O papel das estratégias ESG e sustentabilidade no sucesso das empresas

Por Fabiano Porto | @f_porto
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Desde a revolução industrial, o mundo empresarial compreende o desenvolvimento e o progresso pela produção bruta (PIB) e a busca pelo crescimento contínuo ano a ano. Vender mais, produzir mais, lucrar mais. Essa sempre foi a regra dos últimos 250 anos. Nenhum pensador econômico que ajudou a moldar as bases do capitalismo atual colocou a natureza como ponto de inflexão. Não houve prenúncios nem alertas sobre os riscos de empresas e indústrias serem orientadas apenas ao lucro por tanto tempo, desconsiderando o cuidado socioambiental em seus processos produtivos e relações de mercado. Como consequência, presenciamos hoje alterações recordes na estabilidade dos ciclos naturais e dos parâmetros climáticos do planeta, gerando prejuízos imensuráveis econômicos, ambientais e sociais.

Mas esta realidade está mudando. Não apenas por consciência, mas por necessidade. “Não se trata de política. Não é uma agenda social ou ideológica. É o capitalismo, conduzido por relacionamentos mutuamente benéficos entre você e os funcionários, clientes, fornecedores e comunidades nos quais sua empresa depende para prosperar. Esse é o poder do capitalismo”, ressalta Larry Fink CEO da Black Rock, maior gestora de investimentos do mundo com mais de U$ 10 trilhões em ativos. De acordo com relatório 2020 de Gerenciamento de Riscos Globais (GRIS) houve relevante crescimento de aportes financeiros em investimentos sustentáveis no mundo, atingindo US$ 35,3 trilhões nos 5 principais mercados – Austrália, Canadá, Europa, Estados Unidos e Japão. O volume representa 36% dos ativos financeiros globais. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) cerca de 48% dos investidores brasileiros já possuem ao menos uma métrica estabelecida para investimento em ESG.

Precisamos reaprender a empreender. O mundo de hoje exige novos comportamentos e estratégias aos empreendedores que não foram previstos pelos que escreveram os nossos livros de administração. O comportamento de consumo da sociedade exigindo cada vez mais responsabilidade socioambiental das empresas e as inúmeras oportunidades do mercado de sustentabilidade conduzirão as empresas e indústrias à adoção de políticas ESG. Uma iniciativa que se tornará cada dia mais essencial para empresas e indústrias que desejam obter melhores resultados.

Mas qual o papel da sustentabilidade e das políticas ESG para o sucesso das empresas? Listo abaixo sete pontos principais que demonstram a relevância desta agenda para o êxito empresarial.

1.Redução de Custo e Melhoria Operacional                                   

Este é o primeiro e mais clássico motivo das empresas buscarem práticas sustentáveis. São muitas possibilidades, desde as mais diretas como a redução da conta de luz com instalação de lâmpadas LED e painéis solares, a redução do uso de papel e custos com manutenção de impressoras ou até mais indiretas como revisão dos processos produtivos para redução de etapas e/ou insumos ou a instalação de sistemas de tratamento e captação própria de água da chuva. Durante a pandemia muitas empresas adotaram regimes de trabalho remoto, ação que também contribui muito para a redução de custos da empresa, podendo até dispensar ou reduzir muito os custos mensais com aluguel de imóveis para sede da empresa. Até mesmo a simples adoção de canecas ao invés de copos plásticos para funcionários já possibilitam redução de custos para empresa.

2.Melhoria de Clima Organizacional e Retenção de Talentos

De acordo com estudo global publicado em abril de 2022 da Randstad Workmonitor, 68% dos entrevistados entre 18 e 34 anos, os chamados Millennials e a geração Z, afirmam que felicidade no trabalho é um fator fundamental em suas decisões profissionais. Ainda de acordo com o estudo, 47% dos trabalhadores da América Latina deixaram seus empregos por não se encaixarem com seus estilos de vida, índice bem maior do que a média global.

Para a contratação, a agenda ESG também é um tema relevante. Segundo 16o relatório anual da recrutadora Robert Half, 83% dos profissionais desempregados entrevistados apontam como fator importante para aceitar uma oferta de trabalho é a empresa ter boas iniciativas ESG. A importância do tema também é percebida pelos recrutadores, onde 71% acreditam que as empresas já perceberam que as práticas ESG podem ser um fator de competitividade na atração e retenção de talentos.

Inclua a sua empresa na era ESG quanto antes. Não fazer parte da agenda ESG é andar na direção oposta dos desejos e necessidades das pessoas e do mundo”, ressalta Fernando Mantovani, Diretor Geral da recrutadora Robert Half America do Sul

3.Aumento da confiança de Investidores

Os investidores estão cada dia mais exigentes e vigilantes em relação as práticas ESG das empresas. De acordo com pesquisa Global com Investidores 2021 da PwC sobre ESG realizada com 325 investidores, 79% consideram os riscos e as oportunidades ESG um fator importante na decisão de investimento, e 49% disseram que cancelaram investimento se a empresa não tomasse ações para tratar as questões ESG. Este padrão de respostas se repente em diferentes estudos pelo mundo.

No Brasil, pesquisa de 2022 realizada pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e O IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), demonstra que os investidores brasileiros estão ampliando suas demandas por informações ESG. De acordo estudo, 93,9% disseram ter algum tipo de conhecimento sobre a pauta social e ambiental. E mais, esse mercado deve se tornar regra a partir de 2023. A regra já está posta, na rua, e a gente vai ter um conjunto de informações ASG disponível para o mercado no início de 2023”, disse Bruno Barbosa de Luna, chefe da Assessoria de Análise Econômica e Gestão de Riscos da CVM.

