OPINIÃO

Queimadas, doenças respiratórias e o INSS

Por Tiago Faggioni Bachur | Especial para o GCN/Sampi Franca
| Tempo de leitura: 6 min

Nos últimos dias, a qualidade do ar piorou (e muito) por conta das queimadas. Focos de incêndio se espalharam por todo o Brasil. A principal suspeita é de que as queimadas tenham sido provocadas por ação humana. A Defesa Civil informou que os incêndios na vegetação deixaram várias vítimas, alguns mortos e outros feridos.

Como se sabe, a fumaça das queimadas pode causar uma série de problemas respiratórios e de saúde em geral. Aqui estão algumas das principais doenças e condições que podem surgir devido à inalação da fumaça:

  • Bronquite Aguda: Inflamação dos brônquios, causando tosse, produção de muco e dificuldade para respirar. 
  • Asma: A exposição à fumaça pode desencadear ou agravar crises de asma, especialmente em pessoas que já têm a condição. 
  • Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC): A fumaça pode piorar os sintomas de DPOC, como falta de ar e tosse crônica.
  • Pneumonia: A inalação de partículas pode levar a infecções pulmonares, como a pneumonia.
  • Problemas Cardiovasculares: A exposição prolongada à fumaça pode aumentar o risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
  • Câncer de Pulmão: A exposição contínua a partículas finas presentes na fumaça pode aumentar o risco de desenvolver câncer de pulmão.

Ainda, podem surgir sintomas mais imediatos como tosse seca, dor de cabeça, irritação nos olhos, nariz e garganta, e dificuldade para respirar.

Além das doenças respiratórias mencionadas anteriormente, a exposição prolongada à fumaça das queimadas pode causar ou agravar outras condições de saúde, como:

  • Rinite Alérgica: A fumaça pode irritar as vias nasais, levando a espirros, coriza e congestão nasal.
  • Sinusite: A inflamação dos seios nasais pode ser exacerbada pela inalação de partículas presentes na fumaça.
  • Conjuntivite: A fumaça pode causar irritação nos olhos, levando a vermelhidão, coceira e lacrimejamento.
  • Dermatite: A exposição à fumaça pode causar irritação na pele, resultando em erupções cutâneas e coceira.
  • Intoxicação por Monóxido de Carbono: A inalação de grandes quantidades de monóxido de carbono presente na fumaça pode levar a sintomas como dor de cabeça, tontura, fraqueza e, em casos graves, perda de consciência.
  • Problemas de Saúde Mental: A exposição contínua à fumaça e a preocupação com os incêndios podem aumentar o estresse, a ansiedade e outros problemas de saúde mental.

É importante tomar medidas para proteger a saúde, como evitar a exposição direta à fumaça, manter os ambientes internos bem ventilados e usar purificadores de ar, se possível. Se os sintomas persistirem ou se agravarem, é essencial procurar atendimento médico.

Mas qual a relação dessas doenças com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)?

As doenças causadas pela exposição à fumaça das queimadas podem ser incapacitantes, dependendo da gravidade e da duração da exposição. Aqui estão alguns pontos importantes a considerar:

Por que essas doenças podem ser incapacitantes?

  • Dificuldade Respiratória: Condições como bronquite, asma e DPOC podem causar falta de ar severa, limitando a capacidade de realizar atividades físicas e tarefas diárias.
  • Fadiga e Fraqueza: A exposição ao monóxido de carbono e outras toxinas pode levar a fadiga extrema e fraqueza, afetando a produtividade.
  • Infecções e Inflamações: Pneumonia e outras infecções respiratórias podem exigir hospitalização e repouso prolongado.
  • Problemas Cardiovasculares: A fumaça pode agravar condições cardíacas, aumentando o risco de infartos e AVCs, que podem ser debilitantes.

Como pode afetar o trabalhador?

  • Redução da Capacidade de Trabalho: A dificuldade respiratória e a fadiga podem reduzir a capacidade de um trabalhador realizar suas funções, especialmente em trabalhos que exigem esforço físico.
  • Afastamento do Trabalho: Em casos graves, pode ser necessário afastamento temporário ou até mesmo permanente do trabalho.
  • Impacto Psicológico: O estresse e a ansiedade relacionados à saúde podem afetar a concentração e a eficiência no trabalho.

