KELMA JUCÁ

A válvula da torneira lá do serviço

Por Kelma Jucá | 25/02/2023 | Tempo de leitura: 2 min
Jornalista

Faz tempo que eu percebo a válvula da torneira do banheiro desregulada. No serviço, são duas pias. Numa, a torneira libera um fio mixuruca de água. Mal dá para molhar as mãos. Daí, todas as mulheres que usam o banheiro passam a concorrer para usar a pia cuja torneira é mais generosa.

Sem que paremos para pensar, buscamos o equilíbrio. Afinal, já houve época em que uma das torneiras soltava tanta água que inevitavelmente saíamos do lavabo com a roupa encharcada. Até uma torneira regulada se torna mais atraente, o que dirá uma pessoa?

Não adianta beleza se falta à figura animada ou inanimada fluxo contínuo e moderado. De que adianta a pessoa vir ao mundo de “roupa passada” se ao abrir a torneira, digo a boca, só lhe saem impropérios, mentiras e fofocas? Todo mundo conhece alguém assim.

A Psicologia talvez chame de filtro social. Eu gosto da simbologia da válvula, aliás com todo o respeito às torneiras, tendo em vista que algumas bocas nervosas soltam um latim com depreciação tão chula ao colega que não caberia a expressão “Fulano só fala água”.

Voltemos à válvula da torneira. Se estiver muito frouxa, permite a passagem de um intenso fluxo de água. Se estiver muito apertada, libera muito muquiranamente um fiapo do líquido precioso, sem que se importe que o seu objetivo seja o de escovar os dentes.

Pois uma pessoa de válvula frouxa é mesmo folgada. Faz brincadeiras inapropriadas, cantadas imbecis e fornece a opinião maliciosa não solicitada. Às vezes, bobo da corte. Às vezes, canastrão para quem ninguém além da pessoa que esteja à sua frente presta. Nem o chefe escapa!

Na contramão, o ser de válvula apertada é quase enigmático. Não olha nos olhos. Mal cumprimenta o colega. De poucas ideias, ninguém sabe seu posicionamento político nem o time de futebol. É uma concha fechada, a quem esperamos esteja produzindo uma ostra.

A criatura de válvula regulada é tranquila, cumprimenta com “bom dia”, sorri comedidamente e interage dentro do espectro social aceitável. Até deve passar por uma manutenção um dia ou outro, mas segue com um padrão de comportamento coerente.

Cansada de reclamar da torneira que pinga água, fui até a manutenção do serviço registrar a queixa. De imediato, o colega foi verificar a instabilidade da peça. Para minha decepção, não era a válvula desregulada, veredito que eu mesma havia dado a partir de uma experiência anterior semelhante.

Talvez eu tenha simplificado demais o problema da torneira. Atribuir a água minguada somente a uma válvula desregulada é diminuir a complexidade de uma pessoa. E até de uma torneira.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Receba as notícias mais relevantes de Vale Do Paraíba e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.