A cada três dias, uma pessoa se suicida no Vale do Paraíba. Em 1980, era uma a cada 10 dias. O aumento das mortes serve de alerta de que o suicídio tornou-se um problema de saúde pública e que deve ser tratado sem tabu.
Na RMVale, a taxa de mortalidade por suicídio aumentou 40% entre 1980 e 2017, de acordo com levantamento da Fundação Seade. Não há dados mais atualizados na plataforma do órgão estadual.
A taxa passou de 3,21 vítimas de suicídio por 100 mil habitantes em 1980 para 4,49 em 2017. O crescimento está na contramão da média estadual, que caiu nesse período: 4,49 para 4,28, uma redução de 4,6%.
No Vale, o número de óbitos por suicídio cresceu quase três vezes acima do percentual do estado de São Paulo. As 39 mortes por suicídio em 1980 na região saltaram para 109 em 2017, um acréscimo de 180%. No Estado, os óbitos pularam de 1.121 para 1.868 no mesmo período, aumento de 66%.
Percentualmente, o aumento dos suicídios foi maior do que o crescimento da população. Em 1980, o Vale contava com 1,2 milhão de moradores, que passaram a 2,4 milhões em 2017, alta de 100%.
“Precisamos entender os fenômenos relacionados ao aumento da taxa de suicídio para atuar de forma mais efetiva”, disse o médico Quirino Cordeiro Junior, ex-coordenador da Saúde Mental do Ministério da Saúde e especialista no assunto.
BRASIL
Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, divulgado em julho do ano passado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelam que o número de suicídios no Brasil em 2020 foi de 12.895, com variação de apenas 0,4% em relação a 2019, quando foram registrados 12.745 casos.
Os estados que apresentaram maior número, repetindo o ano anterior, foram São Paulo, Minas Gerais e Porto Alegre. A tendência no país é de alta: em 2012, foram 6.905 casos.
REDES SOCIAIS
Considerado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) a terceira causa de morte entre adolescentes, o suicídio de jovens entre 12 a 18 anos é uma realidade em crescimento no Brasil.
Neste cenário, as redes sociais assumem cada vez mais protagonismo e acabam influenciando diretamente o adolescente a tomar atitudes extremas, de acordo com a psicóloga do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, Marina Arnoni Balieiro.
Segundo ela, os mais diversos tipos de conteúdos, hoje disponíveis na internet, também impulsionam o comportamento.
“Os jovens têm acesso muito maior à internet e usam como um meio de comunicação. Se antes havia o bullying na escola e a pressão social, hoje você tem tudo isso dentro das redes sociais, que muitas vezes os pais não conseguem identificar”, disse a especialista.
Por isso, disse a médica, é importante que os pais fiquem atentos aos sinais e não menosprezem qualquer tipo de manifestação do adolescente.
“O jovem já tem uma tendência natural a se isolar, então às vezes as pessoas falam que isso é normal, coisa de adolescente. Mas não é. Muitas situações podem estar acontecendo, perturbando seu filho de uma maneira forte e não sabemos identificá-las", afirmou Marina.
Até mesmo as conversas descontraídas devem ser observadas. A psicóloga disse que os indícios podem ser detectados até mesmo em momentos mais tranquilos. "Quando um adolescente fala brincando que não aguenta mais e deseja se matar, é preciso entender porquê está se expressando assim. Não é comum você falar que quer se matar”.
Como forma de ajuda, a psicóloga esclarece que nem sempre a conversa consegue resolver, e é preciso procurar ajuda especializada. "A família tem que tentar conversar e encontrar alternativas, mas às vezes é preciso encaminhar para a terapia, que será um momento do adolescente encontrar um espaço e explicar o que está sentido efetivamente”.
Combate ao Suicídio: O CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. O telefone é 188 e o site é o www.cvv.org.br.
Leia também: Hospital do CVV em São José atende em média 150 pessoas com ideação suicida por mês
Leia também: Saúde mental: o passo a passo para atendimento psicológico na rede pública de São José