EDITORIAL

Centrão fica no poder

Após fazer duras críticas na campanha, Lula cede a Lira e dá sinais de que o Centrão vai seguir forte em Brasília

03/12/2022 | Tempo de leitura: 2 min

O ano era 1987. Durante a Assembleia Constituinte, diversos partidos de centro e de direita se uniram para apoiar o então presidente José Sarney e tentar impedir que a redação da nova Constituição tivesse propostas mais progressistas. O objetivo foi alcançado, com a troca de apoios por cargos e benesses. Nascia ali, ainda de forma tímida, um termo muito repetido hoje na política brasileira: o Centrão.

Enquanto aliança supra-partidária, o Centrão voltou a ganhar força em 2014, em meio aos atritos entre a então presidente, Dilma Rousseff, e o deputado Eduardo Cunha, que à época era líder do PMDB (hoje MDB). Chamado originalmente de blocão, o grupo reunia partidos da base governista que estavam descontentes com a petista e foi responsável pela eleição de Cunha para a presidência da Câmara dos Deputados. Posteriormente, o Centrão foi determinante no impeachment de Dilma, que deixou a Presidência em 2016.

A partir daí, o poder e a influência do Centrão só aumentaram. Foi o grupo que impediu -- duas vezes -- que Michel Temer fosse afastado da presidência em meio a denúncias de corrupção. Tudo isso, sempre, por meio de barganhas, que envolviam benesses como distribuição de cargos e liberação de emendas.

Em 2018, Jair Bolsonaro foi eleito com a promessa de que não faria a 'velha política', do 'toma lá, dá cá'. Após tomar posse, o que se viu foi exatamente o contrário. Fragilizado em meio a denúncias de corrupção e suspeitas de crime de responsabilidade -- como nas falhas ocorridas no enfrentamento da pandemia e na ofensiva golpista contra as instituições democráticas --, Bolsonaro praticamente entregou ao Centrão as chaves do Palácio do Planalto. Ou, pelo menos, as chaves do cofre, com o Orçamento Secreto.

Esse ano, Lula foi outro a passar a campanha fazendo críticas ao Centrão. Prometeu acabar com o Orçamento Secreto. Eleito, o petista mudou o discurso e já se aproxima do grupo, declarando apoio à reeleição de Arthur Lira para a presidência da Câmara dos Deputados e suspendendo os ataques ao Orçamento Secreto - tudo sob a justificativa da governabilidade.

Com os 'fantasmas' do Mensalão e do Petrolão ainda na lembrança recente do eleitor brasileiro, em episódios traumáticos para a política brasileira, Lula e o PT precisam agora, em um cenário novo e desafiafor, apresentar uma alternativa -- dentro da lei, sem recorrer a práticas corrupatas -- para que o poder e o país não sejam reféns desse fisiologismo de Brasília..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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