NOSSAS LETRAS

Haicai

À primeira vista, o haicai é um tipo de poesia simples e fácil, contida em apenas três linhas. Leia o artigo de Luzia Izete da Silva.

Por Luzia Izete da Silva | 16/09/2023 | Tempo de leitura: 2 min
Especial para o GCN/Sampi

À primeira vista, o haicai é um tipo de poesia simples e fácil, contida em apenas três linhas, cuja temática deve transmitir uma ideia sintética e objetiva. Começa então a dificuldade. Como passar uma mensagem forte e única em três versos? Essa é apenas a primeira dificuldade pois o haicai deve seguir a métrica em 5,7,5, começa, estende, encolhe, num elástico complicado de controlar à medida que o tênue esforço do poeta deve concluir-se num objeto sintetizado.

Esta forma de poesia origina-se no Japão medieval, remontando ao século XVI ou XVII. No Brasil, foi difundido pelo imigrante japonês Hidakazu Masuda, conhecido pelo apelido de Goga, que chegou aqui em 1929, trabalhando como agricultor, sendo posteriormente comerciante em Pedregulho, interior nordeste de São Paulo. A vida do Mestre Goga seguiu seu caminho, o haicai também. Espalhou-se pelo Brasil.

Helena Kolody, paranaense de origem ucraniana, tornou-se conhecida por seus haicais, sendo a primeira poeta brasileira a publicar essa forma de poema. A cultura não tem fronteiras, e quando vemos os caminhos que ela percorre, não são linhas certas como as da palma da mão. E assim deve ser. A poesia transgride e se adapta, se inicia, se expande, se encolhe conforme o lugar em que sua verve floresce.

Vale lembrar que o haicai japonês difere um pouco do haicai brasileiro; aqui ele se enriqueceu agregando sentimentos humanos. Como algumas das características comuns o haicai tem o kigo, sendo esta o sentido de uma palavra que exalta a estação do ano em que o poema foi escrito. Sendo assim, temos quatro temas, primavera, verão, outono, inverno. O bucolismo é característica frequente. Não há título ou pretensa intelectualidade. No entanto, ao observarmos todas as características que um haicai deve conter, fica difícil não dizer que esta cepa de poesia é bastante sofisticada e de trabalhosa construção. Quando achamos as palavras, há que pensar no exíguo espaço da métrica, onde a composição deve culminar num desfile em paralelas. Ah, intrigante haicai!

A quem quiser se aventurar, além de Helena Kolody temos Paulo Leminsky, Millor Fernandes, Guilherme de Almeida e Paulo Franchetti como inspiração.

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