Brasil, 1989.
Em uma televisão preta e branca, uma surrada espécie de janela via UHF/VHF de marca Telefunken, eu assistia da sala da minha casa, curioso, o mundo enfrentar uma era de transformações. Um período de ruptura.
Nos telejornais, a história fazia parte da programação.
Por aquela janela, com olhos de menino, assisti a queda do Muro de Berlin e o final da Guerra Fria, respectivamente em 9 de novembro e 3 de dezembro.
São dias que duram até hoje.
Assisti também o Massacre da Praça Celestial, na China, naquele 15 de abril, quando a humanidade se comoveu com a cena de um manifestante anônimo e pacífico diante de um tanque.
Na tela do cinema, a ‘Sociedade dos Poetas Mortos’ era um sucesso, dando vida à poesia da sétima arte. Lembro-me ainda que, junto a meus irmãos e primos, adorava a novela ‘Que rei sou eu?’.
Já na vida real, longe do mundo da teledramaturgia, a monarquia era só uma matéria nos livros de História do Brasil, país que vivia a expectativa da primeira eleição direta desde 1960, depois de uma ditadura que torturou a democracia entre 1964 e 1985.
Eu tinha 8 anos e a eleição presidencial de 1989, de certa forma, foi também a minha primeira cobertura jornalística.
Em alguma disciplina escolar, é provável que Estudos Sociais, eu recebi a tarefa de fazer um trabalho sobre democracia. Decidi, então, deixar para trás a janela televisiva da minha casa e caminhei pela Taubaté da minha infância, indo de diretório em diretório.
Nos fragmentos da memória, só me recordo de ter ganhado adesivos, santinhos, bonés, panfletos aqui e acolá, uma ou duas camisetas de candidatos. Não tenho a menor ideia como ficou o trabalho, não compreendia nada daquilo, mas ali tive o meu primeiro encontro com a democracia.
Dia 8 de janeiro deste ano, naquela mesma sala de outros tempos, eu assistia estarrecido, agora em uma janela maior, a cores e via satélite, em tempo real, a tentativa de um golpe de Estado em Brasília, com a invasão dos Três Poderes da República, inflamada por um terraplanismo ideológico.
Naquela tarde, enquanto o adulto que sou trabalhava, o menino que fui via a TV e pensava: ‘nossa, nós ainda precisamos aprender muito sobre democracia’.