SUPERAÇÃO

Da rua à tecnologia: Wanderson luta por um recomeço em Franca

Por Pedro Dartibale | da Redação
| Tempo de leitura: 2 min
Sampi/Franca
Pedro Dartibale/GCN
Wanderson Henrique Cabulão, aos 44 anos
Wanderson Henrique Cabulão, aos 44 anos

A história de Wanderson Henrique Cabulão é marcada por idas e vindas, perdas e recomeços. Nascido em Barretos, ele foi acolhido ainda criança por instituições do município de Franca, onde construiu suas raízes. Hoje, aos 44 anos, Wanderson vive em situação de rua, mas carrega consigo uma bagagem de experiências, formação técnica e sonhos ainda vivos, mesmo em meio às dificuldades.

“Fui criado pelo município, pelo estado e pelo governo federal. Fiquei um tempo em abrigo, depois fui encaminhado para uma unidade educacional em Batatais, onde permaneci até os 18 anos”, relembra ele.

Após a maioridade, retornou a Franca e começou sua trajetória profissional. Passou por diversas áreas, fez cursos técnicos, formou-se em rádio e locução pelo Senac e estudou marketing pessoal na Etec.

Entretanto, as dificuldades financeiras e o uso de substâncias acabaram mudando os rumos da vida. “De dois anos pra cá, não consegui mais pagar aluguel, as contas. Sempre trabalhei honestamente, mas fui obrigado a escolher entre investir em mim ou nas contas. E optei por mim. Acabei indo pra rua”, conta com sinceridade.

Apesar das adversidades, Wanderson encontrou apoio em órgãos públicos. “Procurei o Caps, mas como não havia vaga imediata, eles me recomendaram o Centro Pop. No mesmo dia, fui acolhido com muito carinho. Agora sei que também existe um abrigo, mas está passando por uma transição”, relata.

A rotina no Centro Pop é diária, mas Wanderson prefere estar em atividade. “Fico pouco lá. Procuro fazer bicos, arrancar mato, limpar calçadas, juntar recicláveis. Como perdi meus documentos, tenho buscado atividades que não exigem documentação formal”, explica. Ele vive hoje com apenas o RG e o título de eleitor em mãos.

Sobre a discriminação enfrentada por pessoas em situação de rua, ele reconhece que existe. “Há preconceito, sim, de uma parte da sociedade. Mas também não tiro a razão de muitos. Tem situações complicadas que a gente presencia ali dentro. Porém, não é todo mundo. Eu mesmo tenho ex-patrões que ainda me chamam pra cobrir folgas nas empresas, confiam em mim”, afirma.

Wanderson evita generalizações. Com um discurso equilibrado, ele reconhece os desafios e também a necessidade de compreensão. “É uma minoria que atrapalha, mas acaba respingando em todos. Entendo quem reclama, mas também sei que a maior parte das pessoas quer só uma oportunidade de se reerguer”, pondera.

Para o futuro, ele traça metas claras. “Quero fazer o programa de limpeza das toxinas, parar completamente com qualquer substância e retomar meus estudos. Tenho dúvidas entre ciência da computação e comunicação, mas quero continuar na ativa, estudando, trabalhando, sendo produtivo pra sociedade e pra mim mesmo”, projeta.

A tecnologia, aliás, é uma de suas apostas. “Essa área de inteligência artificial está crescendo muito. E é onde pretendo me inserir”, diz com brilho nos olhos.

A trajetória de Wanderson é marcada por resiliência. Em meio às dificuldades da vida nas ruas, ele ainda sonha, estuda, trabalha e planeja o futuro. Um exemplo de que, mesmo diante das maiores quedas, ainda é possível se levantar, com coragem, apoio e, principalmente, vontade de recomeçar.

Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

Comentários