200 ANOS

Franca: 'capital' do e-commerce, tecnologia, medicina e direito

Por Pedro Baccelli | da Redação
| Tempo de leitura: 8 min
Sampi/Franca
Reprodução
Bairro São José, em Franca, visto do alto
Bairro São José, em Franca, visto do alto

Das fábricas de calçados do Distrito Industrial ao Jardim Paulistano. Da bola laranja que subiu no Clube dos Bagres à consagração no "Pedrocão". Do apito da Maria Fumaça, que escoou os grãos de café da Alta Mogiana, à riqueza das pedras preciosas. Tradições que se misturam e ajudam a contar a história da cidade.

Franca chega aos 200 anos reverenciando seu passado. Mas engana-se quem pensa que o município parou no tempo. A "capital do calçado", "capital nacional do basquete" ou "terra do café", como tradicionalmente é apelidada, transformou-se em um polo tecnológico, varejista e de serviços, com oportunidades de emprego e uma economia diversificada.

De acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento, 56.341 empresas estão ativas na cidade, sendo 1.074 abertas em 2024. Além disso, há 102.137 trabalhadores com carteiras assinadas, distribuídos entre os setores de Serviços (41.636), Comércio (28.125), Indústria (27.972), Construção Civil (3.400) e Agropecuária (1.005).

Entre esses setores destacam-se a nova economia, representada pelo e-commerce e empresas de tecnologia, seja na área de equipamentos e até financeira. A cidade também é polo do direito e da medicina, atraindo pessoas de todos os cantos do país. 

E-commerce

O diretor da ExpoEcomm, William Israel, destaca que o setor de e-commerce em Franca contou com dois grandes nomes do cenário nacional como propulsores: Magazine Luiza e Loja do Mecânico. "A Magalu foi pioneira no Brasil. Lá no início dos anos 1990, inauguraram uma loja virtual na Avenida Abrahão Brickmann (no Jardim Portinari). Era algo inovador para a época: computadores conectados à central, onde os clientes escolhiam produtos por fotos e catálogos virtuais, com a ajuda de vendedores".

Sobre a Loja do Mecânico, William completou que a empresa entrou no mundo digital em 1998, com vendas por catálogos e fóruns especializados. "Hoje, são referência como a maior loja virtual do segmento no Brasil. Essas duas empresas abriram caminho e mostraram ao mundo que Franca tem DNA de inovação".

Aliadas às pioneiras, a indústria calçadista também aderiu ao e-commerce. Diante da crise econômica e da concorrência dos produtos chineses, as fábricas se reinventaram e passaram a atuar no mercado digital, seja com vendas para lojistas ou diretamente para o consumidor final. Esse ecossistema se consolidou com o surgimento de empresas de tecnologia e a chegada de operadores logísticos.

Mas, afinal, quais produtos francanos são os carros-chefes digitalmente? O calçado, seguindo a tradição, lidera a preferência do consumidor. A lista continua: "Franca tem mostrado força em outros nichos, como equipamentos fitness, moda íntima e vestuário. É impressionante como o digital possibilitou o surgimento de empreendedores em praticamente todos os cantos da cidade".

No setor de Comércio, conforme dados da Secretaria de Desenvolvimento, 3.576 empresas atuam na área de vestuário, calçados e acessórios, 4.106 no comércio de alimentos, 2.532 no comércio de produção em geral, 2.757 em materiais de construção, 1.858 em produtos cosméticos e 1.509 em equipamentos de informática e comunicação.

Para William, mais de uma década de aprendizado construíram um futuro sólido. "Tenho certeza de que Franca continuará sendo referência no e-commerce, mostrando que inovação e tradição podem andar de mãos dadas".

Tecnologia

E-commerce e tecnologia caminham lado a lado — uma conexão que Rodrigo Carvalho, CEO da Irroba e-Commerce, conhece profundamente. Ele explica que o desenvolvimento do setor tecnológico em Franca foi impulsionado por empresas de diferentes segmentos, como a própria Irroba, no comércio digital, e a CTBC, atual Algar Telecom, na área de telefonia.

