GAZETILHA

Duas pistas e um abismo: o risco da irrelevância política

Por Corrêa Neves Jr. | editor do GCN/Sampi
| Tempo de leitura: 8 min

"Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde vai"
Sêneca, filósofo romano

Falta pouco mais de um ano para que os partidos oficializem suas candidaturas à Assembleia Legislativa, em São Paulo, e à Câmara dos Deputados, em Brasília. Em Franca, o tabuleiro nos bastidores registra intensas movimentações. Mas a efervescência local, que poderia sinalizar maturidade democrática e inteligência estratégica, parece repetir o mesmo roteiro de sempre: muita agitação para pouca chance de resultado prático.

Franca, com 358 mil habitantes (prováveis 252 mil eleitores em 2026), tem uma das economias mais relevantes do interior paulista. É também uma das melhores cidades para se viver no Brasil. Ainda assim, convive com a baixíssima representação parlamentar, o que dificulta a atração de investimentos públicos e, por tabela, também dos privados — simplesmente porque há pouca gente lutando pela cidade nas mesas decisórias da capital paulista ou federal.

Sem ser percebida, a cidade acaba ignorada — ou, na leitura mais otimista, relegada a segundo plano. Basta olhar para o número de visitas de ministros de Estado à região ao longo dos últimos anos, ou ainda listar os investimentos federais e estaduais por aqui, para constatar, sem qualquer viés ou paixão, que não há nenhum exagero nesta análise.

Hoje, são apenas dois deputados estaduais ligados à cidade (Delegada Graciela, do PL, e Guilherme Cortez, do Psol). Há mais de uma década, Franca está sem ninguém em Brasília que a defenda. E, ainda assim, lideranças locais e parte do eleitorado resistem em assimilar essa lição.

Historicamente, analisados os últimos cinco ciclos eleitorais (2006, 2010, 2014, 2018 e 2022), na média geral, eleição após eleição, apenas cerca de 45% dos votos da cidade para deputado são efetivamente “aproveitáveis”. O restante se perde entre abstenções, votos nulos, brancos ou entregues a candidatos sem qualquer relação direta com a cidade ou região.

O quadro que se desenha para 2026 é um retrato quase caricato desse histórico. É como se estivéssemos numa rodovia de duas pistas. Na da esquerda (não há aqui qualquer vinculação ideológica; trata-se de mera abstração referencial), a disputa por uma cadeira na Alesp está congestionada. Nomes como o da atual deputada Delegada Graciela (PL), da empresária Flávia Lancha (PSD), do ex-prefeito Gilson de Souza (Avante hoje, provavelmente PSB amanhã), de Cristiany Castro (PP), de Sérgio Granero (Republicanos), de Mariana Negri (PT), já estão em movimento. O Novo também deve lançar alguém, que por enquanto segue indefinido.

Na pista ao lado, a da Câmara Federal, quase não se vê trânsito: até aqui, só a primeira-dama Cynthia Milhim (MDB), o ex-deputado Dr. Ubiali (PSB) e o vereador Daniel Bassi (PSD) aparecem como nomes ventilados e são prováveis candidatos. Poderia representar um caminho mais óbvio — só que não.

O número de votos exigido para chegar à Câmara dos Deputados é significativamente maior, e a soma do eleitorado de Franca e região há tempos não é suficiente para eleger alguém. Sem uma candidatura amplamente competitiva, com densidade regional e apoio estadual, é muito provável que a cidade continue sem representação em Brasília.

A maior dúvida nessa distribuição provisória dos nomes que devem entrar na disputa é o caminho que vai escolher Guilherme Cortez (Psol), deputado estadual com base eleitoral em Franca, mas que acabou eleito com votação pulverizada em todo o Estado. Ele pode optar por uma candidatura federal. Seu destino depende mais da votação que vai receber nas muitas regiões do Estado do que do apoio que nasça de Franca. Se resolver disputar um novo mandato na Alesp, caminho mais seguro para si, congestiona ainda mais a via dos “francanos” que também sonham com uma vaga em São Paulo.

Há ainda as movimentações de Flávia Lancha, bem votada em três disputas, apesar de não ter alcançado seus objetivos, e que imaginava sair a estadual. Há pressão no seu entorno, inclusive entre os caciques nacionais, para que corrija a rota e mire Brasília, o que, apesar da dificuldade, sinaliza ao menos alguma leitura estratégica do cenário. Neste caso, pode ser uma ousadia que funcione melhor do que a obviedade. Mas claro que as chances de sucesso, para ela ou qualquer outro, dependem de uma conjunção de fatores.

