Algo se quebrou dentro. Pessoas não são plantas em vaso. Levanta e anda, faz o certo pelo motivo certo e ame os defeitos que cultiva: suas imperfeições são singularidades. Sejamos realistas sobre as redes sociais, vivemos numa espécie de mundo transparente como se nós fossemos plantas numa estufa: você escolhe ser samambaias ou girassol.
No "quem segue quem" das redes sociais, estranhos sabem mais sobre a nossa vida do que alguém próximo jamais soube. Aquilo que não sabem, imaginam como no seu íntimo desejam. Poderemos não gostar da superexposição, mas se nos afastarmos do coletivo para evitar desgastes, a sensação de invisibilidade pode incomodar de novo se nos privamos da amizade e da experiência singular daqueles e aquelas que admiramos por nos inspirar resiliência e criatividade.
Como lidar com as expectativas que os outros têm de nós? Aceitando nossas imperfeições comuns é uma possibilidade. Aceitar as coisas como elas são e a maneira como nós somos, viver nossas vidas de acordo com princípios espirituais que nos trouxe bem até aqui. Quanto mais seguros nos sentirmos com o nosso corpo, nossa expressão, o nosso modo de estar no mundo e as decisões que tomamos, menos preocupação teremos com as opiniões dos outros.
“Pescador, me conte por que sou um João qualquer, de todo mar eu quis me aventurar num barco só e afundou. Me ensine a fazer nó e remendar o laço que desfez, me dê a mão e me diz por quê. Me ensina a ser um homem que sabe nadar como você e corre atrás do que um dia quer viver e vai saber.” (Zé Ibarra)
Sou progressista desde os 14 anos quando comecei trabalhar em fábricas de calçados em Franca. Meu coração mineiro é budista. Quando cursei História na Unesp, decidi fazer a minha parte ensinando 3 gerações e ajudando a transformarem suas vidas através do conhecimento. Hoje, a minha militância é no campo literário onde o coração das ciências se chama poesia.
Não sou otário, se me exponho nas redes é para incomodar quem pesca, mas nada que eu faça pode mudar pessoa lugares e coisas no mundo, o bom da vida talvez seja viver conforme a maré, já não me deprimo por isso, não uso Rivotril nem cocaína. Um beijo em público ainda é mais revolucionário que mil sonetos. O deboche é uma arma eficaz. Gente que vive como samambaia não entende ironia.
Refletir de mente aberta é então importante quanto ir direto na fonte que gera informação. Conhecimento é diferente de saber: a verdade não liberta, o que liberta é o conhecimento das verdades, assim mesmo no plural.
Diante da sensação de impotência, diante dos poderes destrutivos do Mercado e do Capital internacional, podemos nada, pouco nada. O corpo é a única propriedade privada: ouçamos, ousemos, usemos.
Baltazar Gonçalves é historiador, mediador de leituras e escritor membro da Academia Francana de Letras, lançou este mês agosto/2024 sua sexta obra, o livro de contos Quando permitir a maré pela editora Patuá.
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