APURAÇÃO

MEC aponta poucos professores para muitos alunos e cobra explicações da Unifran

Por Pedro Baccelli | da Redação com Folhapress
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução/Unifran
Campus da Unifran, no bairro Parque Universitário
Campus da Unifran, no bairro Parque Universitário

O Ministério da Educação está cobrando explicações da Unifran (Universidade de Franca) após encontrar indícios de desproporcionalidade na quantidade de alunos por professor em cursos EAD (Ensino a Distância). No total, 11 instituições particulares do país apresentaram média superior de 500 estudantes por docente.

Procurado pelo Portal GCN/Rede Sampi, o MEC não informou a proporção exata de estudantes por docente na Unifran. Sabe-se que no restante da rede particular a média é de 171 alunos por professor. É a primeira vez que a pasta do Governo Federal exige que particulares forneçam informações sobre a qualidade de seus cursos on-line.

“Serão notificadas as instituições que apresentaram um número desproporcional de alunos por docente. Elas terão o prazo de 45 dias para manifestarem esclarecimentos a respeito do quantitativo de professores e poderão passar por medidas de supervisão caso deficiências na oferta de seus cursos fiquem configuradas”, diz nota do MEC.

No site oficial da Unifran, constam, pelo menos, 134 cursos de graduação com modalidade 100% on-line, enquanto presencialmente são apenas 59 cursos. EAD com aulas ao vivo são 28. Já semipresencial cai para 18.

Entre as outras dez instituições com média superior de 500 alunos por professor estão as universidades Cruzeiro do Sul e Cidade de São Paulo (Unicid). Ambas fazem parte do grupo Cruzeiro do Sul, do qual a Unifran também pertence. Somadas as 11 listadas, mais de 2,8 milhões de estudantes são atendidos pelo ensino a distância, equivalente a 65% de todas as matrículas do país na modalidade.

A apuração começou após a divulgação dos dados do Censo do Ensino Superior de 2022. A pesquisa apontou que as instituições particulares reduziram o quadro de docente de 190 mil para 151 mil desde 2015. O número de matrículas subiu de 6 milhões para 7,3 milhões. O ministro da Educação, Camila Santana, diz que a rede particular detém a maior concentração de matrículas, e que o governo Luís Inácio Lula da Silva (PT) irá rever os critérios de regulação para garantir a qualidade de ensino nesta “alarmante e desafiadora” realidade.

O professor da USP (Universidade de São Paulo) e especialista em avaliação do ensino superior Oscar Hipólito diz que o Brasil necessita de cursos a distância para que a educação chegue a todos, mas questiona a falta de critérios. “As instituições têm autonomia para oferecer os cursos da forma como querem, e isso abriu o mercado de forma desordenada. O Brasil não tem uma avaliação consistente do ensino superior, por isso, não consegue coibir cursos ofertados sem qualidade, que não formam os alunos para nada”.

“Elas preferem contratar tutores, por serem obviamente uma mão de obra mais barata. Assim, eles contratam poucos professores que apenas gravam as aulas e acabam dando aula para alunos de várias regiões e até mesmo de cursos diferentes”, completa a professora do departamento de Educação da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Maria Angélica Minhoto.

A Universidade Pitágoras Unopar Anhanguera, que abriga a maior fatia das matrículas, apresenta uma média de 1.325 alunos por professor. Em uma década, a instituição observou o número de estudantes mais do que triplicar, passando de 202 mil para 693 mil, enquanto reduzia o quadro docente de 708 para 523. Já o Centro Universitário Leonardo da Vinci tem 2.594 alunos por professor.

Posicionamento da Unifran
Em nota, a Unifran informou que se trata de um pedido inicial de informações e que “dará todo suporte aos questionamentos do órgão responsável não refletindo nesse momento em um procedimento de supervisão”.

A universidade pontua que o EAD possui características distintas do ensino presencial, possibilitando ao aluno estudar com o apoio da tecnologia, tendo plataformas, inteligências artificiais e softwares como aliadas. O ensino on-line também oferece flexibilidade para que os estudantes realizem as atividades no seu próprio ritmo e horários de disponibilidade.

“O EAD Unifran conta com o suporte ativo de professores e tutores, que desempenham papel fundamental na orientação e no estímulo ao aprendizado, proporcionando um ritmo consistente para uma entrega acadêmica de qualidade aos estudantes. A Unifran reitera que todos os seus cursos à distância passam periodicamente por avaliações do MEC, nas quais apresentam conceito de excelência nos mais diversos critérios”, finaliza.

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Comentários

3 Comentários

  • Baltazar Oliveira 25/01/2024
    Se vc fizer uma limonada pra 500 copos com apenas um limão a limonada sai mais barata do que com dois limões, os alunos trazem o dinheiro, digo, a água e o açúcar, e a faculdade entra com o limão. Vai meio insípida, mas dá um lucro gostoso.
  • José Roberto 25/01/2024
    Nas aulas online da Unifran os alunos dividem a turma com pessoas de outras faculdades do grupo cruzeiro do sul e de cursos totalmente diferentes. Basta entrar na plataforma BlackBoard que a cruzeiro do sul utiliza para as aulas online que na verdade não tem aula. Você pega a apostila e tem que se virar. Autodidata totalmente!
  • JOIAS DAS ARáBIAS 25/01/2024
    A explosão de cursos EAD atendeu unicamente os interesses de grupos privados que, agigantaram seus faturamentos às custas de um ensino de qualidade deplorável e do descarte de professores. O PT esteve por mais de três mandatos no Governo e errou em não acompanhar e estabelecer limites para essa farra. As áreas de licenciatura foi uma das mais prejudicadas, o que resultou no despejo no mercado, de professores sem a mínima competência para exercer o magistério. E, para piorar o quadro, boa parte dessa farra foi financiada com dinheiro público que, deveria ser investido nas universidades públicas, permitindo uma melhor estruturação e ampliação das mesmas. E, as mesmas autoridades que proporcionaram essa farra, são os mesmos que apontam a precária formação de professores, como sendo uma das causas da precariedade do ensino básico no país. Professores são a profissão mais importante, pois a partir dela se formam todas as demais profissões e, portanto, somente seremos um país desenvolvido quando o Professor for bem formado, muito bem pago e servido de excelente condição de trabalho. Mas, será que as elites econômicas e política desse país possui interesse nisso?