Gosto de ser didático, ou pelo menos tento ser, e acredito que sempre que ideias são fundamentadas com dados, maiores as chances de que a clareza resulte em compreensão. Tomemos, então, como base os 45% de votos “aproveitáveis” verificados nas últimas cinco eleições, cruzemos com o total de eleitores prováveis em 2026 e comparemos com o número de pré-candidatos e o resultado dos eleitos na disputa de 2022.

Tudo isso para mostrar que, se nada for feito, há chances reais de Franca não apenas continuar sem deputado federal, como também ver reduzida sua representação na Alesp ou, até, ficar sem ninguém por lá. Nada disso tem a ver com a qualidade dos nomes, sua orientação ideológica ou qualquer questão subjetiva. É pura e simples matemática.

Os últimos eleitos pelos principais partidos para a Alesp, em 2022, foram Guilherme Cortez (Psol), com 45.094 votos; Dr. Elton (PSC), com 46.042; Valdomiro Lopes (PSB), com 50.824; Eduardo Nóbrega (Podemos), com 53.607; Vitão do Cachorrão (Republicanos), com 56.729. No PT, o lanterna foi Simão Pedro, eleito com 57.785. No PSD, Paulo Corrêa Júnior, com 62.239. No PL, Fabiana Barroso, com 65.497. No PP, Letícia Aguiar, com 68.556.

Se nada mudar, teremos 113 mil votos “aproveitáveis” em Franca para deputado. Na via estadual, a lista acima deixa claro que qualquer um que deseje se sentar numa cadeira no Palácio 9 de Julho, sede do Legislativo Paulista, precisa superar a barreira dos 60 mil votos para não depender de um milagre — e, mesmo assim, terá terminado na rabeira.

Se querem entrar na disputa Graciela, Flávia Lancha, Gilson de Souza, Cristiany Castro, Mariana Negri e Sérgio Granero — além da hipótese de Guilherme Cortez —, resta óbvio que vai faltar voto. E também que, a depender da pulverização, de como esses votos disponíveis serão divididos entre tantos, há uma chance razoável de que ninguém termine eleito — com exceção de Cortez, o único que tem votação expressiva fora de Franca, em diferentes regiões.

Para Federal, apesar de menos nomes, como a quantidade de votos necessários é ainda maior, a probabilidade de que alguém de Franca saia vitorioso é baixa. Vejamos a lista dos últimos eleitos na disputa de 2022. No PL, Tiririca, aquele palhaço (literalmente) do “pior que tá, não fica”, entrou com 71.754; no PSB, Jonas Donizette, ex-prefeito de Campinas, conquistou sua cadeira em Brasília com 84.044; no União Brasil, Fernando Marangoni precisou de 89.390 votos; no Republicanos, Maria Rosas só chegou com 94.787 votos. No PSD, Carlos Sampaio somou 98.102. No Novo, Adriana Ventura alcançou 109.474. No Psol, Luiza Erundina teve 113.983. No PT, Paulo Teixeira atingiu 122.800. No PP, Maurício Neves recebeu 129.131. E, no MDB, Simone Marquetto só alcançou seu lugar ao sol com 97.730. E esses foram os últimos eleitos por suas respectivas legendas.

Não é preciso ser exatamente brilhante para constatar que, com os 113 mil votos “aproveitáveis” de Franca, a missão de Cynthia Milhim, Ubiali, Daniel Bassi e quem mais se aventurar numa disputa federal beira o martírio. Seria preciso que a cidade inteira votasse num único nome, somados a mais alguns votos da região, para que alguém de Franca tivesse chance de entrar. Sem isso, a aventura eleitoral poderá servir para construção de imagem, projeção de força, mas dificilmente para garantir um lugar em Brasília.

Que ninguém venha com a delirante ideia de que os votos da região são suficientes para mudar essa realidade. Não são — simplesmente porque também na região não há votos suficientes. Os municípios próximos a Franca têm população reduzida. A exceção são Batatais e São Joaquim da Barra, mas que física e historicamente estão muito mais conectadas a Ribeirão Preto e não costumam ser generosas com os candidatos de Franca.

Assim, com uma pista entupida e outra deserta, o risco é de que nenhuma das duas leve Franca a lugar algum. Estou dizendo com isso que é uma causa perdida? Não, necessariamente. Para além do problema aritmético, trata-se de uma questão de identidade e estratégia coletiva. Não se trata de torcer por um nome específico, mas de compreender que, sem unidade, foco e inteligência eleitoral, a cidade sai derrotada. E, quando perde, não perde um cargo: perde voz, recursos, protagonismo.

Lideranças empresariais, políticas, religiosas, comunitárias precisam encarar essa realidade — e os números — de frente. É hora de parar de fingir que o problema não existe. É hora de construir uma solução.

