A série documental Gêmeas Trans: Uma Nova Vida, protagonizada pelas irmãs Mayla Phoebe e Sofia Albuquerck, lançada pela Discovery, apresenta a história das primeiras gêmeas do mundo a passarem pela cirurgia de readequação sexual. Com impacto em suas trajetórias, a cidade de Franca desempenha um papel fundamental na jornada das irmãs.
A superprodução, que estreou em junho, mês do Orgulho LGBTQIAP+, compreende seis episódios em sua primeira temporada e conta a história das gêmeas, nascidas em Araxá (MG), mas criadas em Tapira, um município mineiro com aproximadamente 4 mil habitantes.
Desde a infância, as gêmeas se identificam como mulheres, e foi somente em 2021 que puderam realizar a tão desejada cirurgia. Na época, devido ao alto custo do procedimento, o avô das meninas vendeu sua própria casa para ajudar a custear o procedimento. A cirurgia foi realizada em Blumenau (SC), transformando suas vidas.
Atualmente, as irmãs vivem separadas por uma distância de 2.300 quilômetros. Mayla Phoebe encontra-se no terceiro ano do curso de medicina, em Buenos Aires, Argentina, enquanto Sofia Albuquerck está cursando o quarto ano de engenharia civil na Unifran (Universidade de Franca).
Franca aparece nos minutos iniciais da série, quando é contada a vida de Sofia. A futura engenheira faz uma brincadeira sobre o tamanho da cidade. “Não sei porque as pessoas falam interior, porque para mim isso daqui, de onde venho é uma capital”.
O Portal GCN/Sampi Franca entrevistou Sofia Albuquerck sobre o documentário. Veja o bate-papo na íntegra:
GCN: Quando e como foi o primeiro contato com os produtores da série?
Sofia: Tudo começou quando teve a veiculação das notícias sobre a nossa cirurgia. Um dia (4 de março de 2021, às 19h21) abri o Twitter, olhei as solicitações de amizades e vi uma mensagem: ‘olá, gostaria de falar com a Sofia, aqui é o pessoal da Discovery e queríamos entrar em contato’. Falei: ‘não, isso deve ser um trote’. A Discovery me mandando mensagem?. Tirei um print e mandei para o Alex (assessor de imprensa) e ele falou para passar o contato dele para a Discovery.
GCN: Como foi o processo de aprovação do documentário?
Sofia: O Alex começou a conversar com eles, por meio da Adriana (diretora da Discovery no Brasil). A gente fez um teaser para mandar para Londres, na Inglaterra, para ser aprovado e ter a produção da série. Depois que o teaser foi aprovado começamos a fazer reuniões para o contrato da primeira temporada, e assim surgiu a Discovery na nossa vida.
GCN: O que vocês reuniram no teaser?
Sofia: A gente juntou vídeos, fotos e gravações pelo zoom. Usaram muita coisa e montaram o teaser. Foram (notícias de) 50 países, tipo, Japão, China e Índia. Um monte de lugares.
GCN: Como vocês lidaram com os holofotes da mídia após a cirurgia de readequação sexual?
Sofia: A Mayla, principalmente, não queria nada daquilo. Quando a gente foi fazer a cirurgia, a Mayla assinou um termo de autorização para gravação da cirurgia dela para usar para estudos médicos. Acabou que um jornalista soltou a notícia, e não era para soltar nada sobre a cirurgia, porque era para acontecer tudo no anonimato. A Mayla sofreu muito. Deu muita crise de ansiedade e depressão.
GCN: Como a clínica agiu?
Sofia: A clínica usou a seu favor (a cirurgia) para divulgar a marca deles sem a gente receber nada, não ofereceram nem um psicólogo para a Mayla. Invadiram a privacidade dela e publicaram tudo por marketing. Isso foi uma coisa que me deixou bastante chateada. Até hoje usam da nossa imagem para poder se promover.
GCN: Como foi o pós-cirurgia?
Sofia: Estava muito drogada de anestesia e remédios, nem sabia o que estava fazendo. Lembro que abri uma live e estava achando a melhor coisa do mundo. Depois fui parar para ver que minha vida tinha sido totalmente exposta.
GCN: Como foi o processo de adaptação com esta “perseguição” a vocês?
Sofia: Levou um tempo para a gente se adaptar a tudo. Tanto que tem cartas que a gente escrevia para Deus. Uma semana depois da minha cirurgia, ficava rezando o dia inteiro, porque fiquei conversando com Deus o dia todo. Não sabia o que fazer, e só chorava. A Mayla, principalmente, chorava muito. Ela pediu ajuda nos stories perguntando se tinha algum psiquiatra ou psicólogo. Um psiquiatra a chamou e a ajudou.
