NOSSAS LETRAS

Gêmeos

Tínhamos vizinhas gêmeas. Idênticas. Tão semelhantes, que faziam prova oral uma pela outra, até namoravam 'uma pela outra'... Leia o artigo de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 12/08/2023 | Tempo de leitura: 2 min
Especial para o GCN

Histórias de gêmeos, melhor dizendo... No dia 22 de fevereiro de 2022, última data palindrômica ou capicua deste século – 22 02 2022 - nasciam Nathan e Natasha, gêmeos, que completaram família de sete pessoas: a mãe, o pai, outro casal de gêmeos adolescentes de 13 anos e um quinto filho, de 7 anos. Não os conheço, foram notícia de jornal. Há outros casos, também curiosos. Já ouvi contar de familiares que alcançaram o expressivo recorde de 12 filhos em 5 anos: a cada dez meses lhes nasciam gêmeos. A mãe deverá ser canonizada e o pai, será herói em alguma reportagem de resiliência e resistência.

No bar, o bêbado curvado sobre o balcão, chorava. Outro frequentador do local, se aproxima dele e, condoído por aquela dor visível, pergunta-lhe sobre o motivo do sofrimento. “Porque não sei quem eu sou.”, respondeu o maltrapilho. (A história, no original, é envolvente, cheia de diálogos. Acho que é peça de teatral de Pirandello, prêmio Nobel de Literatura. Petulância e atrevimento meus em reproduzi-la.) “Como não sabe?” e o bêbado respondeu. “Nasci gêmeo. Éramos tão parecidos, que nem nossa mãe nos distinguia. Certo dia, a babá foi nos dar banho e um de nós morreu afogado. Desde então, a dúvida sobre quem sou. Se eu sou eu, choro e bebo pela morte do meu irmão. Se eu sou meu irmão, eu morri. Eu não existo. Essa dúvida me consome.” Parece banal, mas a história me comoveu e assustou.

Tínhamos vizinhas gêmeas. Idênticas. Tão semelhantes, que faziam prova oral uma pela outra, até namoravam uma pela outra quando havia algum impedimento. Tive alunos: Roberto e Renato. Nunca os distingui. Chamava um: “Roberto!” Ele respondia com a cara mais limpa do mundo: “Não sou Roberto, sou Renato!” Ou pedia ao Renato para ir à frente da classe: “Vem cá, por favor, Renato!” E ele dizia: “Não sou Renato, sou Roberto!” Ainda hoje não consigo distingui-los...

Tenho primas gêmeas. Idênticas na infância, apresentam alguma diferença hoje. Lúcia e Raquel, lindas, amáveis, delicadas e elas contam da profunda relação afetiva e sintonia que desenvolveram ao longo da existência. Único caso na família, sempre foram atração. A mãe as vestia com roupas iguais e elas confundiam a gente. Ainda tenho dificuldade em estabelecer diferenças entre as duas. Meu pai as apelidou de “As Bonequinhas”. Lindas, adultas, ainda as confundo...

Fabíola, Fernanda e Fabiana são o único caso de trigêmeas que conheço pessoalmente. Francanas, já são mães, ainda as acompanho de longe e pelas redes sociais. Elas não se lembram de mim, mas a história delas ficou na memória. E eu a guardo com carinho, junto com o convite de 15 anos que desenvolvi para a festa tripla de debutantes.

Agora sou avó de gêmeas, não idênticas, mas muito parecidas. Há quem as distinga, ainda tropeço no reconhecimento. A continuar assim, quando chamar Melissa, ela vai me responder “Não sou Melissa, sou Beatrice!”. Ou Beatrice, “Não sou Beatrice. Sou Melissa!”!  Louca para que esse dia chegue...

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