O Centro de Engenharia e Automação (CEA) do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) completa 56 anos, uma história de inovação, acessibilidade de tecnologia no campo e suporte aos produtores, principalmente os pequenos e médios. Recentemente, o CEA também adiciona a esta história a resistência, visto que correu risco de perder a área onde funciona e onde nasceram projetos que revolucionaram a agricultura.
Ainda assim, o Estado de São Paulo não bateu o martelo em relação à manutenção da área do CEA, que corre risco de ir a leilão. Segundo a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, há estudos das áreas que eventualmente serão alienadas. Assim que definidas, haverá uma audiência pública para debater junto à comunidade científica a alienação de parte das áreas.
Ainda de acordo com a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, as áreas eventualmente alienadas não comprometerão as atividades de pesquisa, garantindo a continuidade integral da produção científica em São Paulo. Em relação a área citada, estudos estão sendo realizados e não há até o momento, uma definição de planos para a área.
Diretor do CEA e pesquisador, Hamilton Ramos diz que as tratativas têm caminhado bem junto à Secretaria de Agricultura e Abastecimento. "Houve propostas no município para que a área do CEA abrigasse um Parque Tecnológico, mas o CEA não poderia perder o aspecto agrícola, naquela região que também tem a Etec [Benedito Storani, um dos primeiros colégios agrícolas do estado]. Mas, na mesma área, poderia receber algo novo. Temos no CEA, por exemplo, o prédio da 1ª escola de tratoristas do Brasil que atualmente está sem uso e pode ter um novo destino", conta.
Respeito à vocação
Com o intuito de desenvolver pesquisas científicas que atendam demandas de produtores, fazendo a ponte entre laboratórios e novas tecnologias e o agricultor, o CEA por si, nos seus 56 anos, ressalta a importância da pesquisa científica que é prontamente implantada na prática.
Hamilton diz que a integração, sobretudo com o pequeno produtor, é o papel do CEA. "A pesquisa pública é importante porque olha para o mercado que a indústria não olha. A indústria olha para as grandes culturas, onde vende muito e consegue amortizar mais rápido o investimento. Nós, no CEA, trabalhamos com os grandes também, mas nosso foco sempre foi o pequeno e o médio. Temos hoje a redução da mão de obra no campo em todos os níveis, mas os grandes produtores vêm buscando resolução, os pequenos não. Buscamos atender a essa necessidade."
Como exemplo, o pesquisador cita protótipos de maquinários desenvolvidos no CEA que dificilmente seriam criados por grandes indústrias de mecânica agrícola. "Estamos desenvolvendo uma máquina de colheita de cana para pequenas e médias produções, para quem planta cana para produzir cachaça, por exemplo. Esse produtor não vai pagar milhões de reais em uma máquina que colhe toda a cana dele em uma hora e depois fica ociosa até a próxima safra. Desenvolvemos uma máquina ajustada à realidade de engenhos."
"O mesmo acontece com a poda da uva. A primeira poda é mais complicada e demanda muita mão de obra. Olhamos para isso e vimos que esse trabalho pode ser mecanizado. Pesquisamos se existe algo parecido ou alguma máquina que pode ser adaptada e desenvolvemos o protótipo. Foi o que aconteceu com a colhedora de café, que chegou à fábrica como um protótipo, onde fizeram a máquina comercial", conta Hamilton sobre a máquina que nasceu no CEA como protótipo e, quando chegou à indústria de máquinas agrícolas, tomou forma comercial e se tornou a primeira máquina do tipo no mundo.
Outro ponto desenvolvido pelo CEA, em especial pelo próprio Hamilton, é levar ao produtor rural o conhecimento necessário para utilizar corretamente produtos disponíveis no mercado, como a aplicação correta de defensivos e o uso adequado de drones no campo. "Quando se pega essa tecnologia para a agricultura, uma coisa é desenvolver e outra é usar. O drone, para o cenário para o qual foi desenvolvido, é bom, mas vem sendo mal-utilizado. As pessoas vêm achando que o drone é um 'trator que voa', mas têm que entender que essa tecnologia tem uma série de inovações que o agricultor comum não está acostumado", conta Hamilton sobre o uso, por exemplo, para pulverização, visto que um implemento do tipo usa bico hidráulico e os drones costumam ser equipados com bico rotativo e isso faz diferença na prática.
Ligação com a terra
Nos 56 anos de história, o Centro de Engenharia e Automação (CEA) fez contribuições históricas para a agricultura do Brasil e do mundo. Além da colhedora mecânica de café, que revolucionou a cafeicultura brasileira, atualmente o CEA une diversas frentes de ação para juntas resolverem diversos gargalos do setor de fitossanidade vegetal. O programa Aplique Bem, do IAC, leva ao trabalhador da agricultura os conhecimentos para que ele utilize corretamente os insumos e os equipamentos de aplicação de defensivos agrícolas e de proteção individual.
Também, dentro do CEA, nascem inovações no ramo de maquinário agrícola, como o manejo mecanizado da viticultura (pré-poda, poda, desbrota e desponte, desfolha e colheita da videira), que está em andamento com o desenvolvimento de diversos protótipos e ensaios de validação. Além disso, os pesquisadores desenvolvem ações ligadas à gestão agroambiental e à agricultura familiar.