“Onde você está?” é uma das perguntas mais difíceis para a jornalista Gisele Rodrigues, de 36 anos, que nasceu em Pindamonhangaba e tem a maior parte da família em Taubaté.
Fiz essa pergunta e ela na última quarta-feira (8), às 15h, pela internet. Ela respondeu: “Acabei de chegar de viagem de 20 dias pela Finlândia, Suécia, Estônia e Letônia. Estou neste momento arrumando as malas em Bucareste, na Romênia, onde moro atualmente, para ir ao aeroporto viajar para a Itália, para quatro dias a turismo. Em seguida, começo um intercâmbio acadêmico de idiomas em Malta”.
Sete países diferentes em menos de um mês, e num só parágrafo. É para poucos. O que também é para poucos é a história de vida da jovem jornalista do Vale do Paraíba, formada em 2009 na Unitau (Universidade de Taubaté), onde também fez pós-graduação em Marketing.
Gisele superou um câncer na tireoide que apareceu duas vezes para realizar o sonho de conhecer o mundo, literalmente. Ela fez mestrado em Jornalismo de Viagem em 2019, em Barcelona, na Espanha, e engatou um mestrado em Marketing Digital na Romênia, na terra do Drácula, em 2021, com bolsa financiada pelo governo romeno.
Acha que ela vai parar? Que nada. Veja o que disse a jornalista: “Tenho mais 190 países para descobrir. Viajo sozinha há mais de cinco anos, fazendo intercâmbio e voluntariado em troca de hospedagem, além de viagens de turismo por conta própria e àquelas convidadas pelos destinos, por ser jornalista de viagem e escrever sobre turismo para vários veículos no Brasil”.
CÂNCER VIA EMAIL
Depois de formada em Taubaté, Gisele acumulou mais de 10 anos de experiência em televisão, trabalhando para canais como SBT e Record, com os quais continua realizando reportagens e matérias especiais como freelancer na Europa.
Na segunda semana de julho de 2017, ela pediu demissão do núcleo de reportagens especiais e documentários da TV Record para ir ao primeiro intercâmbio em Barcelona, um sonho antigo. Deixou toda a segurança de um emprego cobiçado na televisão para se aventurar no Velho Continente.
No primeiro dia de aula do intercâmbio de pós-graduação, em 1º de outubro de 2017, ela descobriu o câncer na tireoide ao ver o email enviado por sua médica com exames feitos ainda no Brasil.
“Aquilo acabou comigo. Hoje eu falo e inspiro as pessoas, mas a jornada foi muito difícil. Foi o pior dia da minha vida. É um buraco negro que se abre. Não tinha nem com quem chorar [na Espanha]. É o preço que se paga quando se quer morar fora do país”, disse Gisele.
“Foi uma bomba na minha vida e, anos antes de receber essa notícia, havia perdido minha madrinha de câncer de tireoide. Essa era a única referência que tinha da doença, e era a morte. Meu maior medo era não continuar vivendo o sonho, que levei tanto para guardar dinheiro e viajar pelo mundo.”
Sem contar aos pais sobre a doença, ela voltou ao Brasil para se tratar do câncer, superado com otimismo, força de vontade e aquela ajuda indispensável da medicina. “Quando cheguei, foi o momento da minha virada”, disse Gisele.
REVELAÇÃO EM IGREJAS
Antes, uma epifania em Barcelona, em plena Igreja da Sagrada Família, projetada por Antonio Gaudí. “Entrei numa das maiores igrejas do mundo, a da Sagrada Família de Gaudí, e tive uma luz: ou aceita a doença ou morre. Aceitei para não morrer de depressão. A doença mental é pior do que a física. Meu medo era a metástase”.
Incluindo a cirurgia, o tratamento durou cerca de sete meses no Brasil e, em janeiro de 2019, ela estava de volta à Espanha para o mestrado em Jornalismo de Viagem. E como ela temia, a metástase apareceu, e também enquanto Gisele estava em uma igreja na Europa.
A jornalista contou como foi a descoberta da recidiva do mesmo câncer: “Estava entrando no Santuário de Fátima, em Portugal, viajando com a minha irmã. Era nômade digital. Atendi a ligação do médico com o resultado do check-up de rotina que faço a cada três meses. O câncer estava de volta”.
Gisele voltou para a Espanha, onde tem carteira do sistema público de saúde, em abril de 2022, para fazer o tratamento. Como o tumor era muito pequeno, não houve necessidade de cirurgia, mas de um tratamento de iodoterapia, a base de iodo radioativo tomado em forma de pílulas.
“Em novembro de 2022, saiu o tratamento no hospital em Barcelona. Fiquei três dias internada e mais sete dias na casa de uma amiga, isolada para a radiação sair do corpo.”
Enquanto estava internada, ela recebeu um pacote com um ursinho enviado por amigas que Gisele conheceu na Finlândia, e que descobriram o hospital e o número do quarto para lhe enviar o presente, que a emocionou: “Vejo vocês na Finlândia para curtir juntas”, disse ela em um vídeo gravado no quarto do hospital, às lágrimas.
INSPIRAÇÃO PELA INTERNET
Gravar vídeos tornou-se mais do que um hábito para Gisele. Ela lançou o canal ‘Mundo Pra Viver’ nas redes sociais, com dicas de como se tornar um mochileiro bem-sucedido. A página no Instagram tem quase 30 mil seguidores.
Ela também faz vídeos e reportagens pelo mundo afora e passou a compartilhar a sua luta (e vitória) contra o câncer, inspirando milhares de pessoas ao redor do mundo.
“Tem pessoas de todos os lugares do mundo dizendo que mudei a vida delas ou que sou um canal de inspiração para que mudem a vida, para realizar o sonho de ter mais qualidade de vida, inspirar a viver no presente”, afirmou a jornalista.
“Acredito que Deus me colocou para comunicar e passar mensagens de inspiração. Esse é meu principal trabalho: inspirar cada pessoa que me escuta a viver cada dia como o se fosse o último suspiro.”
Bom, em se tratando de Gisele, o tal ‘último suspiro’ está longe pra dedéu. Afinal, quem decide conhecer o mundo, tem o mundo inteiro para conhecer. Bon Voyage!
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