ENTREVISTA

'Se não apresentar um projeto ao país, eu e o Emanuel podemos sair do PSDB', diz Cury

Sem se reeleger após dois mandatos como deputado federal, Eduardo Cury avalia sua permanência no PSDB, a chance de disputar a Prefeitura de São José e a polarização no país

Por Xandu Alves | 03/02/2023 | Tempo de leitura: 7 min
São José dos Campos

Divulgação

Eduardo Cury discursa na Câmara dos Deputados
Eduardo Cury discursa na Câmara dos Deputados

Após dois mandatos como deputado federal e sem conseguir se reeleger, o ex-prefeito de São José dos Campos, Eduardo Cury, admite dúvida quanto a permanecer no PSDB: “Se não apresentar um projeto para o país, eu e o Emanuel [Fernandes] podemos sair do PSDB”, disse ele.

Cury também falou sobre construir uma “primeira via” na política nacional para além do petismo e do bolsonarismo, de formar novos quadros e da possibilidade de disputar novamente a Prefeitura de São José dos Campos. Confira a entrevista na íntegra.

Que avaliação o sr. faz dos seus dois mandatos como deputado federal?

Primeiro a questão conjuntural de pegar dois períodos difíceis, mas fiquei muito feliz com meu trabalho. As duas metas que tinha estipulado consegui cumprir. Primeiro que era ajudar a região, e ajudei bastante, entidades e cidades, de um jeito bastante inovador e forte. E procurei votar sempre de acordo com a minha consciência, àquilo com que me comprometi com os eleitores, que votaram em mim. Sempre defendi a redução da carga tributária, um Estado mais eficiente, pautas anticorrupção e pautas da educação. Saio satisfeito.

Como sai dessa experiência política?

É bem diferente ser prefeito e deputado. Sabia disso e fui preparado. Como prefeito, você é pai de todos, tem obrigação de representar todos e até quem não o elegeu. Como deputado, não.  São 513 e cada deputado defende as teses e valores dos eleitores que o elegeram, e eu fiz isso como deputado. Para mim foi tranquilo porque estava preparado para isso.

O que precisa mudar na política brasileira?

As pesquisas mostram que, acabou a eleição, o eleitor já está descontente com o parlamento. A população não confia nem em quem ela votou. Nosso sistema político-partidário está deteriorado, mas é muito difícil fazer a reforma, como o voto distrital, que na verdade ficaria mais fácil para cobrar o deputado, porque nos últimos anos muitas pessoas foram eleitas pela internet. É difícil que essas pessoas votem pela reforma, porque elas não seriam eleitas se fossem confrontadas no debate pelo eleitor, porque só aparecem na rede social e só conseguem se eleger dessa forma, e não vão mudar o sistema. Infelizmente, vamos ter que esperar outro momento para fazer a reforma política.

Por que acha que não conseguiu se reeleger?

Na região, nenhum dos três campeões de voto conseguiu chegar na minha frente. Guilherme Boulos, Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli tiveram menos votos do que eu. O que há é uma mega pulverização dos votos, com muita gente vindo pela internet. Essa pulverização dificulta para todos, mas acabei tendo votação no meu partido maior do que três ex-governadores, Aécio Neves, José Serra e Beto Richa. Sou o deputado não eleito mais votado no meu partido no Brasil. Minha votação em São José e na região cresceram, mas não pude fazer campanha em São Paulo.  Com a saída do pessoal daqui para o PSD, tive que concentrar a campanha na região, e acabei perdendo votos. Isso faz parte da regra do jogo, não posso reclamar.

Pode assumir?

Sou suplente e estou como escoteiro: sempre alerta. Não posso assumir compromisso com ninguém, porque se for chamado, tenho que assumir. Por outro lado, não tenho salário a partir de fevereiro. Tenho que ficar de prontidão e próximo da política. Daqui a dois anos a chance é maior porque muitos deputados serão candidatos a prefeito, mas nos próximos meses a chance é menor de assumir. Ainda assim, tenho que ficar de prontidão. É quem nem reserva de time, tem que estar treinando, aquecido e preparado para entrar a qualquer momento.

O que vai fazer da vida em termos de trabalho?

Era empresário e com essa questão política, tenho que ficar mais perto da política de Brasília. Se não fosse suplente, poderia ficar mais próximo da política regional. Tenho algumas opções. Algumas já descartei diante dessa situação de ficar de prontidão. Até o final de fevereiro vou decidir o que fazer. Vou continuar fazendo política, principalmente ajudando a formar mais gente na política.

Há chance de sair da região?

Não, sempre morei aqui. O máximo que pode acontecer é assumir o mandato e voltar a Brasília. Não há a possibilidade de deixar de morar aqui. Posso trabalhar fora, mas sem deixar de morar em São José.

Formar novas lideranças é um com o Emanuel Fernandes?

É, a gente já estava pensando nesse projeto independente do meu resultado eleitoral. Tínhamos combinado antes da eleição de fazer isso, e agora estou com mais tempo. Vamos fazer alguma coisa.

Como será?

Estamos pensando em encontros presenciais, mas vamos desenhar isso ainda. O conteúdo já está pronto, mas ainda não o formato.