"Eu acredito que Franca sempre foi um polo tecnológico, lembrando que foi a segunda cidade do país a ter celular, graças à CTBC, que sempre apostou muito na cidade, pois era um braço estratégico no estado de São Paulo", afirmou Rodrigo. Franca também foi uma das primeiras do país a ter sinal 5G.

Na área aeroespacial, a cidade abriga empresas voltadas à produção de drones. Já no setor da construção civil, o futuro do Brasil passa por Franca, onde a Free Form constrói imóveis utilizando uma impressora 3D. Com capacidade para atuar em áreas de até 17,5 x 23,5 metros e alturas de até 6,5 metros, a máquina é capaz de imprimir casas e galpões de até dois andares.

"Nos bastidores, essas grandes empresas se reúnem para trazer muita inovação e tecnologia para a nossa cidade. São avanços de uma forma fantástica. Franca vai completar 200 anos com grandes empresas fazendo a diferença", comentou.

Um dos desafios do setor, segundo Rodrigo, é encontrar mão de obra qualificada. "O mercado em Franca absorve tanto profissionais da cidade quanto de outras regiões, mas estamos sempre lutando e correndo para ‘criar’ mais pessoas para trazer para essa cidade linda", destacou.

Dificuldades de lado, Rodrigo enxerga potencial para o município continuar crescendo na área e levando suas inovações para além das fronteiras. “É a tecnologia da nossa cidade para o mundo”. 

Hoje, o Magalu Labs e fintechs empregam centenas de profissionais da área da tecnologia em Franca.

Inovação em combustível

No saneamento, Franca também foi pioneira na universalização da água encanada e coleta de esgoto. Hoje a cidade possui uma planta de combustível inovadora: o Sistema de Beneficiamento do Biogás. Desde 2018, a Sabesp, em parceria com o Instituto Fraunhofer, da Alemanha, transforma o gás gerado no processo de tratamento de esgoto em biometano, combustível utilizado para abastecer 40 carros da Sabesp de Franca. "Isso significa eficiência, economia para a Companhia e também cuidado com o meio ambiente, através do conceito da economia circular", aponta a Sabesp.

“Os rejeitos na ETE Franca viram insumos. Focamos no reuso de recursos, em transformar problema em solução. Antes o gás era queimado, agora tem destinação muito mais nobre”, destacou o superintendente da Sabesp de Franca, Gilson Santos de Mendonça.

Direito

O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Franca, Acir Matos Gomes, explica que a tradição de Franca na área do Direito teve início com a criação da FDF (Faculdade de Direito de Franca), por meio da Lei Municipal n° 653, de 8 de agosto de 1957, após autorização do então presidente da República, Juscelino Kubitschek. A faculdade conquistou sua sede própria quando a Prefeitura de Franca recebeu a doação da área da antiga “Chácara das Freiras”, localizada na Avenida Major Nicácio, em março de 1969. 

Desde então, o curso de Direito se consolidou na cidade, sendo posteriormente incorporado por outras instituições, como Anhanguera, Unesp (Universidade Estadual Paulista) e Unifran (Universidade de Franca).

“Com a criação dos cursos de Direito na cidade de Franca, vários profissionais se formaram e passaram a ocupar cargos e funções importantes. Temos inúmeros juízes, promotores, delegados, advogados, procuradores, defensores públicos, políticos, além de comerciantes e empresários que, embora não atuem diretamente na área jurídica, são oriundos desses cursos”, afirmou Acir.

“Mercado saturado” ou “exportando advogados”. Todo estudante que escolhe cursar Direito possivelmente já ouviu essas ou frases semelhantes. Porém, para o presidente da OAB Franca, sempre há espaço para novos profissionais no mercado de trabalho, desde que observadas algumas condições.

“O que se tem exigido do profissional é que ele tenha uma formação de excelência. O mercado faz sua seleção, e o profissional que não estuda, não se atualiza e não participa de grupos ou comunidades de estudo acaba não sendo reconhecido. Consequentemente, sua remuneração se torna insuficiente”, destacou Acir.

