NOSSAS LETRAS

A jornada de Severino

A associação entre culinária e literatura não é nova; mas sempre será pertinente. A comida alimenta nosso corpo; a leitura, nossa alma. Leia o artigo de Sonia Machiavelli.

Por Sonia Machiavelli | 03/06/2023 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para o GCN

Baltazar Gonçalves e Vanessa Maranha, escritores filiados à Academia Francana de Letras, atualmente presidida por José Lourenço Alves, criaram um evento cujo nome, Festa de Babette (antecedido por um aposto, Banquete Literário), é o mesmo de um filme francês sobre sabores, saberes, história, acolhimento e generosidade. Resumo do roteiro: usando seus recursos, uma foragida de guerra prepara um banquete para a família e a comunidade que a acolheram em momento de fuga. Então é também sobre gratidão.

A associação entre culinária e literatura não é nova; mas sempre será pertinente. A comida alimenta nosso corpo; a leitura, nossa alma. As duas nos oferecem prazeres e energias, são potências de vida. Suscitam associações, lembranças. Uma desperta apetites por alimentos; outra, por sonhos. Essas são algumas das muitas razões pelas quais o evento literário que hoje chega à quarta edição recebeu o mesmo nome de um clássico do cinema.

Baltazar Gonçalves, professor de história, poeta, prosador e agitador cultural, deu início à série com comentários sobre o poema O Corvo, do norte-americano Allan Poe. Inovou ao dramatizar algumas cenas e despertou entre seus ouvintes e espectadores grande interesse pelo gênero que consagrou Poe. O noir continua agradando porque o mistério fascina o humano.

Vanessa Maranha, ficcionista premiada, psicóloga clínica, escolheu Clarice Lispector para o segundo encontro. Analisou dois contos da brilhante escritora brasileira: O búfalo e Felicidade clandestina. Com talento para a análise profunda, levou o auditório a mergulhar nas narrativas que descrevem e nomeiam emoções como inveja e ódio, entre outras do amplo leque que o ser humano vai desdobrando desde que nasce. 

José Lourenço Alves, Promotor de Justiça aposentado, autor de títulos identificados com vários gêneros, levou ao público que foi ouvi-lo uma obra de francano ilustre, mas pouco conhecido pelas novas gerações: Antônio Constantino. Modernista que escreveu importante livro de poemas- Este é o canto de minha terra, e dois romances- O embrião e Casa sobre a areia, Constantino é um dos francanos mais celebrados de sua geração, tendo assinado artigos memoráveis sobre a Revolução Constitucionalista nos jornais paulistanos e no Comércio da Franca, onde foi editor desde a fundação em 1915 até 1932, quando se transferiu para a capital.  Casa sobre a areia, objeto físico, foi raridade que o presidente da AFL pescou na Internet para analisar. Mostra a vida de duas famílias pobres do começo do século passado, vivendo na Franca do Imperador. A apresentação provocou a participação maciça dos presentes.

Hoje estarei lá, no auditório da Casa do Artista e Escritor Francano “Abdias do Nascimento”, a partir das 16 horas. Vamos falar sobre um poema de João Cabral de Mello Neto, primeiro escritor brasileiro a receber o Prêmio Camões. Morte e Vida Severina, premiado no Brasil, na Espanha e na França, foi traduzido para o francês, o espanhol, o inglês, o holandês e o italiano. 

Por que escolhi essa obra? Porque João Cabral se filia à mesma corrente social de outros artistas que admiro, como os escritores Graciliano Ramos e Euclides da Cunha e o pintor Cândido Portinari. Porque seres humanos que são obrigados ainda hoje a deixar sua terra por razões de sobrevivência, continuam a percorrer caminho áspero e clamam por ações que os salvem do sofrimento. 

Espero por você, leitor que talvez esteja lendo este comentário. Vamos acompanhar Severino em sua jornada difícil seguindo o rio Capibaribe. Comigo estarão Luiz Cruz de Oliveira, Gabriel Reis, Lucineia de Paula, Cirlene Aparecida de Pádua, Talita Machiavelli do Carmo, Sandra Machiavelli, Elis Machiavelli, John Mercuri, Eduardo Machiavelli e João Neves. Aguardo sua presença neste 3 de junho, sábado, às 16 horas. Onde? Na Casa da Cultura e do Escritor Francano, que fica na Praça do Cemitério da Saudade. A placa imensa não deixa ninguém se perder: Casa da Cultura e do Artista Francano “Abdias do Nascimento”. Até lá!

Fale com o GCN/Sampi! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Franca e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.