A proposta da prefeita de Bauru Suéllen Rosim (PSD) junto ao governo do Estado de captar água do Rio Tietê por meio de uma parceria público-privada (PPP) orçada em R$ 1 bilhão, anunciada como solução estrutural para o abastecimento, foi colocada em xeque pelo hidrogeólogo Ricardo Hirata, professor titular da USP e considerado um dos maiores especialistas do mundo em águas subterrâneas, durante audiência pública convocada pelo vereador Junior Rodrigues (PSD).
Também coordenador do Projeto Sacre, Hirata afirmou que um novo complexo de poços seria uma alternativa mais barata, mais rápida e tecnicamente viável, destacando que o estudo realizado na cidade já mapeou áreas aptas para receber o sistema.
RECARGA
Ao apresentar os dados do Sacre, ele detalhou que a Bacia do Rio Batalha reúne um combo de problemas: assoreamento provocado pela supressão de matas ciliares, crescente competição por água entre agricultura, condomínios e o abastecimento urbano, além da constatação de que não há água suficiente para todas as atividades no período seco. O quadro se agrava com a ineficiência no sistema de distribuição, que perde 45% da água antes de chegar nas residências, e com a contaminação do Aquífero Bauru.
Hirata também afirmou que Bauru precisa adotar práticas de "cidade esponja", ampliando a infiltração da água da chuva e reforçando a recarga subterrânea, fundamental para o futuro do Aquífero Guarani, que deve ser preservado como reserva estratégica.
O Projeto Sacre (Soluções Integradas de Água para Cidades Resilientes) estuda as porções altas das bacias dos rios Batalha e Bauru para indicar soluções contra crises hídricas, que tendem a se intensificar com as mudanças climáticas.
Bauru foi escolhida por enfrentar episódios recorrentes de falta de água e por usar, simultaneamente, águas superficiais e subterrâneas, o que aumenta a complexidade do sistema e o interesse científico.
Já em relação às águas subterrâneas, Hirata destacou que o Aquífero Bauru também está contaminado por nitrato e outras substâncias emergentes. Situação que inviabiliza a perfuração de poços de até 30 metros de profundidade.
Cenário diferente daquele detectado no caso do Aquífero Guarani. Por ser mais profundo, ele tem uma barreira natural à contaminação. Porém, a recarga (recomposição do volume de água) é mais lenta.
O investimento necessário para a perfuração de poços para alcançá-lo também tende a aumentar com o passar do tempo, pois, em longo prazo, o processo de recarga será afetado pelas mudanças climáticas, demandando bombas mais potentes e, consequentemente, mais gastos com energia elétrica. O coordenador do Sacre chegou a citar que, hoje, o funcionamento de um poço abastecido pelo Aquífero Guarani chega a R$ 120 mil mensais. Para Hirata, a cidade precisa se preocupar em preservar o Aquífero Guarani. Trata-se de uma estratégia fundamental para trazer segurança hídrica às gerações futuras.
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