"Eu sou mãe e pai, sou colo e sustento. Quando ele sumiu, eu fiquei.” O desabafo é de uma mulher de 36 anos, moradora de Franca, mãe de uma criança de 8 anos. Ela prefere não se identificar, mas sua história é como a de milhares de mães solo que sustentam seus filhos sozinhas após o abandono paterno, inclusive financeiro.
Nos últimos anos, a pressão por pensão alimentícia se tornou mais visível nas estatísticas da comarca de Franca, que engloba dez municípios. Segundo dados do TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo), o número de mandados de prisão por não pagamento de pensão alimentícia disparou: em 2022, foram 369 cumprimentos. Em 2023, esse número subiu para 428. Em 2024, chegou a 500. Só em 2025, até agora, já foram 302 prisões.
Os números chamam a atenção não apenas pela alta, mas pelo que revelam: enquanto os pais inadimplentes podem chegar a ser presos, as mães seguem acumulando jornadas de trabalho, cuidados e frustrações sem qualquer garantia de que os valores devidos serão, no mínimo, pagos.
“A justiça até manda prender, mas isso não resolve o meu problema. Eu continuo sem o dinheiro. Continuo com as contas, com a lancheira para montar, com os boletos para pagar”, relata a mãe.
Durante a pandemia do coronavírus, a prisão civil dos devedores foi suspensa — o que explica a queda nos mandados entre 2020 e 2021. Em 2020 foram 52 prisões, e em 2021, apenas 71. Mas, a partir de 2022, com a retomada dos processos, os números voltaram a crescer.
O TJSP esclarece que não possui dados sobre a inadimplência em si, apenas os casos que evoluíram para prisão. Ou seja: a situação pode ser ainda mais grave do que os números sugerem. Muitas mães optam por não judicializar ou sequer conseguem arcar com os custos de um processo.
Para a mãe entrevistada, a dor maior não é o abandono financeiro, mas o emocional. “O dinheiro faz falta, claro. Mas o que machuca mesmo é ver que ele escolheu sair da vida do filho, que para ele é fácil deixar para trás o que para mim é tudo.”
A realidade das mães solo ainda é invisibilizada em muitas esferas. Os dados de Franca são apenas um reflexo de uma crise silenciosa, em que o descaso paterno é compensado diariamente por mulheres que sustentam, educam e acolhem sozinhas. Muitas vezes, sem sequer o básico garantido.
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Comentários
2 Comentários
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Saladino 29/06/2025Já pensou se as mulheres pudessem escolher os pais de seus filhos ? -
Darsio 29/06/2025Chamar esses indivíduos de país é uma afronta a razão. E, nem mesmo de reprodutores, pois compará-los aos animais seria uma profunda ofensa aos bichos. E, certamente muitas dessas coisas são os mesmos defensores do discurso deus, pátria e família, o que reforça ainda mais o quanto nossa sociedade é recheada de demagogia e ignorância. Aliás, certo dia constatei um chamado de Neymar para a Marcha para Jesus, em São Paulo. E, que garoto propaganda! Logo, o Neymar que, reúne os amigos, aluga mansão e contrata prostitutas para a realização de orgias, putaria mesmo. E, olha que parte de seus amigos são casados, defensores dos valores da família. Não seria interessante a vasectomia para esses indivíduos que não honram o papel de pai?