KELMA JUCÁ

O macho que virou gado, pensa que é alfa, mas é um beta

Dormiu homem. Acordou gado. Assim tão rápido que nem sentiu dor. Foi como aquele dente já mole, prestes a cair, quando cai. Por assim dizer, já era esperado. Ninguém estranhou.

Por Kelma Jucá | 08/10/2022 | Tempo de leitura: 2 min
Jornalista

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Gado
Gado

Dormiu homem. Acordou gado. Assim tão rápido que nem sentiu dor. Foi como aquele dente já mole, prestes a cair, quando cai. Por assim dizer, já era esperado. Ninguém estranhou.

Se a esposa ficou aliviada por um lado, pois não teria mais que trocar carícias com animal de caráter tão baixo, ganhou trabalho extra. Passou a ter de recolher os excrementos de um quadrúpede de grande porte pela casa e pela vida afora. Passou a ter o mesmo valor, o que ele soltava pela boca e pelo reto.

Os filhos acostumados a não ter a atenção do pai, que sempre tinha algo mais importante a tratar, fosse no clube do qual era associado e diretor financeiro, fosse no grupo litúrgico da igreja que frequentava, passaram a se sentir mais livres. Na verdade, nunca entenderam o mugido paterno.

Agora os três meninos poderiam decidir eles mesmos como se comportar frente às questões sociais sem ter de seguir necessariamente às ordens virulentas de um machista opressor.

Embora haja exceções, o novo gado se comportava como costumeiramente o fazem o gênero masculino. Na rua, se via como um macho alfa corpulento, balançando o seu coxão mole a qualquer rabo de saia que via pela frente. Era algo naturalizado.

Todos sabiam que ele tinha esposa e filhos. Mas, também fazia parte da natureza dele não resistir a qualquer visão feminina que tivesse todos os dentes, um maço de cabelo arrumado e vestisse a casca da juventude.

Macho alfa se comporta assim, acreditava ele. E como bom cristão, era lícito tecer comentários obscenos com outros machos sobre fêmeas quaisquer desde que a família estivesse por fora do assunto. E se acaso uma mocinha caísse na teia da sua conversa fiada, era para se comemorar. O WhatsApp estava preservado, pois ele deleta todo o histórico do aplicativo por questões de segurança.

 E nem precisa ser macho alfa para tanto. Basta mesmo pensar que o é. O macho alfa legítimo não precisa provar nada para ninguém, nem para os colegas de trabalho – todos machões. O macho beta incorpora das qualidades mais vis de quem ostenta falo para vender a ideia do que ele jamais será.

De músculos flácidos e cérebro atrofiado, o homem que virou gado descobriu que não está sozinho. Quando grita em tom empolado a palavra mito, logo se vê rodeado de gados como ele. Ironia explícita, não sabe que mito é a figura ou representação de algo que só existe na história oral. É ficção. Tipo ele: o macho que virou gado, pensa que é alfa, mas é um b*sta. Digo: um beta.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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