As férias escolares chegaram e, com elas, a oportunidade de muitas famílias lidarem com um desafio comum e angustiante: a seletividade alimentar infantil. O período de descanso da rotina pode ser o momento ideal para, com paciência e ludicidade, ajudar a criança a construir uma relação mais positiva e saudável com a comida.
Mas como saber se a recusa do seu filho é apenas uma fase ou algo mais sério? E como agir sem transformar a hora da refeição em um campo de batalha? Para esclarecer essas dúvidas, conversamos com a nutricionista materno-infantil de Franca, Thatiane Santos, Mestre pela FMRP/USP e Doutoranda na Unifran.
"Frescura" ou transtorno? Saiba a diferença
Segundo a nutricionista, é fundamental distinguir a seletividade alimentar comum na infância do Transtorno Alimentar Restritivo/Evitativo (TARE), um diagnóstico clínico.
- Seletividade Comum (entre 1,5 e 6 anos): A criança restringe alguns alimentos, mas geralmente aceita ao menos um de cada grupo (ex: não come brócolis, mas come cenoura). A recusa não costuma gerar impacto no crescimento e pode melhorar com o tempo.
- TARE (Transtorno Alimentar): A rejeição é intensa e persistente. A criança aceita um número muito limitado de alimentos (às vezes menos de 20), evita grupos inteiros e a recusa causa impacto direto na saúde, como perda de peso, deficiências nutricionais e prejuízos sociais (não come na escola ou em festas).
Sinais de alerta: quando procurar ajuda?
Thatiane Santos lista 7 sinais de alerta que indicam que a seletividade pode não ser apenas uma fase e merece uma avaliação profissional:
- Repertório muito restrito: Aceita menos de 20 alimentos diferentes, sempre os mesmos.
- Evita grupos alimentares inteiros: Recusa todas as frutas, todos os vegetais ou todas as proteínas.
- Recusa persistente: A seletividade não melhora mesmo com as estratégias habituais por mais de 1 ou 2 anos.
- Reações extremas: Choro, vômito, ânsia ou fuga ao ver, cheirar ou tocar em certos alimentos.
- Dificuldades sensoriais: Hipersensibilidade a texturas, cheiros ou temperaturas.
- Impacto na saúde: Perda de peso, baixo crescimento, constipação crônica ou palidez.
- Prejuízo social e familiar: A criança não consegue comer fora de casa e as refeições se tornam momentos de grande estresse.
Férias como aliada: dicas práticas para os pais
A boa notícia é que, com paciência e as estratégias certas, as férias são uma excelente oportunidade para ampliar o paladar infantil de forma leve e divertida.
- Envolva a criança: Leve-a para escolher alimentos na feira ou supermercado. Convide-a para ajudar a lavar um legume ou montar o próprio prato.
- Use a criatividade: Apresente os pratos de forma divertida, com carinhas ou usando cortadores coloridos. Transforme a refeição em uma "missão de super-herói".
- Mude o ambiente: Faça um piquenique no parque ou uma refeição na varanda. Mudar o local pode reduzir a rigidez e a tensão.
- Seja o exemplo: A dica mais importante, segundo a especialista, é o comportamento dos pais. "O ambiente onde a criança faz a maior parte das refeições precisa promover esses estímulos. É preciso ter rotina, qualidade de alimentos, não barganhar comida com doce e evitar o excesso de ultraprocessados", orienta. "E o principal: não force, não ameace e não transforme a alimentação em um campo de batalha".
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Comentários
1 Comentários
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Alice 28/07/2025Doutora a milha filha só gosta de comer lanche pronto, não gosta de verdura nem de ovo.