Para empresas que desejam melhorar sua relação com investidores a adoção de políticas ESG tem sido recomendada e apontada em estudos e relatórios anuais. Os investidores deixam claro que esperam que o ESG seja parte integrante da estratégia corporativa. Eles também entendem que há um custo para tratar de questões ESG e acham que as empresas devem fazer esse gasto, mesmo que isso signifique um impacto nos lucros de curto prazo”, ressalta Nadja Picard, Líder Global de Relatórios, PwC Alemanha

4. Reputação e Fidelização de Novos Clientes

O ganho de reputação é um dos principais objetivos das lideranças empresariais ao adotar políticas EESG. De acordo com a pesquisa "Sustentabilidade na Agenda das Lideranças da América Latina" promovida pela SAP com 410 líderes regionais. No Brasil, reputação da marca é a maior prioridade das lideranças ao adotar práticas ESG, com 63% das respostas.

A crescente preocupação da população sobre temas ambientais e sociais, especialmente nas novas gerações, demonstra que a adoção de práticas ESG pode auxiliar a empresa na melhoria de sua reputação, refletindo na conquista e fidelização de novos clientes. De acordo com estudo “Panorama da Fidelização no Brasil 2022” realizado pela TSI com mais de 1.000 consumidores do Brasil, 41% estão dispostos a abandonar uma marca favorita se essa não cumprir o que anuncia em seu discurso. Este número sobe para 46% se considerar apenas na classe C, o que demostra que a preocupação com as ações ESG não são apenas uma demanda das classes com maior poder aquisitivo.

5. Acesso a Novos Mercados Nacionais e Internacionais                                                  

Alguns mercados só podem ser acessados por empresas que possuem políticas socioambientais definidas. Diversos países e empresas multinacionais exigem de seus fornecedores e uma série de requisitos para a contratação. Estes requisitos podem ser certificações, comprovações ou relatórios de sustentabilidade técnicos que exige preparo e engajamento da empresa. No Brasil existe uma certificação ISO direcionada para a gestão ambiental, a ISSO 14001, que permite acesso a novos mercados além de possibilitar melhoria de processos e frequentemente redução de custos. Na área de Comércio Exterior, os benefícios de uma política ESG clara são muitos, já que observa-se um aumento da exigência com questões ambientais dos mercados internacionais, especialmente o europeu e norte-americano.

6.Acesso a Crédito e Fundos de Investimento

A adoção de políticas ESG é requisito para número crescente de fundos de investimento que estão cada dia mais preocupados com a reputação e rentabilidade de seus ativos. Os chamados “capitais de impacto”, que representam os investimentos direcionado apenas para empresas com resultados socioambientais, estão crescendo. De acordo com o relatório Gerenciamento de Riscos Globais – 2020 (GRIS), houve um expressivo crescimento de 55% nos investimentos sustentáveis globais entre 2016 e 2020, atingindo a cifra de US$ 35,3 trilhões nos cinco principais mercados do mundo, Austrália, Canadá, Europa, Estados Unidos e Japão. Apenas na Europa o crescimento foi de 340% de 2015 a 2020, Segundo dados de pesquisa da Morningstar e EFAMA publicados em 2020.

A pesquisa Schroders Global Investor Study 2022 realizada pela consultoria Schroders com mais de 23.000 pessoas que investem em 33 locais do mundo, concluiu que no Brasil, 59% do investidores entrevistados acreditam que investimentos sustentáveis são a única forma de garantir rentabilidade no longo prazo. O foco na entrega de retornos financeiros ainda é a maior prioridade. Porém, mais da metade (56%) dos investidores globalmente buscam atualmente um fundo de investimento que alie retorno financeiro com resultados em sustentabilidade.

E em breve o mercado de investimentos sustentáveis começará a ser regulado, o que aumentará ainda mais as oportunidades para empresas comprometidas com a agenda ESG. É esperado que até início de 2023, a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) anuncie novas normas estabelecendo regras claras para classificar os fundos como de “Investimento Sustentável” ou com a observação de que “integra questões ESG”. Isso será um marco na indústria de fundos”, ressalta Daniel Celano, membro do Grupo Consultivo de Sustentabilidade da Anbima.

7. Maior rentabilidade a médio/longo prazo

Empresas que adotam políticas de sustentabilidade possuem tendência de obterem melhores resultados a médio e longo prazo. De acordo com o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3), que é um indicador do desempenho médio de empresas com reconhecida atuação em ESG, as empresas cresceram 166,7% nos últimos 15 anos, ante 147,6% em comparação com os índices de empresas sem aspectos de sustentabilidade. Um levantamento recente do Deutsche Bank demonstrou que de 2018 até abril de 2021 os fundos relacionados a sustentabilidade apresentaram um retorno médio anual de 18,2%, superando a média de 15,5% de fundos sem relação com temas ESG no mesmo período.

Fenômeno parecido ocorre quando olhamos para o ICO2 (Índice Carbono Eficiente, da B3) ou o IGCT (de governança, também da B3). Ou seja: empresas socialmente responsáveis têm valorização semelhante ou superior à média do mercado, mas menos volatilidade, e, principalmente, menos riscos visíveis aos negócios em relação a reputação e segurança jurídica e conquista de novos mercados consumidores.

Todos estes pontos evidenciam que existem oportunidades reais para empresas ao adotarem práticas ESG. Não se trata de ideologia ou apenas consciência ambiental, mas sim ações orientadas ao sucesso do próprio negócio. Uma missão coletiva por uma sociedade mais sustentável, próspera e resiliente, onde as empresas são chamadas para assumir o seu papel como protagonista e também como a maior beneficiada desta agenda.

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