Franca não precisa de unanimidade, mas de prioridade. Não se trata de anular divergências, mas de reconhecê-las e superá-las diante de algo maior: o tal interesse coletivo. Cada voto desperdiçado é um silêncio a mais nas decisões que importam. E quem não fala, não é ouvido.

Se Franca quiser mesmo mudar esse quadro, não basta acelerar: é preciso saber para onde vai — e ir junto. Isso exige mais do que candidaturas: exige consciência coletiva e participação popular. Porque, no fim, a escolha não é apenas entre São Paulo ou Brasília. É entre protagonismo e irrelevância. E o tempo para decidir está acabando.

Corrêa Neves Jr é jornalista, diretor do portal GCN, da rádio Difusora de Franca e CEO da rede Sampi de Portais de Notícias

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Comentários

14 Comentários

  • Darsio 2 dias atrás
    Ei bolsonaristas francanos! por qual motivo a Nicole ou nikolas Ferreira não gravou vídeo denunciando o Trump que, deseja por fim ao PIX brasileiro? aliás, sem o PIX como poderemos fazer nossas doações ao mito? Até porque os míseros 17 milhões arrecadados já estão acabando. Poxa vida! A esposa do Eduardo bananinha que, está nos States orquestrando contra a economia brasileira, precisa de outra bolsa de 40 mil reais. Vamos trouxas!!! Façam mais um PIX para o mito, antes que o Trump ponha fim a ele.
  • Darsio 3 dias atrás
    O sujeito para bancar o ignorante precisa ser um verdadeiro mágico ou ainda o messias. Como pode ser tão burro de modo a não saber ler e verificar na carta do alaranjado dos infernos, que explicitamente a atitude de em sobretaxar o Brasil se deve ao bolsonaro. O próprio VAGABUNDO do Eduardo Bolsonaro publicou vídeo deixando tudo isso claro e, o neonazista Bezos, de quem Eduardo Bolsonaro adora lamber as genitálias, publicou mensagem deixando claro que se o governo brasileiro colocar fim ao processo que condenará o NÃO MENOS VAGABUNDO JAIR BOLSONARO, O Trump tirará todo o tarifaço. VAI SER BURRO NA PQP!!!
  • Antonio Flavio do Nascimento 5 dias atrás
    Realmente é incompreensível diante de tantos problemas econômicos e sociais que estamos vivendo e gente , a exemplo de Lula, culpar Bolsonaro e seus filhos. É muita insanidade, estupidez. Esquecem o Bolsonaro, ele deixou a presidência em 2022, agora é Lula, é ele que governa e direciona o Brasil para as grandes crises de magnitude nunca vistas. Até quando essa gente fracassada vai culpar o Bolsonaro? Com quase 20 anos de PT destruindo o Brasil, mas a culpa é do Bozo que governou só 4 anos. né? Quero distância da doença dessa gente.
  • Darsio 13/07/2025
    E o Tarcísio de Freitas! Tá cagando de medo, depois de tanta bosta defecada. O Babaca que, não mediu esforço para babar nas genitálias do Trump, agora se vê numa enrascada, pois seu patriotismo pela nação estadunidense custará caro a muitos empresários e agropecuaristas paulistas, diante da taxação imposta pelo alaranjado dos infernos. Aliás, esse governador forasteiro que trouxe para o estado uma polícia miliciana aos moldes da carioca, critica a China, mas esquece que são disparadamente os chineses, os maiores compradores de produtos agropecuários brasileiros, muito mais que os EUA. Afinal, a única coisa que esse lixo de governador trouxe para a nossa região, foi uma enxurrada de radares, sendo 06 só na Portinari. E aguardem por novas praças de pedágios!!!
  • Darsio 10/07/2025
    O VAGABUNDO do Eduardo Bolsonaro, cujos salários e privilégios dignos de marajás e bancados pelos bolsos dos trouxas brasileiros e, que está no poder graças a também votos de idiotas francanos e, mesmo que nunca tenha feito absolutamente nada pela cidade, está nos EUA tramando e conspirando contra os interesses do país. Se fôssemos um país sério esse VAGABUNDO E IMPRESTÁVEL não apenas teria perdido o mandato, mas estaria na cadeia, juntinho do lixo do seu pai. Mas, e aí francanos, especialmente vocês empresários e agropecuaristas que exportam para os EUA! De qual pátria mesmo a família bolsonaro faz juras de amor?
  • Francisco Matos 10/07/2025
    Como se explica? Um Promotor de Justica, certa ocasião, sobre uma ocorrência envolvendo policiais que roubavam, o repórter o perguntou \" Doutor, COMO SE EXPLICA, policiais roubando\"? A resposta foi seca, \" Não se explica\". $#@/^=÷×! Acho que sobre a relevante e rica matéria do Correi Jr, também a resposta é a mesma: Como se explica o francano e toda nossa micro região entupir as urnas com milhares de votos para Eduardo Bolsonaro, Zambeli, Ricardo Sales, etc?
