O governo Lula completou dois meses acumulando mais frustrações do que entregas. Pode-se afirmar, como classificou o jornal francês Le Monde, que o presidente não conquistou o esperado “choque de confiança” e segue governando um país polarizado.
No cenário externo, por outro lado, é forçoso constatar que o Brasil saiu das sombras e voltou a ser reconhecido como um importante ator internacional, seja nas questões ambientais, seja na geopolítica.
A maior dificuldade de Lula, no cenário interno, parece ser a condução da política de alianças para garantir apoio no Congresso.
O pacto com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), garantiu apenas a aprovação da PEC da Transição em troca do apoio do PT à reeleição de Lira.
O acordo selado com o União Brasil levou para a Esplanada ministros do baixo clero, enrolados em escândalos pessoais, sem assegurar um único voto firme do partido para projetos do governo.
O governo não tem base consistente no Congresso e o fogo-amigo dos descontentes do PT faz estragos diários na imagem do ministério. Lula lida com o desgaste com a experiência de quem já passou por dificuldades similares em dois outros mandatos, mas o céu não é de brigadeiro.
No campo econômico, a herança dos juros elevadíssimos deixados pelo governo Bolsonaro já começa a pesar no desempenho das empresas, afetadas pela escassez de crédito. A perspectiva é de baixo crescimento.
Além de travar uma luta diária pela confiança do mercado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também precisa lidar com o “fogo amigo” dos desenvolvimentistas abrigados no BNDES de Aloizio Mercadante.
A prova dos nove será a apresentação de uma nova âncora fiscal, para substituir o furibundo teto de gastos, abatido por Bolsonaro e Paulo Guedes.
A reforma tributária, no entanto, corre o risco de nem sair do papel, apesar de ser a grande aposta de Lula para reequilibrar a situação fiscal do país e estimular a produção. Sobre isso, não existe convergência no Congresso, nos governos estaduais e no empresariado.
À primeira vista, portanto, as perspectivas não são das mais animadoras. Há que se admitir, no entanto, que o país respira novos ares, com o fim do período das trevas, da maratona diária de declarações e atos tresloucados, da delinquência como norma de conduta no Poder Público.
Os delinquentes, aliás, ainda terão muito que explicar sobre o lobby para retirar da Receita Federal a joias trazidas às escondidas da Arábia Saudita, o último grande “deslize moral” da família Bolsonaro.