Um idoso de 73 anos, morador de Franca, viveu uma sequência de episódios que a família classifica como “falhas graves e inaceitáveis” na rede municipal de saúde - desde agosto, quando surgiram os primeiros sintomas cardíacos, até 30 de novembro, dia em que sofreu um infarto já em evolução e acabou ferido dentro da ambulância que o transferia ao Hospital do Coração.
Segundo a família, o caso começou em agosto, quando o aposentado procurou atendimento na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim Anita com mal-estar, sendo identificado risco cardíaco e recebendo encaminhamento urgente para o cardiologista. Apesar da indicação de prioridade, a consulta foi agendada apenas para 4 de dezembro, quase quatro meses depois.
Diante da demora e da piora dos sintomas, os familiares decidiram buscar atendimento particular. Após exames, o idoso recebeu diagnóstico de angina instável, condição grave que exige monitoramento constante e, conforme orientação médica, realização de cateterismo. A cardiologista reforçou que qualquer episódio de dor deveria resultar em atendimento imediato, já que nem sempre haveria alterações no eletrocardiograma.
Atendimentos repetidos e sem análise dos exames
Com laudos em mãos, o paciente voltou à rede pública em 24 de novembro, após novas dores no peito. Na UPA, porém, foi submetido apenas ao eletrocardiograma, medicado com dipirona e cetoprofeno e liberado, apesar de a família informar que, no caso dele, as crises nem sempre geravam alterações no exame.
Dois dias depois, em 26 de novembro, procurou o Pronto-socorro Municipal com sintomas semelhantes. O procedimento se repetiu: apenas eletrocardiograma sem alterações, medicação e alta, novamente sem análise dos exames particulares que comprovavam a gravidade do caso.
Infarto confirmado e transferência em ambulância
Na madrugada de 30 de novembro, por volta das 3h, o idoso retornou ao pronto-socorro com dores mais intensas. Desta vez, o eletrocardiograma mostrou alterações e a equipe concluiu que ele já estava em processo de infarto.
A transferência para o Hospital do Coração, que atende pelo SUS, foi autorizada às 8h50. Conforme o boletim de ocorrência, a ambulância da Prefeitura seguiu com motorista, médico e enfermeiro - sem permissão de acompanhante.
Equipamento cai sobre a cabeça do paciente durante o trajeto
De acordo com o BO, durante o percurso, uma curva em alta velocidade fez com que uma bomba de infusão, com peso entre 1,5 e 2,5 quilos, se deslocasse e caísse sobre a testa da vítima. O documento registra que o equipamento estava “provavelmente mal fixado”, indicando possível falha de conservação da ambulância ou de seus suportes internos.
Ao chegar ao Hospital do Coração, por volta das 9h, a equipe constatou um hematoma significativo na região frontal, fez curativos e aplicou gelo. Médicos do hospital, segundo o boletim, demonstraram indignação com a situação. À tarde, familiares relataram um grande inchaço (“galo”), que posteriormente evoluiu para extensa equimose.
Informações extraoficiais obtidas pela família sugerem que o impacto pode ter sido causado pela queda de uma bomba de soro durante uma curva em alta velocidade, mas isso ainda não foi confirmado oficialmente.
O boletim também destaca que motorista, enfermeiro e médico foram solícitos e não tiveram culpa aparente, reforçando que o problema teria se originado na estrutura interna da ambulância.
Providências tomadas pela família
A família registrou boletim de ocorrência por lesão corporal culposa, realizou manifestações na ouvidoria da Prefeitura e fará exame de corpo de delito. Até o momento, segundo informam, não houve retorno do município.
Para os familiares, a soma das falhas - demora na cardiologia, atendimentos incompletos nas unidades de urgência e o acidente dentro da ambulância - expôs o idoso a riscos desnecessários.
“É inadmissível que um paciente de 73 anos, já em quadro de infarto, tenha passado por tudo isso. Uma bomba de mais de 2 quilos caindo na cabeça de alguém frágil poderia ter terminado de forma muito pior”, desabafou o neto Vinícius Silva.
O idoso segue internado no Hospital do Coração com previsão de alta para esta quinta, 4.
O que diz a Prefeitura?
Em nota, a Secretaria de Saúde informou que, ao tomar conhecimento do caso, determinou o encaminhamento imediato das fichas de atendimento do paciente para análise da Comissão de Revisão de Prontuário. O órgão avaliará toda a assistência prestada e, após o parecer, serão adotados os encaminhamentos e providências que considerar necessários. Sobre a ausência de acompanhante durante a transferência, a pasta afirmou que, devido à complexidade e à dinâmica do serviço de urgência e emergência, cabe à equipe assistencial definir, conforme a especificidade de cada situação, quem irá compor a tripulação da ambulância durante o deslocamento.
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