Formar lideranças é fundamental para o futuro da região?

A característica do nosso grupo formado em 1990 é a formação de quadros. Muita gente da sociedade veio para a política e isso ajudou muito a cidade e a região, porque esse discurso e essa forma acabou irradiando para outras cidades. Foi uma escola política. O fato de eu ter assumido a prefeitura e depois o mandato de deputado, houve interrupção nesse trabalho. E achamos que, principalmente agora, em que parte da população está desesperançosa e muito polarizado, a gente acha que é necessário retomar isso. Há um campo enorme. Há muita gente querendo participar da política e se sentindo desorientada, e vamos começar a orientar essas pessoas.

Vai continuar no PSDB?

Primeiro que sou obrigado a ficar no PSDB. Como sou suplente, se trocar de partido e for chamado, perco o mandato. Mas vai depender muito do que o PSDB tiver como projeto. Se não apresentar um projeto para o país, em que eu e o Emanuel não tivermos segurança, a gente pode sair do PSDB. Agora o jogo está jogado, e seria para os próximos anos.

Tem espaço para uma proposta inovadora, uma proposta nova. Vamos aguardar porque o partido está passando por mudanças, o Eduardo Leite assumiu a presidência, há novas lideranças e uma nova geração está assumindo. Estamos confiantes que tenha uma proposta do PSDB, e não só. Torcemos para que outros partidos também tenham, porque hoje só há o petismo e o bolsonarismo e não existe uma proposta clara de nenhum outro partido médio e grande. Acho que há um campo grande e espero que mais partidos façam o que esperamos que o PSDB faça.

A terceira via?

Não é a terceira via. Tem que ser a primeira via. O Bolsonaro cometeu muitos erros e o PT a gente conhece. Não há nada novo aí. Tem que haver alguma novidade, uma proposta inovadora. Está faltando uma proposta nova, que eu e o Emanuel Fernandes defendemos.

Pode disputar a prefeitura de São José em 2024?

Não faz parte dos meus planos. Minha vida pessoal não está preparada para isso e queria ser deputado. Agora, nunca direi que não serei candidato a alguma coisa. Não posso falar isso, porque não sei o que vai acontecer. Mas para ser candidato a prefeito teria que ter uma situação muito grave, uma condição de muito necessidade, mas não é o que quero nesse momento.

O PSD quer tomar o lugar do PSDB?

Não sei se o Gilberto Kassab quer tomar o lugar do PSDB, mas eles estão tentando montar um projeto e estão começando. É bom que todo partido tenha essa ambição e faço votos que eles montem um bom projeto. Trouxeram quadros e estão tentando montar um projeto de um partido estruturado e ideológico. Hoje não há partido que tenha isso. É importante para o Brasil ter opções.

Como vê o atual momento político da região com o vice-governador e o vice-presidente sendo daqui?

É obvio que existe expectativa positiva de que tanto o [Geraldo] Alckmin quanto o Felicio [Ramuth] possam fazer algo pela nossa região. São pessoas experientes, gestores validados e isso é uma coisa boa para o Vale.

Como vê o momento político do país após os ataques?

Isso é rescaldo dessa polarização. Muito triste o que aconteceu dia 8 de janeiro, mas não se deve confundir com a grande maioria da população que rejeita e desconfia do PT. Tem que respeitar essas pessoas, que não entendem porque o Lula e o PT não pagaram pelos crimes na gestão. Muita gente considera que ele não tem legitimidade para ser presidente e não podemos confundir com essas pessoas que quebraram. Não pode haver essa destruição. Não se pode passar dos limites e fazer coisas ilegais, mas isso é rescaldo dessa polarização. Um passa o sinal vermelho e o outro que avançar também.

Vai continuar atuante nas redes sociais?

As redes sociais vieram para ficar na minha vida. Antes era um pouco travado, por uma questão pessoal e por causa do momento político. Mas agora estou bem livre e vou usar as redes sociais com mais liberdades. Tenho experiência do que está acontecendo em Brasília, conheço os picaretas e quem é be intencionado e pode ajudar e oreintar as pessoas que elas devem seguir e os caminhos que não devem seguir.

Podemos esperar um podcast do Cury e do Emanuel?

Boa ideia. Vou sugerir isso para ele (risos).

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4 COMENTÁRIOS

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  • Joaquim pereira
    11/02/2023
    Como prefeito péssimo, como deputado não fez um nada para a cidade e região e ainda acha que deve ficar mamando na teta cheia, chega de inganção o povo não é mais bobo.
  • Guilherme
    09/02/2023
    De promessas lá em Aparecida está cheio, traga resultados, são mais importante que discurso ou publicidade. Faça projetos em Educação Básica, forme crianças melhores, para em um futuro existir pessoas mais consciente e menos polarizados politicamente, não importa sua bandeira e sim que traz de melhorias ao povo.
  • Donni
    04/02/2023
    Votou contra a pec dos seiscentos reais , ainda bem que perdeu a eleição, Bolsonarista arrependido.
  • Reginaldo Rodrigues
    04/02/2023
    Fico imaginado como nossa vida vai mudar com essa possível notícia... mamam na tela há anos e não fizeram nada...então não vao fazer falta em qualquer sigla