NOSSAS LETRAS

What's Up

Eu e eu e eu concordamos que seria melhor ter mais dinheiro para poder sumir com elegância, mas cada pedacinho do real treme. Leia a crônica de Baltazar Gonçalves.

Por Baltazar Gonçalves | 03/06/2023 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para o GCN

Na imagem, uma reprodução de quadro pintado em 1933 por Tarsila do Amaral que representa o processo de industrialização e a imensa quantidade de pessoas vindas de todas as partes do Brasil para trabalhar nas fábricas de São Paulo.

- Olá, como vai, tudo bem?

- Já disse para não perguntar assim, que me engano achando que seu interesse é saber de verdade.

- Não complica, é só um meme o que te mandei.

- Sei que é ruido de informação, mas também é acúmulo de intenções dissimuladas.

- Sua filosofia de boteco, seria um padre alcoólatra se tivesse paciência para vaticanos. 

- A porra do meme lembra quem gosto ser, pessoa lapidada na solidão bendita. Porque esquecemos nossa origem divina perdidos entre memes?

- Se está cansado da superfície da vida onde ondas e ventos fazem barulho, cansado das pessoas e dos lugares de disputa por narrativas de domínio e posse, por que não se isola e desiste?

- Eu e eu e eu concordamos que seria melhor ter mais dinheiro para poder sumir com elegância, mas cada pedacinho do real treme na certeza de que desse aquário não tem saída, que nadar em frente até as paredes de vidro é a única opção, que nem mesmo saltando de aquário em aquário chega-se no mar profundo da consciência onde do lodo brotam lotus. 

- Lodo lamaçal, nada te conforta quando pensa? 

- Sabe que pensar é coisa rara né?! Isso que se processa nos cérebros não é pensamento, apenas programação bem-feita que dá pane regularmente. É na falha do sistema que pode surgir um pensamento novo.

- Você cansa e quer cansar quem se beneficia da ignorância, essa é a verdade.

- Não te parece justo arrastar para fora do paraíso quem te julgou indigno de comer dos frutos em paz?

- Justiça não tem nada a ver com deus, Deus é amor.

- Qual Deus e de que forma de amor está falando? O modo como amamos está fora do catálogo. De todos os palcos onde a revolução pode começar, nossos corpos, em todas as idades, é o lugar onde a repressão tem início, onde a moral dos tempos costura dolorosamente os costumes. Libertar o corpo, libertar o espírito: eis a revolução possível sempre agora.

- Você é muito antissocial, eu só perguntei COMO VAI, WHAT'S UP?

- Estou bem sim, falta gente para trocar ideia com honestidade e mente aberta. Ainda consigo me expressar com alguma clareza, mas de resto a vida está como sempre esteve: a bocarra da eternidade nos encara dentada e {[(entre as engrenagens dela)]} espero serenamente a próxima cena desse espetáculo tétrico sem fim.

- Mas a vida é bonita.

- Ah sim claro que a vida é bonita, mas só depois de descarnada crua sem filtros ou máscaras viva sem história e sem roteiro, encoberta soterrada por tantas camadas só é revelada como é num átimo de respiração. Ouvir as pessoas falarem delas mesmas o tempo todo cansa, dá trabalho "ler" o que realmente dizem porque só repetem padrões do seu ego exacerbado.

- Quando eu tinha 20 anos também era ousado.

- Sei bem o que diz. No meio da juventude ousada você até fazia diferença, mas seu temperamento era "algo da juventude " como todos diziam, e apagaram você. Agora que a nossa geração envelhece, percebemos a diferença entre saber e ousar saber.

- Quando a realidade se recompõe nos mergulhando em luz amorosa?

- Quando cedo passarinhos conversam algazarra de bom dia em silêncio da mata. Algumas árvores e algumas pessoas ardem douradas. Mas sempre logo tudo o que é.

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