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NOSSAS LETRAS
Marco zero ou história em linha reta
Quando / Nesse agora hostil os deuses sabem / Sobre os caminhos dessas águas / Bebo devagar para não afogar / Minha sede que não tem fim. Leia o poema de Baltazar Gonçalves.
Por Baltazar Gonçalves | 02/09/2023 | Tempo de leitura: 2 min
Especial para o GCN
Quando / A luz do saber rompeu trevas medievais - Poder religioso da ignorância é rompido - Arte e Ciência iluminaram novos mundo - Sucederam muitas auroras e esperança - o mundo nunca mais seria como antes
Quando/ Novas engrenagens da História giram / O pulso que comanda é gana e grana / Posta nesse rumo a máquina do capital / Ainda na forma mercantil fez Mudança
Quando / Os ventos da liberdade varreram a América / O velho mundo tremeu e a monarquia cedeu / Napoleão invadiu a Europa, só Portugal restou / A Inglaterra tinha então maravilhada a chance / Trocou a segurança portuguesa pelo Brasil
Quando / Tanta terra à vista, tanto mar a explorar / Sob o desenho traçado novo contrato / Portugal e Espanha dividiram o saque / Novas Tordesilhas sangraram aldeias / Branco demarcou territórios nativos / Implantou monocultura escravocrata
Quando / Tudo conforme costume de época / Quanto grito, quanto choro e fome / O quinto do ouro nas minas gerais / Vem da triste Bahia de Gregório / Pelourinho e guerra descem rios
Quando / Orgulho da ignorância é a moeda / Não tem voz que alcance os ritos / Mais vale um poema espadachim / Que a cordial falácia da obediência / Para manter a ordem e o progresso
Quando / Sobre toda estrutura alicerçada na dor / O latifúndio monocultor escravocrata / avançou altas paredes amordaçando / Qualquer inconfidência de norte a sul / ainda somos muitos Boca do Inferno / Oxalá salve Gregório de Matos Guerra / Nada nos fará calar repete Assumpção
Quando / Rio das Velhas no Corgo dos Bagres / Sacramento violado e todos mortos / Índios, negros, mulheres e crianças / Sabará, Araxá, covas miram os montes / Franca ainda vila se gaba ter sido / Pisada por um imperador mítico
Quando / Nesse agora hostil os deuses sabem / Sobre os caminhos dessas águas / Bebo devagar para não afogar / Minha sede que não tem fim / Tem primavera em cada palma / Em cada canto palavra minha / Somos um milhão de poetas / homens mulheres e crianças / somos coletores de sons com esmero / versamos imagens em movimento / sobretudo somos pintores rupestres
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SOBRE O MAPA QUE ILUSTRA O POEMA: linha que representa o Tratado de Tordesilhas negociado em 1494 entre Espanha e Portugal, na Vila de Tordesilhas na Espanha. Esse Tratado estabelecia o meridiano imaginário 370 léguas a Oeste do Arquipélago de Cabo Verde e decidia que os territórios a Leste deste meridiano pertenceriam a Portugal e os territórios a Oeste seriam do domínio da Espanha. Os Bandeirantes paulistas romperam a linha divisória desse tratado à custa de força e violência contra os nativos.
Baltazar Gonçalves é historiador e escritor membro da Academia Francana de Letras
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TULIO FREITAS GUIMARAES
03/09/2023