
Em “preto e branco e poético” vamos falar de bagunça e processos pessoais, ideias e sentimentos, fios de vida soltos, caos e presença, vamos falar de gente como a gente que desmorona e se reinventa, de jasmim e tudo que nos convém. Por aqui sempre falo com mulheres, especialmente as que se calaram a ponto de esquecerem a própria essência. Vamos conversar?
Enquanto você lê minhas reflexões, já devo estar no Complexo do Baú na região de Delfinópolis em busca de cachoeiras e trilhas, no Caminho do Céu em plena Serra da Canastra. Ainda que eu tenha roteiro, essa aventura tem sabor de estar sem destino. Nem toda bagunça é caos; às vezes, é transição.
Prestar atenção é um exercício de PRESENÇA, que amplia a percepção de nós mesmas. É o olhar atento que revela a beleza escondida no trivial, que nos conecta verdadeiramente com o outro, com a natureza. Prestar atenção é para poucos, pois exige primeiro olhar aguçado para si mesma, é convite para ver além do óbvio. Notar os detalhes e sentir a sutileza em pequenos gestos. Parar, silenciar e ouvir, estar realmente presente numa conversa e sentir o ritmo dela. Ficar mais atenta transforma experiências cotidianas em algo mais profundo, e significativo. A atenção é a chave que abre as portas do extraordinário nas coisas simples do dia a dia. A maturidade nos traz muito, saber diferenciar onde precisamos permanecer, e não apenas passar. O que em nossa vida precisa da nossa presença e não da nossa urgência. Fazer escolhas que resistam ao tempo, como eu decidi plantar um pé de jasmim em casa: não era só possível, mas necessário.
Outro dia, enquanto eu regava o jardim que plantei no salão, entre um corte e uma tintura, observei meu jasmim. Há algumas semanas, suas folhas tinham caído, todas, ele estava peladinho. Hoje, algumas folhas e flores estão brotando. Eu me emocionei por um instante, sentia que esse tempo frio estava longo demais e de alguma forma aquele jasmim me dizia: em breve você vai florir. Quando muitas coisas acontecem ao mesmo tempo, é muito fácil cairmos na armadilha de “dar conta de tudo”. A florada que surge me lembrou que “dar o meu melhor hoje” seja não entrar em nenhuma disputa. Tem algo que é muito mais valioso que ter controle, a percepção de que a vida se movimenta para várias direções; e se formos sinceras em escutar, escolheremos com leveza para onde ir. Boas perguntas nos levam a caminhos inteiros, nada como um dia instável para revelar o que nunca foi firme, não é mesmo? Quando tudo parece muito, tente se voltar para as pequenas decisões, elas seguram o dia enquanto não entendemos o resto. No seu processo, assim como o jasmim e eu, talvez seja momento de se nutrir: as folhas velhas já caíram e em breve vamos florescer.
Mas não vou romantizar aqui ok? Crescimento pessoal é um processo de destruição, desmoronamento de tudo que você não é mais. É doloroso e não tem volta, mas carrega uma verdade: LIBERTA! Comesse e sustente essa construção, inicie escolhendo o que você NÃO vai mais carregar. No salão em que trabalho, escuto e aprendo: cada processo é único, vejo a direção e falo com mulheres que falam comigo. Há sempre as que se calaram tempo demais. Uma pessoa que se reencontra com sua forma de expressão, que se sente, vive mesmo que ainda não saiba como. Tem dias que nada faz sentido, pensamento gera sentimento que gera ação. Me peguei em pensamentos e ideias que nem sei de onde surgiram, imprimi em uma folha de papel cada letra e cada palavra e compus um mural para tentar decifrar esse emaranhado. Achei a ponta do fio que parecia ser o início de tudo, fui puxando para ver se encontrava a solução, mas no fim desse fio encontrei outra ponta.
Nada deixa de ser, apenas se transforma. Então, comecei respondendo as questões que eu mesma podia obter resposta, que pareciam simples, mas carregavam perguntas que eu nunca tinha feito-me. Era como se fosse a primeira vez a dar voz a mim mesma. Por isso escrever é tão importante: é libertador. Durante meus questionamentos, hesitei algumas vezes em ser sincera comigo, me emocionei ao ler o que escrevia, palavras que eu nem sabia que estavam ali dentro. Espero que essa conversa possa te tocar também.
Ariel Bruna é colorista profissional, proprietária do espaço de beleza @arieldouradohair e escreve diariamente na página @pretoebrancoépoetico. É mãe da Sophia e do João Lucas. Uma mulher com medos bobos e coragens absurdas.
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