A disputa pela presidência da Câmara Municipal, que indicava favoritismo para Daniel Bassi (PSD) e uma relativa tranquilidade no caminho para a confirmação de sua vitória, parece ter sofrido uma reviravolta nos últimos dias. “Ele queimou a largada”, disse um experiente vereador, na condição de anonimato. A candidatura de Marcelo Tidy (MDB), até então considerada “sem chance”, ganhou alguma esperança. Marco Garcia (PP), que volta à Câmara após quatro anos ausente, tem sido apontado como uma alternativa “mais segura” e “sólida”, mas tem alguns obstáculos a superar para se mostrar viável. O principal deles, se assumir como candidato.
Dois erros são apontados como os principais responsáveis por complicar a articulação de Daniel Bassi, que chegou a comemorar nove votos de apoio à sua candidatura. O primeiro, quando decidiu, para agradar os novos vereadores eleitos, entrar numa disputa com o atual presidente, Della Motta (Podemos), por conta da fixação da data do recesso parlamentar no regimento interno do Legislativo. Bassi defendia que a atribuição continuasse exclusiva do presidente, enquanto Della Motta gostaria designar datas fixas para o recesso. O clima azedou, e Bassi atraiu a antipatia de parte significativa dos servidores de carreira da Câmara.
O segundo erro é considerado ainda mais grave: a negociação que fez diretamente com a bancada do PL em busca de apoio. Pelo acordo, em troca dos votos do PL, Fransérgio Garcia seria indicado o vice-presidente. Num único movimento, Bassi irritou profundamente o Executivo, que não gostaria de ver nenhum integrante da bancada do partido de João Rocha em posição de destaque, provocou desconforto nos reeleitos, que acham injusto alguém que acabou de chegar ganhar protagonismo, e afastou os dois votos da esquerda, de Gilson Pelizaro (PT) e Marília Martins (Psol), que ideologicamente teriam muita dificuldade em votar num candidato ligado ao bolsonarismo.
“Eles (os quatro vereadores eleitos pelo PL) querem conversar para saberem o que a presidência pode fazer para eles enquanto propostas para o próximo ano. Vou sentar com os quatro na próxima semana e acertar todos esses questionamentos. Sobre a vice-presidência da Câmara ou mesmo compor a Mesa não há nada acertado com o Fransérgio. A gente conversou, sim, sobre a vice-presidente, mas nada (foi) acertado”, afirmou Bassi.
Bassi tentou acionar o modo “bombeiro”, já que dos nove votos que contabilizava, além daqueles do PL, pelo menos cinco deles, da base governista, são considerados absolutamente leais e identificados com o prefeito Alexandre Ferreira. Sem esses cinco votos da base, e sem os dois da esquerda, seria praticamente impossível para Bassi alcançar a maioria.
Depois de inicialmente tentar defender o nome de Fransérgio, Bassi rifou o apoiador e tentou aparar as arestas com o gabinete. Fez reuniões com o prefeito, mas o sinal que esperava não veio. Bassi sonhava com um “de acordo” de Alexandre até esta terça-feira, 26, que sinalizasse à base de apoio que sua candidatura contava com a simpatia do paço municipal. Mas do segundo andar da sede do Executivo, não saiu sinal nenhum. Nos corredores da prefeitura, a candidatura de Bassi é considerada carta fora do baralho.
Quem não lamentou o erro de Bassi foi seu colega, Marcelo Tidy. Até agora com apenas dois votos certos em seu apoio, viu subitamente passar a ser considerado uma alternativa palatável, ainda que não ideal, pelo perfil tido como demasiadamente “light”. Ontem, durante participação no programa A Hora é Essa, da rádio Difusora, fez questão de rechaçar a crítica de que falta firmeza a suas posições e dizer que é viável. “Eu sempre fui firme nos meus posicionamentos. Fui o vereador que mais usei a tribuna, que apontou erros, fiz inúmeros requerimentos. Fui firme sim, respeito a opinião de alguns, mas sempre tive minhas responsabilidades”, garantiu.
Marco Garcia corre por fora
Ex-vereador e ex-presidente da Câmara Municipal em quatro oportunidades, Marco Garcia (PP) está de volta à Câmara Municipal após um hiato de quatro anos. Chegou a dizer que não tinha pretensões de ocupar nenhum cargo na mesa diretora e acenou com um possível apoio a Daniel Bassi, mas calibrou o discurso nos últimos dias e parece agora bem mais propenso a entrar na disputa.
Oficialmente, Marco ainda não se coloca como “candidato”, mas igualmente parou de dizer que não quer o posto. Também sintomático, evita falar em apoio a Daniel Bassi. “Com respeito à presidência, vou repetir. Se eu for visto como a melhor alternativa pelos colegas, não rejeito nem recuso”, afirmou nesta terça-feira, 25. “Tenho experiência, afinal de contas, foram cinco mandatos (como vereador), quatro vezes presidente da Casa. Além disso, tenho coragem de sobra para poder fazer aquilo que tem que ser feito. Portanto, nesse momento eu não estou candidato, mas só que se cair no meu colo eu não rejeito não”, disse.
Apesar de ter mantido uma relação turbulenta com Alexandre Ferreira durante anos, ambos se reaproximaram na última campanha e Marco fez parte da coligação que apoiou o prefeito. Durante a disputa, não apenas declarou voto em Alexandre, como também defendeu o prefeito dos ataques de João Rocha e participou ativamente da corrida eleitoral. Ganhou pontos importantes junto a membros relevantes do gabinete.
Alexandre Ferreira evita se posicionar e mantém silêncio sobre a disputa na Câmara, mas crescem os sinais vindos dos bastidores que sinalizam para seu apoio ao nome de Marco Garcia. Além da experiência, pesa a favor de Marco a resiliência e capacidade de aguentar pancada, qualidades vistas como essenciais para 2025, quando pautas polêmicas deverão ser discutidas e votadas pelos vereadores, como a reforma administrativa e os detalhes da nova licitação para o transporte coletivo. “Se a disputa fosse hoje, Marco teria o apoio do prefeito e da base governista”, disse um assessor com acesso direto ao prefeito. “Mas ainda falta um mês para a definição. Muita coisa pode acontecer”.
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