OPINIÃO

Vivemos a pandemia do feminicídio


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Estamos vivendo uma epidemia de feminicídios. Em 2025, a cada 35 horas uma mulher foi assassinada no Estado de São Paulo por sua condição de gênero. Ou seja, pelo fato de ser mulher. Todos os dias o noticiário está coalhado de novos episódios. Crimes praticados com requintes de crueldade. Foram 207 casos entre janeiro e outubro deste ano, 6% mais que o registrado no mesmo período do ano passado, um recorde dentro da série histórica tabulada pela Secretaria de Estado da Segurança Pública.

É preciso reconhecer que, com a expansão da extrema-direita e do bolsonarismo, discursos que encorajam e legitimam o machismo e a misoginia se proliferaram e se tornaram campo fértil para todo o tipo de violência contra a mulher. Esse ambiente se soma a movimentos como o redpill, com público cativo no ambiente digital, que objetificam as mulheres e “despertam” seguidores para uma realidade distorcida das relações de gênero. A sociedade precisa se unir e reagir com firmeza a propagação desse tipo de pensamento. Basta!

Também é preciso reconhecer o papel do Estado nessa tragédia. Em São Paulo, o governo Tarcísio de Freitas abandonou projetos e políticas públicas importantes que poderiam fortalecer a rede de apoio estatal às mulheres vítimas de violência. Ele extinguiu o orçamento específico para novas Delegacias da Mulher 24h e, em 2024, executou apenas 37% dos recursos destinados à Secretaria de Políticas para as Mulheres, R$ 9 milhões de uma reserva de R$ 24 milhões disponíveis.

O atual governo também não utilizou as verbas destinadas para enfrentamento da violência e para a empregabilidade das mulheres, cada qual com R$ 5 milhões disponíveis no Orçamento. Agora, em 2025, foram contingenciados R$ 10 milhões em verbas para políticas de combate à violência contra a mulher. Não há justificativa técnica ou política para esse tipo de decisão. Estamos diante de uma negligência que ajuda a explicar o crescimento exponencial do número de casos de feminicídio no Estado de São Paulo.

A falta de uma estrutura sólida de acolhimento por parte do Estado aumenta a resistência das mulheres em denunciar o ciclo de violência ao qual estão submetidas. É preciso compreender que o feminicídio é o ponto final de uma sequência de outras violências que o precedem, como a física, a moral e a patrimonial. Em uma rede de proteção eficiente, esses episódios deveriam acender um alerta para a intervenção do Estado, que interromperia a escalada de agressões antes que ela resultasse em mais um feminicídio.

É preciso firmar um pacto como sociedade, construir uma mobilização ampla, que envolva o poder público, e tenha a potência e a capilaridade necessárias para acabar com a cultura de violência contra as mulheres que está enraizada nas pessoas. Nessa batalha, cabe ao Estado prevenir, educar e transformar. Além de oferecer um ambiente efetivo de acolhimento, segurança, fortalecimento e independência para as mulheres vítimas de violência. Caso contrário, essa epidemia de feminicídios não terá fim.

Mário Maurici de Lima Moraes é deputado estadual e jornalista

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