Revolução é recente, faz 90 anos, e foi uma luta pela Constituição. Comecei com um amigo que tinha um detector de metais. Comecei pesquisando e conversando com pessoas que têm fazendas e sítios na região. É importante fazer sempre a expedição com autorização do proprietário”, completou.

As missões podem durar até oito horas e exigem esforço físico e cuidados como hidratação constante, alimentos corretos e equipamentos adequados, como o detector de metais, indispensável à caça dos objetos enterrados.

Morando em Guaratinguetá, cidade considerada a última trincheira da resistência contra as tropas federais em 1932, Lemes se empolgou ainda mais com a busca por relíquias.

“É um prazer enorme encontrar uma cápsula de fuzil, por exemplo, e saber que a última pessoa que a tocou foi um soldado paulista. E agora eu a encontro depois de 90 anos enterrada. É incrível.”

Ele faz parte do canal ‘Guaratinguetá Detectorismo e Aventura’ no Youtube, que já tem quase 40 vídeos das expedições de Lemes e colegas atrás de relíquias, somando quase 40 mil visualizações.

ACERVO

O sonho agora é conseguir um espaço em Guaratinguetá para guardar o acervo e permitir que ele seja pesquisado e visitado, como em um museu.

“Trata-se de um tesouro da nossa História que não pode ficar perdido. Vamos tentar encontrar um meio de guardar esse acervo, catalogando-o e permitindo que mais pessoas tenham acesso a ele”, afirmou Lemes.

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