  • Darsio 10/07/2025
    E por falar em deputado, o que falar sobre o Eduardo bananinha? O sujeito só vem a Franca em época de campanha e, sem nada ter feito para a cidade, ainda consegue muitos votos. Agora, ele tudo fez para que o doentio e neonazista Donald trump, impusesse tarifas de 50% sobre os nossos produtos, por nítida questão política, num profundo desrespeito a soberania brasileira e a legislação que rege o comercio mundial. E aí cafeicultores? Vamos praticar o patriotismo enaltecendo a bandeira dos EUA? E, o Tarcisão? Continuará a colocar o bonezinho do Trump? Até porque é São Paulo o maior exportador para os EUA. E, os idiotas que destruíram as suas vidas e que estão condenados e presos continuarão a achar que a tal anistia é pensando neles? Ou será que a ficha caiu e perceberam que a única preocupação é livrar o Bolsonaro da cadeia? Nos dizeres do alaranjado Trump ele não cita os patriotários, apenas o Bolsonaro, se é que sabem ler. Aliás, não me lembro do Lula atacar a justiça, apelar para outros países e muito menos se refugiar em embaixadas, tal como faz o cagão Bolsonaro. Mas, e aí cafeicultores! Vamos fazer arminha e enaltecer a pátria, digo os EUA?
  • Rosana Branquinho 08/07/2025
    Muito boa! Análise coerente e realista.
  • José 08/07/2025
    Anular o voto não serve para nada e/ou votar em branco não tem validade. O que conta são os votos válidos. Tem que votar melhor parar de votar em pastor, bilionário etc que defendem apenas os interesses dos poderosos. E mudar o sistema de financiamento de campanha. Quem paga a banda escolhe a música.
  • Darsio 07/07/2025
    Deveríamos anular o voto e, isso teria de partir de todos os brasileiros. Seria uma forma de protesto contra a absurda decisão do Congresso em aumentar mais 18 cadeiras de deputados, com um custo anual de 65 milhões de reais. Que utilidade nossos parlamentares tem tido para a sociedade? Nenhuma! O país enfrenta graves problemas e o que se observa são movimentações com a única finalidade desses deputados e senadores em se manter no poder e usufruindo dos trocentos privilégios. Esses caras nos custam 15 bilhões de reais custeados pelos suados impostos que pagamos. Se não bastasse o salário de 46 mil reais, cada deputado e senador recebem mensalmente 120 mil para pagarem 25 assessores, mais 46 mil reais para custos de transporte, além de auxílio terno, auxílio moradia e todas as despesas de saúde custeadas pelos nossos bolsos. O tal deputado e pastor Marcos Feliciano fez um tratamento dentário de estética de mais de 120 mil reais e, tudo pago por nós. E assim temos outros trocentos exemplos da farra que deputados e senadores fazem com o suado dinheiro que sai dos nossos bolsos. Trabalhamos cerca de quatro meses para sustentar a farra desses vagabundos. BASTA!!! ANULE O SEU VOTO!!!
  • Antonio Donizeti Finoto Ferrarezi 07/07/2025
    Hoje políticos são inimigos, não há a mínima condição de se unirem em torno de um nome/projeto. Veremos o mesmo filme de sempre.
  • Cimar Mariano da Silva 07/07/2025
    Em que pese a análise do Sr Corrêa Jr ser bastante superficial e, nas entrelinhas haver uma tendência de apoio ao candidato do PSOL, na minha opinião e, sinceramente, espero que na da maioria dos eleitores, com a qualidade dos nomes pré-dispostos a candidaturas estaduais e federais, é melhor que a cidade permaneça como está, ou se possível, não opte por nenhum dos postulantes e muito menos pelos nomes que atualmente já ocupam cargos eletivos, pois, para o tipo de \"representatividade\" que a cidade e região, obteve nos últimos 20 anos, é melhor não ter nenhum aproveitador das benesses de ser um parlamentar (que são incontáveis), sem realmente se preocuparem com os eleitores que neles depositaram a esperança de se fazerem representados na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa.
  • Geraldo Gomes 06/07/2025
    Se me permitir um trocadilho eu vou dizer que são dois abismos e um caminho. Não, por acaso, a polarização política que lasca o país em duas partes.
  • José 06/07/2025
    Com certeza não votarei no Daniel Bassi. Aumentou o próprio salário, aumentou vale alimentação, aumentou número de assessor. Franca ficará mais uma vez sem representante federal. E é possível que diminua o número de deputados estaduais.