Para Acir, o caminho da cidade continuará ligado ao do direito e formando profissionais de excelência. “Franca produz muito conhecimento jurídico e esse conhecimento ultrapassa as fronteiras das universidades, da cidade, do Estado de São Paulo e do Brasil”, finaliza.

Polo de medicina

Franca se destaca também como um importante polo regional na área da saúde, oferecendo serviços de alta qualidade que atraem pacientes de dezenas de cidades vizinhas. Com uma estrutura robusta, composta por hospitais de referência, clínicas especializadas e um sistema público em expansão, a cidade é reconhecida por sua contribuição no atendimento médico e na formação de profissionais da saúde.

Entre os principais hospitais de Franca, destaca-se a construção do Hospital Estadual de Franca, pelo Governo do Estado de São Paulo. A unidade será referência em atendimento de média e alta complexidade e atenderá uma população de mais de 600 mil habitantes na região.

No setor privado, o destaque é o Hospital São Joaquim – Unimed Franca, que oferece atendimento particular com foco em alta tecnologia e humanização. A unidade conta com centros de diagnóstico por imagem, UTI adulto e neonatal, além de um pronto-socorro que atende emergências de diversas complexidades.

No setor filantrópico, o Grupo Santa Casa de Franca desempenha papel crucial ao gerir três unidades: a Santa Casa, uma das instituições mais antigas da cidade, o Hospital do Coração e o Hospital do Câncer.

Além disso, Franca tem investido no fortalecimento da atenção primária, com a expansão das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e a construção do novo NGA.

A cidade também é conhecida por suas clínicas de especialidades, que abrangem áreas como ortopedia, dermatologia, oftalmologia e odontologia, além de um mercado crescente de serviços ligados à saúde mental e reabilitação física.

Outro fator relevante é o papel da cidade na formação de profissionais da saúde. Instituições como a a Unifran (Universidade de Franca) e o Uni-Facef (Centro Universitário de Franca) são responsáveis por formar médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e outros especialistas que atuam não apenas na cidade, mas em diversas regiões do Brasil.

Com essa ampla estrutura e uma crescente demanda por serviços de saúde, Franca se posiciona como um centro de excelência, atendendo tanto sua população quanto milhares de pacientes que buscam na cidade um atendimento de qualidade e acessível.

Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Comentários

5 Comentários

  • Francano Sensato 02/12/2024
    Achei interessante a fala que falta mão de obra qualificada em tecnologia... Tenho 12 anos de experiência em tecnologia e há alguns bons anos não trabalho para empresas de Franca, assim como muitos amigos Fatecanos que tenho. Claro que nunca vão achar MO, pagando mal pra caramba, vou dar um exemplo: Um profissional sênior ganha 10k, os caras oferecem 5k... Melhorem o orçamento para MO e vcs terão profissionais, simples e pratico. Eu mesmo adoraria trabalhar para alguma empresa de Franca, mas pagando mal como pagam, acabo indo para outros destinos.
  • Sebastião 29/11/2024
    Antigamente pichavam Terra do Capim Mimoso e da Erva Braba, hoje nem se pode dizer que o nome do jogo é tapioca.
  • Darsio 29/11/2024
    Capital da medicina também é demais. Temos dois cursos particulares, em que o acesso a eles é proibitivo para os jovens de classes baixa e média, pouco se destacam em termos de pesquisa. Diferente de universidades públicas paulistas e federais que, como sabemos não se destacam somente pela excelência no ensino, mas também no campo da pesquisa e da extensão. Se nossas elites não fossem tão mesquinhas, já podíamos ter tido um instituto federal que, num futuro próximo poderia resultar numa universidade federal.
  • Jão 28/11/2024
    O que adianta dizer que Franca é tudo isso se não tem emprego na área da tecnologia.
  • Darsio 28/11/2024
    Polo tecnológico? Menos, vai...