NOSSAS LETRAS

Livros podem salvar vidas

No 2º sábado de abril, será Vanessa Maranha a nos oferecer sua intepretação de dois contos de Clarice Lispector, do livro “Laços de Família”. Leia o artigo de Sonia Machiavelli.

Por Sonia Machiavelli | 08/04/2023 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para o GCN

Platão já dizia no seu tempo que “livros dão alma ao universo, asas à mente, voo à imaginação e vida a tudo”. Outro filósofo, o inglês Francis Bacon, escreveu no século 16 sobre “a plenitude que uma boa leitura confere ao homem”. Por essa época Descartes fez uma analogia interessante ao afirmar “ser a leitura de todos os bons livros uma conversação com as mais honestas pessoas dos séculos passados.” Cem anos depois, como se completasse essa ideia, o ensaísta norte-americano Thoreau afirmou serem “necessários anos de leitura atenta e inteligente para se apreciar a prosa e a poesia que fizeram a glória de nossas civilizações”. São, todas elas, frases reflexivas.

 No Brasil, homens e mulheres ligados às letras sinalizaram em cada época a importância da leitura. Bastante conhecidos são os versos do poeta romântico Castro Alves: “Ó! Bendito o que semeia /Livros à mão cheia/ E manda o povo pensar!/ O livro, caindo n’alma/ É germe- que faz a palma/É chuva- que faz o mar!” Muito cunhada, inclusive politicamente, é a frase de Monteiro Lobato, às vésperas do Modernismo: “Um país se faz com homens e livros.” Ruth Rocha, celebrada autora do nosso tempo, ao discursar num evento literário cravou: “O processo de leitura possibilita essa operação maravilhosa que é o encontro do que está dentro do livro com o que está guardado na nossa cabeça.” Mais frases inspiradoras.

Carlos Drummond de Andrade, o grande poeta, deixou escrito numa crônica que “a leitura é fonte inesgotável de prazer, mas, por incrível que pareça, a quase totalidade não sente esta sede”. De forma igualmente irônica, Mário Quintana alertou sobre a falta de interesse dos brasileiros por livros: “Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem”. Como ambos, CDA e Quintana, verbalizaram seus pensamentos quando computadores nem entravam ainda no radar das premonições, não podemos atribuir apenas à Internet, às redes sociais, aos aplicativos, inteira culpa. Há muitos outros fatores que podem levar ao desinteresse.

Parece que existem os que nascem com uma espécie de vocação para a leitura e outros não. Num lar repleto de obras, onde pais leem muito, pode nascer uma criança que nunca criará intimidade com livros. Assim como haverá crianças apaixonadas por estes, ainda que em sua casa não os encontrem, e os pais nem se lembrem de quando leram alguma coisa. No segundo caso incluo Wesley Barbosa, escritor, 33 anos, preto, natural de Itapecerica da Serra. De acordo com a jornalista Tamyres Sbrile, que o entrevistou para o jornal O Estado de São Paulo, edição do dia 2 de abril, “ele já vendeu mais de 10 mil livros de um total de quatro obras publicadas.” É um número bem alto.

Wesley nasceu em família humilde, mãe solo faxineira que criou sozinha quatro filhos numa casa onde faltava quase tudo. A paixão do menino pelos livros, encontrados por acaso, surgiu ao manuseá-los: “Eu comecei a pegar nos livros e a gostar disso. Acho que o livro me tirou um pouco da realidade que eu vivia, da pobreza mesmo. E ali eu me sentia rico por intermédio da leitura. Rico no sentido de sair daquela realidade através da imaginação.” Ou seja, os livros lhe estimularam sonhos, mudaram sua vida. “Não era para eu ser um escritor, não era para eu ser nem um leitor”, desabafou comovido. Um livro mudou sua trajetória.

Na semana passada, o crítico, escritor e bibliófilo Antônio Carlos Sechin, numa outra entrevista no mesmo jornal, mostrou a grande coleção de livros que ao longo da vida resgatou de lugares inusitados e insalubres. Depois falou algo muito otimista: “Salvamos os livros para eles poderem salvar outras pessoas.” Eu creio nisso. Acredito que um livro possa salvar uma pessoa que esteja se sentindo infeliz, equivocada, desnorteada, carente de rumos etc.  Não são poucos os que iniciaram uma nova era na sua existência a partir da leitura de um livro.

Um movimento entusiasmante vem surgindo no Brasil com a intenção de estimular a leitura de prosa e poesia. Escritores extraordinários podem nos apresentar novos mundos e engrandecer nossas vidas. A Academia Francana de Letras, unindo-se aos que amam a literatura de todos os tempos e culturas, está promovendo encontros onde acadêmicos analisam um livro e apresentam oportunidade ao público presente para que o comente também. Chamam-se “Banquetes Literários”, essas experiências. A primeira aconteceu em março, quando Baltazar Gonçalves comentou, sob o viés do horror e da morte, o poema “O Corvo”, do norte-americano Allan Poe. Neste segundo sábado de abril, será Vanessa Maranha a nos oferecer sua intepretação de dois contos de Clarice Lispector, ambos do livro “Laços de Família”. Um é “Felicidade Clandestina”; o outro, “O Búfalo”. A inveja no primeiro e o ódio no segundo serão avaliados e discutidos com muita competência e sensibilidade pela escritora premiada e psicóloga de renome. A tarde promete finas iguarias para quem for à Casa da Cultura de Franca, que fica na Praça do Cemitério da Saudade. O início está previsto para as 16 horas.

Ler é um ato de amor contra a cultura da morte.

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