EM FRANCA

‘Nunca imaginei que veria queimadas no estado de SP’, diz Drauzio

Por Pedro Baccelli   | da Redação  
| Tempo de leitura: 4 min
Sampi/Franca
Pedro Baccelli/GCN  
Drauzio Varella durante palestra no ginásio da Unifran
Drauzio Varella durante palestra no ginásio da Unifran

O médico oncologista, escritor e maratonista Drauzio Varella palestrou neste sábado, 14, no ginásio da Unifran (Universidade de Franca). Antes de subir ao palco, ele concedeu entrevista ao Portal GCN/Rede Sampi, onde abordou temas como as queimadas e as sucessivas crises de saúde enfrentadas na região.

As queimadas no interior paulista em 2024 ganharam destaque nacional. Na região de Franca e Ribeirão Preto, pelo menos cinco pessoas foram presas por provocarem incêndios. Segundo a Defesa Civil, 23 municípios do estado amanheceram com focos ativos neste sábado. Realidade inimaginável para Varella: “Nunca imaginei que iria ver queimadas no estado de São Paulo. Uma queimada isolada, mas uma coisa assim, espalhada por regiões. Hectares e hectares de áreas pegando fogo”.

Neste ano, os francanos – e grande parte do país – precisaram enfrentar uma explosão nos casos de dengue, gripe e, agora, os efeitos das queimadas. Para o médico, sucessivos “desafios” na Saúde continuarão a acontecer. A população precisa buscar meios de prevenção para reforçar suas defesas no enfrentamento das anormalidades.

“Você acha que faz sentido, no meio dessa poluição que vocês enfrentam aqui, vendo essa poluição no ar, a gente sair na rua sem máscara? Faz sentido isso? Não deveríamos estar usando máscara? Eu mesmo estou aqui sem máscara nenhuma. É um desleixo nosso. Principalmente as crianças, que estão andando e respirando esse ar visivelmente poluído. Você anda de manhã e, quando toma banho, vê a fuligem que estava nas mucosas. Essas mudanças de comportamento terão que acontecer, porque os desafios vêm de todos os lados”.

“Envelhecem mal” 

Drauzio disse que os “brasileiros envelhecem e envelhecem mal”. Durante a palestra, ele perguntou ao público quem tinha um parente próximo com diabetes ou hipertensão. Nesse momento, grande parte da plateia levantou a mão. O médico brincou, dizendo que as pessoas agem com normalidade ao tratar desses problemas, mas que eles são prejudiciais.

“Isso tem um impacto grande na assistência médica. Não há perspectiva de cura. Você não vai curar diabetes ou pressão alta. O objetivo do tratamento é o controle. Por quanto tempo? O resto da vida dessa pessoa: 10, 20 ou 30 anos. Você não dá alta. Isso estressa os serviços de saúde, porque aumenta muito a necessidade de o paciente voltar, fazer exames e manter esse controle”.

Como enfrentar?

As doenças são acompanhadas das complicações. "Infarto do miocárdio, AVC (Acidente Vascular Cerebral), insuficiência renal e cegueira. Complicações que geram altos custos para o sistema de saúde. E não é apenas o SUS (Sistema Único de Saúde); os planos de saúde também estão enfrentando esse problema".

Problemas que carecem de planejamento para serem solucionados. "É necessário encaminhar com inteligência. A grande maioria dos problemas de saúde, quando tratados desde o início para evitar complicações, pode ser resolvida. Temos o maior programa do mundo destinado a esse tipo de controle, que é o programa Estratégia Saúde da Família".

"Quando esse programa funciona bem, resolve 90% dos problemas de saúde. Ele controla a pressão arterial, verifica se aquela senhora está tomando os medicamentos corretamente, se não abandonou o tratamento, e oferece toda a orientação necessária. E então você tem 10% dos casos que precisam ser encaminhados para um hospital", completou.

Para Drauzio, a estrutura do Brasil para atender está pronta, mas faz ressalvas. "Isso é o que mais dói. O que falta é articulação. Você sente dor de garganta e vai à UBS (Unidade Básica de Saúde) do seu bairro. Chega lá e não tem consulta disponível no dia. Hoje é sexta-feira, e marcam para te atender na quarta-feira. Até quarta-feira, ou eu já morri ou estou curado. O que você faz? Vai ao pronto-socorro. E aí você vê os prontos-socorros lotados de pessoas revoltadas por estarem esperando há horas, sem sequer um lugar para sentar. Se você coloca um médico e uma enfermeira, 90% dessas pessoas são atendidas e mandadas para casa. Elas não precisariam voltar ao pronto-socorro, porque seriam medicadas e liberadas".

Evento

Com as cadeiras na quadra e as arquibancadas de concreto abarrotadas de público, Drauzio Varella começou a palestra às 10h30. Ele brincou, dizendo que faz palestras com frequência, mas que sempre fica nervoso ao subir no palco.

O médico alertou os estudantes sobre a luta que enfrentarão até se consolidarem. “A competição que vocês vão enfrentar não é brincadeira em todas as áreas”. Completou dizendo para não desistirem. “As pessoas que conseguem são aquelas que insistem, são aquelas que têm firmeza”.

Drauzio afirmou que a inteligência artificial não vem para facilitar o trabalho, mas sim para aumentar a produtividade dentro daquele período de tempo. Quem não conseguir entregar mais, poderá ser substituído no mercado de trabalho.

Outros temas abordados foram a importância do enfermeiro no tratamento médico e o fato de que as mulheres são mais fortes que os homens, possuindo organismos mais complexos e aumentando sua expectativa de vida.

A palestra terminou às 11h49. Drauzio Varella abriu o Mochilão, Feira de Profissões, da Unifran.

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