Azul. Conhecida em todo o mundo como a ‘Amarelinha’, a camisa da Seleção Brasileira começou a escrever a sua história de conquistas e glórias com outra cor primária, anos e anos atrás, em uma época ainda em preto e branco. Corria o ano de 1958, Copa do Mundo na Suécia. O Brasil -- que oito anos antes, vestindo camisas brancas e calções azuis, havia sido derrotado pelo Uruguai no Maracanã, por 2 a 1, em uma peleja que levou o país às lágrimas e fundou a preconceituosa tese do ‘complexo de vira-lata’, expressão inventada pelo tricolor Nelson Rodrigues (1912-1980) -- estava de volta à decisão do Mundial, e desta vez contra os suecos.
O Brasil iria amarelar?
Pelo contrário, quem amarelou foi o time da casa e, por isso, os craques brasileiros se desesperaram. Calma, OVALE explica.
Após o Maracanaço, em 1950, a Seleção deu um cartão vermelho para o uniforme branco e passou a usar camisas amarelas, para se livrar da ‘zica’. Quando a Suécia foi sorteada para disputar a decisão com o seu uniforme amarelo, o elenco do Brasil logo sentiu que era um mau presságio.
Psicologicamente, a Seleção já estava perdendo, antes da partida começar. Foi então que Paulo Machado de Carvalho, que hoje dá nome ao Pacaembu e foi chefão da delegação brasileira, teve uma ideia divina -- literalmente.
Ele foi até uma loja e comprou camisas azuis, que foram bordadas com o brasão da CBD no peito e os números nas costas. Aos jogadores, Paulo Machado disse que estava radiante, muito feliz com o sorteio, pois agora a Seleção jogaria com a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida.
Com muita fé no pé e na camisa azul, o Brasil derrotou a Suécia -- por 5 a 2, com um show de Pelé e Garrincha -- e, no dia 29 de junho, em pleno no Estádio Råsunda, se sagrou campeão do mundo pela primeira vez. Uma festa que teve a fé no manto da Padroeira, símbolo da união nacional.
De lá para cá, muita bola rolou, muitos craques surgiram, muitas vitórias foram conquistadas, nós acrescentamos outras quatro estrelas à camisa amarela -- a mais emblemática da história.
É verdade, a camisa também foi o uniforme de derrotas amargas, como o 7 a 1, em casa, para a Alemanha, na semifinal da Copa de 2014, disputada aqui no Brasil.
A amarelinha acompanhou o torcedor ainda em fases dramáticas da história brasileira, quando a democracia travava uma partida duríssima, desleal, sombria e violenta contra a Ditadura.
Em Brasília, após uma espécie de ‘MaracanAço’ ético na ‘Casa do Povo’, com uma pra lá de indigesta sopa de letrinhas políticas -- PT, PSDB, PL, MDB, PP, PSD e outras dezenas de partidos -- em escândalos de corrupção nos governos Lula, Dilma e Temer, a democracia brasileira quase assistiu a um 7 a 1, com a ascensão de Jair Bolsonaro, que flertou reiteradamente com um golpe de Estado.
Hoje, após anos de uma disputa fratricida, a camisa da Seleção -- a exemplo de outros símbolos do país -- virou uniforme de uma só ideologia. Espera-se que, com a Copa, o Brasil entenda: na democracia, o respeito a todas as cores é a maior das conquistas.