-Olá deputado, sou jornalista da “Menos um Dia”, gostaria de falar sobre o Projeto de Lei 1904/2024. Como o senhor se chama?
- Aparecido Herdeiro Neto
-Sr. Aparecido, o senhor disse que o projeto pretende coibir o estupro no nosso país, como?
-Isso mesmo. Criminalizando a vítima que pratica aborto, com pena de homicídio simples.
-Ah tá, combate o crime punindo a vítima, e a pena dela será maior que a do estuprador?
-Sim.
-Nobre deputado, o aborto já é uma realidade, inclusive na alta classe social.
-Minha filha fez, coitada. Quer dizer, esqueça.
-Compreendo, não preciso entrar na sua dor, a gente sabe quem serão punidas, meninas que não têm acesso ao aborto assistido, à saúde mental, sexual e reprodutiva. Condenadas antes, pelo sofrimento e humilhação.
-A senhora falou meninas?
-Claro, mais de 60% dos estupros são de meninas com até 14 anos de idade, cujos agressores são pais, tios, padrastos.
-Mas só vamos punir o aborto com mais de 22 semanas.
-O senhor não sabe que muitas demoram a identificar a gravidez justamente por conta da precariedade e violência que estão submetidas. Ninguém está dizendo que o aborto é o melhor caminho, mas certamente o melhor não é punir a vítima do estupro.
-Por que eu tenho que saber de tudo isso? Enxergar Deus não é suficiente?
-Porque o senhor é deputado! Deixe Deus para a sua vida pessoal, misturar política com religião é voltar para a Idade Média, Herdeiro Neto.
-Daqui do meu palácio não enxergo nada, jornalista.
-E o que o senhor enxerga? Tome aqui vai, coloque meus óculos.
-Credo, que óculos pesados, aumenta muito as coisas, hein?
-Não, ele mostra a realidade, dói usar, eu sei. Mas é necessário na nossa função.
-Deus que me livre.
-Agora são seus, passar bem.
-Senhores deputados, convoco uma sessão extraordinária, prova nova nos autos, vamos avaliar melhor o projeto.
-Que prova, excelência? O que não está nos autos não está no mundo.
-Descobri que o mundo é redondo, meus caros, e estou as.sus.ta.do.
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