
João Evangelista Rodrigues, de 62 anos, é conhecido pelos moradores de Franca apenas como "seu João". Ou, como ele mesmo diz, as pessoas o chamam de "Velho dos Cachorros". O apelido tem um motivo claro: seu João vive na praça Nossa Senhora da Conceição, no centro de Franca, onde cuida de três cachorros - Thor, Pipoca e Rajado. Antes, eram quatro, mas um deles foi envenenado no último dia 9.
Segundo João, o cachorro, chamado Negão, costumava sair de perto do local onde os outros cães ficavam, mas sempre retornava. Porém, no dia 9 de março, a história teve um fim trágico. "Ele saiu no sábado, e no domingo apareceu. Veio de lá, chegou naquela moita ali. Arriou um pouco e estava babando muito. O nariz estava sangrando, quase não conseguia parar. Ele se sentou aqui, depois deitou. Bebeu um pouco de água e ficou uns cinco minutos com a gente... Depois morreu", relatou, com pesar.
A confirmação de envenenamento veio no dia seguinte, quando uma equipe foi retirar o corpo do animal. João lembrou que Negão era um cachorro forte e bem cuidado, apesar de já estar em uma idade avançada.
"Ele estava velho, mas com saúde muito boa. Mesmo que nem tudo possa ser feito, a gente dá um jeito. O importante é tratar o animal, não só com ração, mas também com carinho e atenção", disse ele.
A perda foi um golpe duro para João, que lamentou: "Eu tenho que fazer carinho em um e no outro, né? Porque lá é uma briga constante, um tem ciúmes do outro, e o outro também tem ciúmes. Mas no fim, é assim que funciona. Perdi meu Negão, bonitão, coitado."
Uma vida difícil
João não tem família. Seus únicos laços mais próximos, como ele mesmo contou, sempre foram os cachorros. Embora seja bem conhecido entre os trabalhadores e frequentadores da praça Nossa Senhora da Conceição, a história de seu João não começou em Franca.
Ele nasceu em Bauru, a 298 km de distância. Quando tinha apenas 11 anos, sua mãe faleceu inesperadamente, e ele passou a viver sob os cuidados de seu pai, com quem nunca teve uma boa relação. João descreve o pai como um homem violento. "Ele me pegava pelas pernas e me jogava uns dois metros... aquele homem era muito ruim", relembrou.
Os abusos de seu pai levaram João a tentar suicídio ainda na infância. Ele pulou em um açude perto da cidade, mas foi resgatado por uma mulher que passava por ali. Depois disso, João fugiu de casa e nunca mais voltou. "Minha mãe morreu, e eu pensei: 'se eu ficar, ele vai me matar também'. Naquela época, os pais eram muito cruéis, não são como os pais de hoje. Quando vejo as crianças agora, fico pensando... se eu tivesse tido algo assim na infância, talvez eu não fosse o que sou hoje", refletiu.
Gratidão e perda
Apesar de todas as dificuldades, João destaca a ajuda que sempre recebeu da população de Franca. Embora haja algumas críticas e pessoas contrárias à sua presença na praça, a grande maioria sempre foi solidária.
A perda de Negão, para ele, é sentida profundamente, pois o cachorro fazia parte de sua "família". "Além de Deus, o cachorro é nosso maior parceiro, o grande anjo da guarda que anda com a gente. Ele é o melhor amigo que existe. O amigo de hoje é o dinheiro, né? Mas o cachorro não tem isso... Ele estava bonito. Quando ele chegou aqui, entrei em desespero, fiquei em depressão, mas é isso. Negão, bonitão, saudável, lindão. Infelizmente, só ficou a tristeza e a lembrança", concluiu, com a voz embargada.
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Comentários
3 Comentários
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Augusto 23/03/2025Um Absurdo !! A Polícia tem que investigar!!
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Claudia 23/03/2025Muito triste,a vida desse senhor desde a infância e a do seu amigo que se foi. Uma maldade . Um dia de chuva ele cobrou os cachorros ,tava todos deitadinhos.
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Keila 23/03/2025A Justiça Divina é Dele que tudo vê.