Kelma Jucá

O politiqueiro-mor destes trópicos

Por Kelma Jucá, jornalista | 09/09/2022 | Tempo de leitura: 2 min

Kelma Jucá
Kelma Jucá

É o mais fiel exemplar do politiqueiro: aquele que adentra o mundo da ciência humana das mais antigas, a política, com o intuito único de obter vantagens pessoais. Verborrágico, exagera nas falas cotidianas e nos discursos de gala. Sempre acaba colocando os pés pelas mãos.

É limitado de senso crítico, desbotado das ideias e carente de raciocínio lógico. Vomita suas opiniões machistas, atrasadas e autorreferentes. Distorce a verdade como quem lava uma toalha à beira do rio, dela extraindo o suprassumo da verossimilhança que possa lhe ser útil de acordo com o ponto de vista mais generoso a si.

Hipócrita, demagogo e narcisista juramentado, não se ruboriza ao pedir votos àqueles a quem chama de concidadãos. Com um carisma de baixo calão, consegue atrair os populares simplórios e os letrados que veem nele o reflexo de suas fraquezas de caráter.

Para manter-se no poder, é capaz de se aproximar de gente perigosa com o objetivo firme de continuar a gozar dos benefícios que desfruta, sem que para isso cumpra com o mínimo de suas obrigações. Desconhece qualquer decoro à liturgia do cargo que ocupa.

Usa e abusa da figura feminina a quem encara como ser de categoria inferior, dispensando à mulher o respeito mais ralo e tacanho que um administrador público e eleito pelo povo poderia oferecer. Encara a mulher como mero meio de reprodução e objeto para a própria satisfação sexual.

Ataca o papel da imprensa. Trata o jornalista como vilão de uma narrativa fantasiosa por ele criada. Fruto de uma mente, por certo, doente e cega pela ganância em ditar as regras que mais afaguem o seu umbigo.

Com um comportamento infantilizado e ações aparvoadas, provoca reviravoltas de Montesquieu em seu ataúde. Julgando-se o dono da bola, pensa que pode fazer o gol, apitar o jogo e arbitrar a partida, quando, na verdade, sequer tem histórico de atleta. Dentre as ideias mirabolantes está a de que tem cacife para ordenar e desordenar autoridades do judiciário, do legislativo e, claro, de outros mandatários do executivo que comunguem de pensamentos divergentes.

É claro que me refiro a Odorico Paraguaçu, prefeito de Sucupira, no interior da Bahia, anti-herói da novela “O Bem-Amado”, escrita por Dias Gomes em 1962. Ele é um personagem fictício que encarna o que de mais medonho possa vestir um político. Na vida real, teremos eleições presidenciais no próximo dia 2 de outubro. Acaso o seu candidato guarde alguma simetria com Odorico, sugiro a leitura do livro. A sátira política de Dias Gomes nunca deveria sair do mundo da ficção. Do contrário, a História mostra que o cômico cede lugar à tragédia.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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