O projeto social Bom Passe FC está há mais de 15 anos oferecendo aulas gratuitas de futebol para crianças e adolescentes de 6 a 16 anos, em Franca. As atividades acontecem todos os sábados, das 7h30 às 9h, no campo do Parque dos Trabalhadores, conduzidas por voluntários e voltadas à formação esportiva e social de jovens em situação de vulnerabilidade.
A iniciativa foi criada por Nei Facioli, que reuniu filhos de funcionários de uma fábrica para os primeiros treinos. Com o passar dos anos, o projeto ganhou estrutura e passou a ser conduzido pela filha Carolina Cintra Facioli, atual diretora. Sob sua coordenação, o Bom Passe mantém mais de 100 alunos ativos e segue com o mesmo propósito que inspirou o início: usar o esporte como ferramenta de transformação.
As aulas são ministradas por estagiários do curso de Educação Física da Faculdade Anhanguera, que atuam de forma voluntária. Sem patrocínio fixo, o projeto sobrevive com o apoio da comunidade. Rifas, campanhas e doações de empresas locais garantem a compra de bolas, coletes, cones e materiais de primeiros socorros. Em algumas ocasiões, os próprios pais dos alunos ajudam na organização e manutenção dos treinos.

Carolina relata que a falta de recursos é um dos maiores desafios para manter o projeto. Segundo ela, a rotatividade de professores é alta, já que muitos voluntários acabam aceitando propostas remuneradas após alguns meses de participação. Além disso, a compra constante de materiais representa um custo difícil de equilibrar. “A nossa maior dificuldade é manter professores. Eles ficam um tempo e, quando surge uma proposta remunerada, acabam saindo. A bola também é um gasto constante, porque muitas se perdem durante os treinos”, contou.
Mesmo diante das limitações, o Bom Passe se destaca pelos resultados alcançados. Desde a criação, o projeto já encaminhou jovens para clubes brasileiros e do exterior. Sob a gestão atual, um menino de 8 anos foi aprovado na base do América Mineiro, após participar de uma seletiva organizada por Carolina em março, com 176 inscritos. Onze garotos viajaram até Belo Horizonte, e o atleta foi escolhido para integrar o time mineiro.
A viagem foi viabilizada com apoio de patrocinadores e recursos arrecadados em ações internas. A diretora acompanhou o grupo durante toda a semana e se encarregou da alimentação e da logística.
Para ela, o esforço é recompensado ao ver o avanço dos alunos. “Conseguir encaminhar os meninos pro sonho deles é o que dá sentido a tudo isso. Quando um deles é chamado pra uma base, é uma vitória pra todo o grupo”, destacou.
Além das categorias masculinas, o projeto também acolhe meninas, com três atletas atualmente inscritas nas turmas sub-8 a sub-16.
Amistosos e torneios são realizados com frequência para garantir ritmo de jogo e promover integração entre os participantes.
A próxima meta é receber observadores do Corinthians para uma nova seletiva prevista para o próximo ano.
Mais do que formar atletas, o Bom Passe se consolidou como um espaço de acolhimento emocional. Muitos alunos chegaram ao projeto enfrentando dificuldades pessoais e sintomas de depressão, encontrando no futebol uma forma de cuidado e convivência. “O Bom Passe surgiu pra tirar os meninos da rua, evitar que entrem no mundo do crime e também cuidar da saúde. Já cuidamos de meninos que estavam em depressão. O esporte trouxe vida de volta pra eles”, afirmou Carolina.

A dedicação à escolinha é integral. Carolina trabalha por conta própria para conciliar o tempo com o projeto, organiza os treinos, as viagens e cuida até dos uniformes. “Hoje eu sou empreendedora, trabalho por conta pra ter tempo de viajar e acompanhar os meninos. As roupas deles sou eu que lavo, os treinos sou eu que organizo. Eu não me vejo longe do Bom Passe”, disse.
Para ela, a ligação com o projeto é pessoal e afetiva. Cuidar dos alunos significa também cuidar de si mesma. “Eu achava que estava cuidando deles, mas, na verdade, estou cuidando de mim. O carinho e a atenção que um dia eu quis e não tive oportunidade, eu estou dando pra eles”, expressou.
Serviço
Escolinha de Futebol Bom Passe FC
- Dias: todos os sábados
- Horário: das 7h30 às 9h
- Público: crianças e adolescentes de 6 a 16 anos (categorias do sub-8 ao sub-16, com participação feminina)
- Local: Alameda Vicente Leporace, 307 – Parque dos Trabalhadores, Franca

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