Mesmo sendo uma infecção sexualmente transmissível (IST) com prevenção acessível e tratamento eficaz, a sífilis continua em crescimento no Brasil. O cenário chama atenção por atingir diferentes faixas etárias e, de forma ainda mais grave, gestantes, aumentando o risco de transmissão da mãe para o bebê durante a gravidez.
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De acordo com dados do Ministério da Saúde, mais de 810 mil casos de sífilis em gestantes foram registrados entre 2005 e junho de 2025. A maior concentração está na região Sudeste, seguida por Nordeste, Sul, Norte e Centro-Oeste.
Transmissão vertical segue em alta
Em 2024, o país atingiu uma taxa de 35,4 casos por mil nascidos vivos, evidenciando o crescimento da chamada transmissão vertical. Para especialistas, o dado revela falhas persistentes no acompanhamento pré-natal, especialmente na testagem contínua e no tratamento completo.
O infectologista Guilherme Henrique Campos Furtado, do Hospital BP, em São Paulo, explica que resultados baixos ou inconclusivos em exames podem gerar uma falsa sensação de segurança. “Em alguns casos, a interpretação dos testes leva ao adiamento do tratamento, mesmo com infecção ativa”, alerta.
Quando o tratamento existe, mas não chega a todos
Embora o teste rápido e a medicação estejam disponíveis no sistema público de saúde, o controle da sífilis depende de uma cadeia de cuidados que nem sempre se completa. Segundo o coloproctologista Danilo Munhóz, de Brasília, a ausência do tratamento dos parceiros é um dos principais entraves.
“Não basta apenas tratar quem recebeu o diagnóstico. Quando o parceiro não é testado e tratado, a reinfecção acontece e a transmissão continua”, explica o médico.
Sintomas discretos atrasam o diagnóstico
Outro fator que contribui para o avanço da doença é o caráter silencioso da infecção. A lesão inicial costuma ser uma ferida única e indolor, que desaparece espontaneamente. “Isso cria a impressão de que o problema foi resolvido”, diz Munhóz.
Em fases posteriores, podem surgir manchas na pele, febre baixa, mal-estar e aumento dos gânglios, sinais que nem sempre são associados à sífilis.
Jovens e idosos também estão em risco
Mudanças no comportamento sexual ajudam a explicar o aumento dos casos. Entre os jovens, os avanços no tratamento do HIV reduziram o medo das ISTs, levando à queda no uso do preservativo. Já entre os idosos, o aumento da atividade sexual não foi acompanhado pela adoção de medidas preventivas.
“Muitos acreditam que não correm mais risco”, observa Furtado.
Prevenção depende de três pilares básicos
A infectologista Luiza Matos reforça que o controle da sífilis passa por ações simples, mas contínuas: uso de preservativo, testagem regular e tratamento imediato, sempre incluindo os parceiros.
“No caso das gestantes, o teste precisa ser repetido ao longo do pré-natal. Tratar apenas a mulher não é suficiente”, afirma.
Conscientização é chave para conter a doença
Para os especialistas, conter o avanço da sífilis exige campanhas permanentes de informação, ampliação da testagem e reforço da prevenção em todas as fases da vida. A persistência dos casos, segundo eles, revela problemas de acesso e continuidade do cuidado — e não a ausência de solução médica.