CRIME

Mistério: 10 anos da morte do Cabo Bruno, o ‘Charles Bronson brasileiro’

Por Da redação | São José dos Campos
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Reprodução
Cabo Bruno foi condenado a mais de 100 anos de prisão por comandar um esquadrão da morte
Cabo Bruno foi condenado a mais de 100 anos de prisão por comandar um esquadrão da morte

Um dos maiores justiceiros do país, o ex-policial militar Florisvaldo de Oliveira, conhecido como ‘Cabo Bruno’, foi assassinado aos 53 anos em Pindamonhangaba, em 26 de setembro de 2012.

Na ocasião, ele voltava para casa após participar de um culto na cidade de Aparecida. O crime ocorreu às 23h45, no bairro Quadra Coberta. Até hoje, ninguém foi preso pelo crime.

Cabo Bruno estava em liberdade há 35 dias, depois de cumprir 27 anos de prisão. Ele foi condenado a 105 anos de prisão por chefiar um esquadrão da morte que atuava na periferia de São Paulo na década de 1980.

Agia como um verdadeiro ‘Charles Bronson brasileiro’, em referência ao personagem icônico da série de filmes ‘Desejo de Matar’, que começou em de 1974. Neles, Bronson resolve fazer justiça com as próprias mãos e assume o papel de um matador vingativo.

Segundo a denúncia do Ministério Público, o grupo comandado por Cabo Bruno foi responsável por mais de 50 assassinatos. O ex-policial foi condenado por ao menos 20 deles. Ele matava por encomenda na periferia paulistana, recebendo dinheiro de comerciantes para exterminar criminosos em determinadas regiões da capital.

Ao longo dos anos, contudo, a pena foi sendo reduzida de forma progressiva, levando em conta trabalhos e bom comportamento do preso na cadeia. Em 23 de agosto de 2012, ele foi beneficiado pela lei do indulto pleno.

O CRIME

Na época, a Polícia Militar informou que Cabo Bruno voltava para casa, acompanhado de familiares, quando dois homens se aproximaram, um de cada lado da rua. Eles deram cerca de 20 disparos contra o ex-policial, que morreu na hora.

A maior parte dos tiros atingiu o rosto e o abdômen da vítima. Nada foi levado e mais ninguém foi atingido. A perícia constatou que os tiros partiram de pistolas calibre ponto 45 e 380. Tudo indicava para uma execução.

Dez anos se passaram e o caso continua sem conclusão. Quem foram os matadores de Cabo Bruno? Ele morreu sem que a sua família soubesse quem foram os autores do seu homicídio. Até hoje.

O ex-policial cumpriu parte da pena em penitenciárias do Vale do Paraíba, como na famosa Casa de Custódia de Taubaté, berço do PCC (Primeiro Comando da Capital), a mais temida facção do país.

Também na penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, a P2 de Tremembé, onde ficou de 2002 até ser libertado. Na época, os exames criminológicos apontaram bom comportamento do preso, que atuava como pastor na prisão.

Na cadeia, ele virou pintor, pastor e dizia ter redescoberto a vida fora do crime. Mas o crime não o abandonou. O reencontro, em setembro de 2012, de forma trágica e definitiva, segue um mistério uma década depois.

PCC

No ano passado, em depoimento para o portal UOL, o delegado designado para o caso, Vicente Lourenço Lagioto Júnior, que já está aposentado, disse que os criminosos não haviam sido identificados enquanto ele conduziu o inquérito.

Portanto, o assassinato de Cabo Bruno segue impune até hoje. Há suspeita de envolvimento do próprio PCC, pois Cabo Bruno foi policial militar e dizia “odiar bandidos”, mas nada foi comprovado até hoje.

Antes de sair em liberdade, o ex-policial chegou a alegar ter ouvido diversas ameaças de morte de outros presos em Tremembé.

PRISÕES

Cabo Bruno foi preso pela primeira vez em 1983 e levado para o presídio militar Romão Gomes, na capital. Entre 1983 e 1990, o ex-policial militar fugiu três vezes da unidade, sendo uma delas depois de fazer funcionários reféns. Em maio de 1991, foi recapturado pela quarta vez, e nunca mais saiu.

Em junho de 1991, Cabo Bruno foi levado para a Casa de Custódia de Taubaté, onde ficou preso até 1996. Dentro da unidade, o ex-policial permaneceu mais de cinco anos em uma cela isolada, 24 horas por dia longe dos demais presos.

Em 1996, ele foi levado para o Centro de Observação Criminológica, onde ficou até 2002, quando foi transferido para a P2 de Tremembé. Em 2009, passou do pavilhão do regime fechado da P2 para o semiaberto, dentro da mesma unidade, separados apenas por uma muralha.

Fora da cadeia, ele atuava como pastor evangélico, atividade que iniciou quando cumpria pena.

OUTRO LADO

Em nota enviada pela SSP (Secretaria de Estado da Segurança Pública), a Polícia Civil informou que a morte de Florisvaldo de Oliveira, conhecido como “Cabo Bruno”, foi investigada pela Delegacia de Pindamonhangaba com auxílio da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Taubaté.

“Os policiais ouviram pessoas que tiveram contato com Oliveira e que estavam no local quando ele morreu. Além de ter sido realizada perícia no local e exame necroscópico na vítima”, informou a polícia.

Em maio de 2015, o inquérito foi relatado ao Fórum de Pindamonhangaba sem identificação de autoria. A Justiça solicitou novas diligências à DIG, que ouviu novamente alguns presos que tiveram contado direto com Oliveira, não acrescentando nada de novo nas diligências já realizadas. Em janeiro de 2016, os autos foram novamente remetidos à Justiça de Pindamonhangaba.

O caso continua sem solução até os dias de hoje.

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