ANIVERSÁRIO

'Eu não seria outra coisa. Nasci poeta e escritor', diz Carlos de Assumpção aos 96 anos

Por Jéssica Reis | da redação
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução Redes Sociais
Na última terça-feira, 23, o poeta e escritor Carlos de Assumpção completou 96 anos de vida.
Na última terça-feira, 23, o poeta e escritor Carlos de Assumpção completou 96 anos de vida.

O escritor, poeta e referência da literatura brasileira, Carlos de Assumpção completou 96 anos na última semana. Nascido em 23 de maio de 1927, o poeta é natural de Tietê, em São Paulo, mas viveu grande parte da sua vida em Franca e, sempre que tem a oportunidade, demonstra sua gratidão pela cidade e por tudo que viveu por aqui.

“Vivi bons 96 anos. Quase um século. Jamais imaginei que chegaria nesse patamar e estou aqui. Feliz por tudo o que construí”, disse o escritor.

Formado em Direito e Letras, foi colaborador da Revista Literária Veredas, Suplemento Cultural Arte Agora e do Suplemento Cultural do Diário Oficial do Estado. Ele é membro da Academia Francana de Letras e foi participante intenso da cena cultural paulistana, utilizando de seus versos para falar sobre racismo e denunciar a discriminação sofrida pelas pessoas negras. A luta contra o racismo é uma constante na vida de Carlos de Assumpção.

Nascido em outros tempos, Carlos de Assumpção viu o mundo se transformar. “O que vejo que mais mudou foi que agora as pessoas disfarçam um pouco mais o racismo e a diferença racial. Teve uma época em que chamar uma pessoa como eu de macaco era comum. Lembro que quando fui mais jovem até São Paulo, conheci duas professoras, um médico e um advogado que eram negros e isso foi incrível, por que era raro. Hoje temos muito o que lutar ainda, mas as pessoas disfarçam mais”, contou.

O escritor que sempre usou seus versos para denunciar o racismo existente em nossa sociedade fez questão de declamar um de seus poemas:

"Brasilino, por favor!
Brasilino, anota aí!
Que aqui tem racismo sim.
Que o racismo que há aqui, é racismo inusitado.
É racismo sem racista.
Racismo que não tem cara.
Que ama a gira atrás do pano, que é difícil de combater.
Mas também anote aí, que já está chegando o dia que a gente vai vencer."

Ele ainda fez questão de explicar o poema. “Brasilino é o Brasileiro, um personagem que criei para falar com as pessoas, para dizer coisas necessárias. É preciso ficar atento”, explicou.

Em 1958, aos 31 anos, Assumpção recebeu o título de Personalidade Negra, no 70º aniversário da Abolição, conferido pela Associação Cultural do Negro, em São Paulo. Em 1982, recebeu novo título, desta vez o de Personalidade do Ano em Franca, e foi também homenageado com a Placa de Prata da VII Semana Cornélio Pires, em Tietê, em São Paulo, em 1996.

A vida na poesia, para Carlos, foi muito natural. “Nasci poeta, cresci poeta e não poderia ser outra coisa. Lembro que quando disse para minha mãe que seria escritor, ela lamentou, falou que escritor morria cedo. Olha, eu estou aqui com 96 anos, confirmando que isso não é verdade”, lembrou.

Na altura de seus 96 anos, Carlos sabe de sua importância e de tudo o que viveu. “Se eu pudesse dar um conselho para meu eu jovem, seria apenas para ele se cuidar. A vida é dura, para um homem negro mais ainda. Então eu diria para ele cuidar mais da saúde e da vida”, destacou.

O escritor também deixou um recado para os jovens. “Vocês precisam lutar. Ficarem atentos vejo que os jovens têm os olhos mais abertos do que antigamente. Há um perigo enorme que são as drogas e que eles precisam ficar longe, por que isso leva ao precipício”, contou.

Uma passagem que ele fez questão de contar foi que um menino em uma de suas últimas visitas em escola perguntou para ele qual era sua religião e eu respondi. “Sou de todas elas. Tenho religiosidade. Todas elas são boas, às vezes quem não presta somos nós”, finalizou o escritor.

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