KELMA JUCÁ

A funcionária novata

Por Kelma Jucá | Jornalista
| Tempo de leitura: 1 min
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A funcionária novata
A funcionária novata

Era bem simpática: a nova funcionária. Estava sempre sorrindo. Para todos, sem qualquer distinção. Era dona de um cumprimento solar, cujo “bom dia” enchia a sala com leveza e gotículas de ânimo. Falante, conversava sobre a alta do dólar, os costumes de sua Terra Natal e física quântica.

Tantos dentes à mostra começaram a chamar atenção no horário do expediente. “Ela tá me dando mole”, comentou um homem casado.

“Não quero você de papo com ela”, disse uma para o namorado que trabalhava no lugar.

“Está só querendo aparecer”, fofocaram.

E ela começou a receber ora cantadas de gente comprometida, ora discursos moralistas do tipo “Veja bem! Eu tenho noiva”. Era com espanto incontido que encarava os dois tipos de situação. “Eu só estava sendo simpática”, ela narrava ao marido.

Não mais que de que repente, ela deixou de sorrir. Sem qualquer motivo ou justificativa prévia – era o que pensavam os colegas.

Estranharam no serviço. Mas, veio um parecer geral. Só podia estar de TPM. E logo ela deixou de ser assunto. E ninguém se deu conta de que ela parou de sorrir.

Passado o tempo, chegou mais uma funcionária. E a nossa colega ficou incumbida de receber a novata e lhe apresentar aos setores. “Essa roupa vai dar o que falar”, previu consigo mesma a agora veterana. Porém, nada lhe disse.

E como alguém que não mais se reconhece na frente do espelho, mas, guarda na memória o rascunho de quem fora um dia, de recepção à novata, lhe entregou um genuíno sorriso de Monalisa.

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