Nesses casos, a incapacidade pode ser total, impedindo completamente o trabalho, ou parcial, limitando apenas algumas atividades.

Em outras circunstâncias, a incapacidade pode ser temporária, com recuperação após tratamento, ou permanente, se houver danos irreversíveis aos pulmões ou ao coração.

Exemplos de Incapacidades:

  • Temporária: Uma crise de asma severa pode exigir alguns dias de repouso e tratamento, mas o trabalhador pode retornar ao trabalho após a recuperação.
  • Permanente: A DPOC avançada pode resultar em incapacidade permanente, limitando a capacidade de realizar qualquer trabalho físico.

Os trabalhadores que sofrem com doenças ou incapacidades decorrentes da exposição à fumaça das queimadas podem ter direito a diversos benefícios do INSS. Aqui estão os principais benefícios e seus requisitos:

1. Auxílio-Doença (Incapacidade Temporária)

A) Situação: Quando o trabalhador está temporariamente incapaz de trabalhar devido a uma doença ou acidente.

B) Requisitos:

  • Incapacidade Temporária: Comprovada por laudo médico, após perícia.
  • Carência: Mínimo de 12 contribuições mensais, exceto em casos de acidente de qualquer natureza ou doenças graves especificadas em lei.
  • Qualidade de Segurado: Estar contribuindo para o INSS ou estar no período de graça (tempo em que o trabalhador mantém a qualidade de segurado mesmo sem contribuir).

2. Aposentadoria por Invalidez (Incapacidade Permanente)

A) Situação: Quando o trabalhador está permanentemente incapaz de exercer qualquer atividade laboral.

B) Requisitos:

  • Incapacidade Permanente: Comprovada por laudo médico, após perícia.
  • Carência: Mínimo de 12 contribuições mensais, exceto em casos de acidente de qualquer natureza ou doenças graves especificadas em lei.
  • Qualidade de Segurado: Estar contribuindo para o INSS ou estar no período de graça.

3. Auxílio-Acidente

A) Situação: Quando o trabalhador sofre um acidente que resulta em sequela permanente, mas que não o incapacita totalmente para o trabalho.

B) Requisitos:

  • Sequela Permanente: Comprovada por laudo médico, verificada após perícia.
  • Qualidade de Segurado: Estar contribuindo para o INSS no momento do acidente.

4. Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS)

A) Situação: Para pessoas com deficiência ou idosos com 65 anos ou mais que não possuem meios de prover a própria manutenção.

B) Requisitos:

  • Deficiência ou Idade: Comprovada por laudo médico (no caso de deficiência) ou idade mínima de 65 anos.
  • Renda Familiar: A renda per capita da família deve ser inferior a 1/4 do salário-mínimo, segundo o entendimento do INSS. No entanto, a Justiça costuma ter um posicionamento mais flexível, de modo que mesmo quando passa desse valor, caso seja comprovada a dificuldade financeira da família, o benefício pode ser pago.
  • Não Contributivo: Não exige contribuições prévias ao INSS.

Considerações importantes para todos os benefícios

  • Documentação: É essencial apresentar toda a documentação médica e pessoal necessária para comprovar a condição de saúde e a incapacidade.
  • Perícia Médica: Todos os benefícios por incapacidade exigem a realização de perícia médica pelo INSS.
  • Revisões Periódicas: Alguns benefícios, como o auxílio-doença, podem exigir revisões periódicas para verificar a continuidade da incapacidade.

Se você ou alguém que você conhece está enfrentando dificuldades devido à exposição à fumaça e acredita que pode ter direito a algum desses benefícios, é importante procurar orientação de um advogado especializado em direito previdenciário de sua confiança para obter mais informações necessárias e ajuda no processo de solicitação. Caso tenha feito o pedido no INSS, mas este foi negado é possível ingressar com ação na Justiça (preferencialmente, com o apoio de um advogado especialista em Direito Previdenciário de sua confiança.

De outra sorte, é primordial que os trabalhadores expostos à fumaça recebam cuidados médicos adequados e tomem medidas preventivas para minimizar os riscos, além de procurar orientação médica e jurídica nessas hipóteses.

Tiago Faggioni Bachur é advogado e professor de direito, especialista em direito previdenciário.

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