
Ao menos 12 idosos que realizaram cirurgia de catarata durante um mutirão no AME (Ambulatório de Especialidades Médicas) de Taquaritinga ficaram cegos ou com a visão comprometida. Em sua visita a Ribeirão Preto neste sábado, 8, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que cobrará providências e explicações.
Segundo reportagem da EPTV Ribeirão Preto, os pacientes participaram do mutirão no dia 21 de outubro do ano passado e, logo após o procedimento, alguns deles começaram a ter complicações da saúde dos olhos.
Os pacientes chegaram a informar os médicos sobre as dores e a visão embaçada, mas o profissional que atendeu o grupo afirmou que a situação era normal e que os sintomas desapareceriam posteriormente.
O pintor Carlos Augusto Rinaldi, de 66 anos, já havia feito a cirurgia no AME em 2023, no olho direito. O primeiro procedimento foi bem-sucedido, mas a segunda cirurgia o fez perder a visão do olho esquerdo.
“No segundo dia após a cirurgia, a médica constatou que estava tudo normal, mas não estava. Ela era uma especialista e já deveria ter falado. Aí foram segurando a gente, enganando. 'Daqui um mês, dois meses, pode ser que a visão volte'. Passaram um, dois meses, três meses, e nada”, contou o pintor, que mora em Santa Ernestina.
O problema se agravou
A situação dos idosos piorou quando eles participaram de uma reunião em novembro de 2024 no AME. Segundo os pacientes, na ocasião foram informados de que seriam encaminhados para centros de referência em oftalmologia na Santa Casa de Araraquara e no HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão Preto. Já nos centros especializados, parte deles recebeu a notícia de que a situação era irreversível.
E como ficam os pacientes?
Apesar de a cirurgia ter sido realizada em outubro e os pacientes encaminhados para centros de referência em novembro, a Santa Casa de Franca, que gere o AME de Taquaritinga, só comunicou o Governo do Estado sobre o problema em janeiro deste ano.
“O fato está sendo apurado. Assim que soubemos, por meio da OS que gerencia essa unidade, enviamos a nossa equipe de Vigilância Sanitária e a equipe da Controladoria de Gestão de Serviços em Saúde, que coordena os AMEs no estado, para um levantamento detalhado de tudo o que pode ter ocorrido na cirurgia”, disse a secretária executiva de Saúde do Estado de São Paulo, Priscilla Perdicaris, à EPTV.
O governo estadual solicitou laudos médicos para apurar o que aconteceu e, posteriormente, tomar as medidas necessárias. No entanto, a sala de esterilização do AME foi interditada após uma visita técnica de membros das vigilâncias sanitárias estadual e municipal, que identificaram inadequações no local. As cirurgias foram suspensas.
Governador quer explicações
O governador Tarcísio de Freitas, que visitou a região neste fim de semana, afirmou que cobrará explicações da Santa Casa de Franca e que a instituição será responsabilizada pelos danos aos pacientes.
Em sua coletiva, ele classificou o caso como pontual e afirmou que o governo já estuda uma possibilidade de indenização administrativa para as vítimas.
"Precisamos compreender todo o contexto para tomar as medidas necessárias e evitar que situações como essa se repitam. Neste momento, nosso foco é prestar todo o auxílio e assistência às pessoas que estão sofrendo com esse problema. Ainda não sabemos ao certo se a causa foi material inadequado ou contaminação, mas vamos investigar a fundo para tomar as medidas corretivas e garantir que isso não aconteça novamente", disse o governador.
Santa Casa diz que instaurou sindicância e lamenta o fato
Contatado pela reportagem do GCN/Sampi Franca, o Grupo Santa Casa de Franca se posicionou por meio de nota, informando que instaurou uma sindicância interna rigorosa para apurar os fatos ocorridos no AME de Taquaritinga em 21 de outubro de 2024. A sindicância contou com a avaliação de uma especialista em córnea, que foi designada para fornecer uma segunda opinião médica sobre os casos.
O texto diz que, desde sua inauguração, o AME de Taquaritinga já realizou 7.256 cirurgias de catarata, sendo 1.303 procedimentos realizados apenas em 2024. No entanto, no referido dia, 23 pacientes passaram por cirurgia, e 12 deles apresentaram complicações pós-operatórias. “Os pacientes foram encaminhados para unidades de referência em Araraquara e Ribeirão Preto, onde continuam recebendo acompanhamento especializado. Houve fornecimento contínuo de medicação necessária para o tratamento das complicações. Os pacientes afetados foram inseridos na fila de transplante de córnea do Estado”, cita um trecho da nota.
O texto segue, dizendo que a sindicância solicitou laudos técnicos dos materiais e medicamentos utilizados, e todos os laudos indicaram que não houve alterações nos itens em questão. A investigação concluiu que houve uma troca no protocolo assistencial, especificamente no preparo cirúrgico, o que afetou exclusivamente 12 pacientes dos 23 operados neste dia. Como resultado, todos os profissionais diretamente envolvidos foram afastados de suas funções, e medidas corretivas foram implementadas para reforçar os protocolos de segurança e evitar a repetição do incidente.
Por fim, o Grupo Santa Casa de Franca cita que “lamenta profundamente o fato isolado grave ocorrido e reafirma seu compromisso com a qualidade, segurança e transparência no atendimento à população”.
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Comentários
1 Comentários
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PATRICIA 10/02/2025Por isso há a necessidade de observar se o paciente tem alguma comorbidade que o empeça de realizar a cirurgia em nível ambulatorial. As vezes, na pressa de zerar as filas de cirurgia, e com os mutirões, cuja preparação é rápida, pode \"passar batido\" o preparo adequado.