INVESTIGAÇÃO

'O Ateliê': acusado de liderar seita, artista fez história com obras em São José

Por Thais Perez | São José dos Campos
| Tempo de leitura: 4 min
OVALE
Fabiana Reis Santos
Rubens chama os alunos de 'discípulos'
Rubens chama os alunos de 'discípulos'

O artista Rubens Espírito Santo, também conhecido como RES, acusado por alunos de violência sexual e física, tem um longo histórico de envolvimento na comunidade artística de São José dos Campos. A Polícia Civil de São Paulo recebeu denúncias sobre os abusos que teriam ocorrido em sua escola de arte, que fica na capital paulista, e abriu um inquérito para investigar o caso. Rubens nega as acusações, mas admite que houve "excessos" em seu método de ensino, afirmando, porém, que todas as ações com seus alunos foram consentidas.

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O caso de Rubens ganhou notoriedade pelas denúncias de ex-alunos feitas no podcast "O Ateliê", do jornalista Chico Felitti, autor da também série em áudio "A Mulher da Casa Abandonada", que fez sucesso no ano passado. Segundo a Folha de S. Paulo, Rubens é acusado por mais de 20 ex-alunos de promover exploração financeira e violência física, sexual e psicológica em seu curso.

Em sua autobiografia, publicada em seu próprio site, Rubens afirma que nasceu em 29 de agosto na Maternidade Nedy Dellias Monteiro em São José dos Campos, contudo, não há maternidade com esse nome da cidade. Ele também afirma ser filho de uma feirante que também fazia bicos como agiota em São José e afirma ter estudado na Escola Estadual José Mariotto Ferreira Major.

Ele também afirma ter tido um ateliê de artes na Rua Névio Baracho, em São José. Diz, em sua biografia, que foi professor do artista Egídio Rossi, natural de Caçapava. Em 1995, Rubens fez uma exposição individual em uma galeria da Unitau (Universidade de Taubaté. Já em 1997, fez uma instalação performática no Sesc de São José dos Campos, onde, na recepção, é possível ver um grande quadro, com mais de um metro e meio de altura, atribuído a ele.

Em 1999, teve gravuras duas expostas na Galeria de Arte da Univap (Universidade do Vale do Paraíba), em São José, na mostra "Gravadores Joseenses". No ano de 2006, também teve uma obra exposta em Campos do Jordão, na Casa de Xilogravura, ao lado de outros artistas joseenses. Rubens também ministrou aulas de arte em São José.

HISTÓRICO.
Rubens fundou o Atelier do Centro por volta do ano 2000. Ele declara em seu site que se dedica à gestão e logística deste espaço e que não entende mais o fazer artístico como entendia quando começou. "Arte se dilatou, seu fazer e seu pensar se dilataram tanto, não se sabe nem mais a que poderia se referir como arte", afirma.

Ele é criador de um método que é passado para os alunos que passam pela sua escola, conhecido como "Methodo RES". Ele afirma que seu ateliê prega o “descarrego” de tudo o que está na mente, e "pretende munir o sujeito de recursos e condições para fazer este descarrego, ou seja, lidar com a insolvência de nosso mundo".

CASO.

Uma das denunciantes no podcast, Mirela Cabral, afirma que foi chamada de "puta burra" e outras ofensas. Ela também afirma que, passadas algumas semanas, enquanto ela estava sentada em uma roda de conversa, Rubens puxou seu cabelo até que ela caísse ao chão. Segundo ela, cerca de dez 'discípulos' viram a cena em silêncio.

Conforme publicado no jornal Folha de S. Paulo, outra artista, que passou anos na escola, afirma que presenciou Rubens esquentar um estilete no fogo e ameaçar marcar a pele de um discípulo que o havia questionado. O podcast terá um episódio por semana e pode ser ouvido no Spotify.

O fundador do Ateliê do Centro afirma que não cometeu os crimes descritos pelos denunciantes. Em uma carta de resposta, Rubens afirma que o Atelier do Centro é uma escola que oferece cursos livres de arte, filosofia, programas de acompanhamento, de formação e pesquisa continuada.

"No Atelier do Centro nós adotamos, de fato, um método bastante rigoroso. Nós trabalhamos com pequenos grupos de artistas, arquitetos, cineastas e outros profissionais de áreas criativas que têm interesse em experiências radicais no campo das artes." diz a carta. "Neste contexto de trabalho, é natural e proposital que surjam atritos e situações de confronto, como elementos provocadores. A convivência intensa e radical que propomos pode resultar em excessos, que reconheço, podem ter sido cometidos nas relações com ex-alunos, a quem mais uma vez peço desculpas, caso tenham se sentido negativamente afetados. Respeito as críticas e a dor de cada um".
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Para estes alunos, eu peço minhas sinceras desculpas pelos eventuais excessos, mesmo que consentidos, que tenham ocorrido em nossa relação, que em grande parte foi marcada por afeto, cumplicidade, aprendizado mútuo e por longos períodos de convivência", completa.

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