GCN: Como foi ter uma câmera seguindo vocês para todos os lados?
Sofia: Essas foram as primeiras gravações e, para ser sincera, foi muito entranho. A gente estava muito nervosa, ficava com medo de fazer algo errado, porque a gente não sabia, era uma novidade. Mesmo que tivéssemos dado muitos depoimentos para jornais, ter uma câmera 24 horas é totalmente diferente.
GCN: No primeiro episódio da série você e a Mayla se reencontram após oito meses. Como foi ver e estar com ela novamente?
Sofia: Quando eu a encontrei foi algo muito bom. No começo, quando comecei a gravar sozinha, fiquei tipo: ‘o que faço, o que faço’. Será que estou fazendo certo? Será que estou agindo de forma certa? Será que fiz alguma coisa errada? Na hora em que eu a encontrei, as coisas começam a melhorar. Comecei a ficar mais tranquila e menos eufórica. Ela também. Estávamos ali juntas e foi algo incrível, porque estávamos matando a nossa saudade.
GCN: Como sua família encarou a série?
Sofia: Meu pai não queria aparecer. A gente sempre respeitou. Tanto que ele falou agora que quer aparecer na segunda temporada. Tive super apoio da minha família, todo mundo quis participar, dar esse apoio e mostrar essa luta para ajudar outras pessoas também.
GCN: Como é a relação com o seu pai?
Sofia: Uma parte do meu pai achava que a gente ia desistir, 'destransicionar' e voltar a ser aquelas pessoas de quando nascemos, quando ele descobriu a gravidez da minha mãe. Ele apoiou bastante depois da cirurgia. A ficha dele literalmente caiu. Hoje, ele aceita, respeita e ama a gente como filhas. Mas, hoje em dia, ainda temos algumas desavenças que dá para ver na série. Quando a gente fez a cirurgia, na última semana minha no tubo de respiração, ele ficou lá.
GCN: Você cita anteriormente uma “segunda temporada”. Já está confirmado? A série terá continuação?
Sofia: Quem sabe vai ter uma segunda temporada aí, e todo mundo vai poder conhecer o meu pai. A gente (ainda) vai ter essa conversa. Ainda não, porque a série acabou de ser lançada e a gente ainda não teve essa reunião.
GCN: Como você lida com os ataques sofridos, principalmente, nas redes sociais?
Sofia: Lembro muito quando saíram às notícias. Ataque, tinha muito mais. Agora, sei lidar com tudo de uma forma melhor, mas não completamente.
GCN: Como é para você ser admirada e exemplo para outras pessoas?
Sofia: Hoje em dia acho incrível. Muita gente manda mensagem na solicitação, fala que admira muito a minha família e a gente. Acha muito forte o que temos uns com os outros. A forma de apoiar, a forma do meu avô, a ligação entre mim e a Mayra -mesmo que a gente seja totalmente oposta, nós temos uma ligação muito forte. A forma que estamos ajudando outras pessoas a entenderem sobre o assunto, e vendo que isso é importante para quebrar tabus.
GCN: Você consegue dimensionar o impacto positivo que pode causar em outras vidas?
Sofia: A minha psicóloga sempre falava que não tenho noção do poder que tenho de influenciar outras pessoas e de ajudá-las também (…) sei que se eu me envolver cada vez mais, vou poder influenciar mais pessoas, aumentar mais o meu nicho e ajudar a contribuir com isso. Contar minha história, fazer as pessoas mudarem a forma de pensar.
GCN: Atualmente, você mora e estuda em Franca. O município de 352 mil habitantes faz parte dos seus planos no futuro?
Sofia: Provavelmente não (ficarei na cidade), porque quero fazer a pós e quero tentar entrar na USP (Universidade de São Paulo) ou alguma outra faculdade. Estou procurando uma faculdade fora para fazer, para aumentar conhecimento. Franca é uma cidade de que gosto bastante. Penso muito em vir para cá e continuar morando aqui depois que terminar meus estudos.
GCN: Como você se imagina daqui a dez anos?
Sofia: Imagino ter lançado o meu livro. Imagino ter conseguido ajudar a vida de muita gente e ser uma referência pública de superação e força. Espero estar formada, seguindo o meu sonho de atuar e ter uma empresa de engenharia ligada a patologia de diagnósticos de construção.
GCN: Como você descreve sua jornada até agora?
Sofia: Uma palavra descreveria tudo: esperança. Se eu não tivesse tido esperança e fé em Deus, apesar de tudo; se eu não tivesse rezado, orado; se eu não tivesse tido aqueles pedidos bobos de criança de um dente de leão assoprado com os olhos fechados; se eu não tivesse tido fé em tudo isso, não estaria aqui hoje.
Fale com o GCN/Sampi!
Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.
Comentários
11 Comentários
-
Darsio 04/07/2023Covardes são esses otários acéfalos que, vivem usando o nome de Deus e da família para despejarem ódio contra a diversidade e liberdade de pensamentos. Mas, porque esses acéfalos vivem despejando suas bostas nesse espaço que, tanto vivem a criticar? Perfeito mesmo é o mito deles que, de tão defensor da família já está no seu terceiro casamento. -
Carlos 03/07/2023O importante é que Mayra é a Sofia estejam felizes. Os preconceituosos que se lasquem, não fazem diferença nenhuma, são um zero a esquerda. -
aparecida donizete de freitas 03/07/2023o importante é deixar as críticas de lado e fazer o que quer para ser feliz. a vida é muito curta para ficar se preocupando com o negativismo de pessoas maldosas, preconceituosas e mal amadas. Sucesso Meninas.. Vão em busca de seus sonhos. -
Gislaine 03/07/2023Super importante pra quebrar tabus que as pessoas insistem em criar. Em pleno século 21. Infelizmente ainda temos que ver vermes como alguns que comentaram aqui, destilando maldade de 2 exemplos de coragem e superação. Provavelmente os que criticam, gostariam de estar no lugar delas. Mais são fracos demais pra saírem do armário. O ser humano precisa aprender que tem que respeitar o outro simplesmente por ser um ser vivo. E o que o coleguinha do lado faz da vida dele e do corpo dele, só diz respeito a ele próprio. Não entendo o pq as pessoas insistem em dar pitaco na vida alheia. Ainda bem que o GCN tem pessoas competentes pra publicarem notas da redação como essas. ???? Sucesso meninas -
Paulo 03/07/2023A redação, da mesma forma da globolixo, defende de forma implacável a confusão criada nos últimos tempos nas cabeças das pessoas. É semelhante um \"mula\" transportando drogas para acabar com as crianças, com a família, com o caráter. Mas se ainda assim não se conformam, aí só Deus mesmo, e Deus já deixou escrito sobre isso... vai na Bíblia, está lá.-
Redação Sampi 03/07/2023Nota da Redação: Deus não deixou nada escrito. Também não o fez Jesus Cristo. Nem mesmo os apóstolos. Os textos bíblicos são fragmentos de duzentos anos depois da existência de Jesus, compilados ao longo do tempo por homens que decidiram, de acordo com as circunstâncias históricas, o que era parte do cânone oficial - e o que não era. Seguir literalmente a Bíblica para justificar preconceitos é medíocre e, sobretudo, anti-Cristão.
-
-
Zeca 02/07/2023Pra que publicar isso ? O que acrescenta na vida das pessoas ? Dss crianças? Qual a influência? Pública coisas boas , utilidades públicas etc......vergonha sim pra nossa cidade...inversão de valores E querem normalizar......esse mundo virou pior que sodoma e gomorra......-
Redação Sampi 03/07/2023Nota da Redação: porque é relevante. A reação de alguns mostra como determinadas pessoas ainda são discriminadas. Combater o preconceito é fundamental. Hoje, e sempre.
-
-
luis silva 02/07/2023vc percebe que o jornaleco é de quinta categoria quando começa a bater bouca com os leitores-
Redação Sampi 03/07/2023Nota da Redação: você percebe que um veículo de comunicação é relevante quando, além de noticiar, ha coragem de se posicionar. Por isso o GCN é hoje um dos maiores portais do interior paulista, afiliado à Sampi, a maior rede de portais do interior do Brasil.
-
-
Tiago 02/07/2023Vergonha pra nossa cidade. Franca está cada vez pior-
Redação Sampi 02/07/2023Nota da Redação: vergonhoso mesmo é o preconceito e a homofobia. As meninas são lutadores, que não incomodam ninguém além dos preconceituosos. Toda força a elas! Toda repulsa ao preconceito.
-
-
Marcondes 02/07/2023Lindas, que sejam felizes!!! -
Njr 02/07/2023ânsia de vômito...-
Redação Sampi 02/07/2023Nota da Redação: náuseas o que provoca são o preconceito e a homofobia. As meninas são lutadores, que não incomodam ninguém além dos preconceituosos. Toda força a elas!
-
-
THIAGO MULE BIANCHI 02/07/2023SÓ MERDA NESSE JORNAL MESMO-
Redação Sampi 02/07/2023Nota da Redação: "merda" é aquilo que sai da boca dos preconceituosos. O exemplo delas é edificante.
-