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'Tivemos bem mais acertos do que erros', diz deputado Roberto Engler

Aos 79 anos de idade, Roberto Engler deixará a cadeira na Assembleia Legislativa de São Paulo na próxima semana, após oito mandatos consecutivos.

Por N. Fradique | 12/03/2023 | Tempo de leitura: 6 min
da Redação

Divulgação

Roberto Engler não concorreu à reeleição e deixa a Assembleia na próxima semana
Roberto Engler não concorreu à reeleição e deixa a Assembleia na próxima semana

No apagar das luzes de seu oitavo mandato como deputado estadual por Franca, Roberto Engler fala com exclusividade ao GCN e afirma que sua “carreira política foi como deveria ter sido”. O deputado com mais mandatos em toda a história política da cidade faz um balanço de sua atuação ao longo desses 32 anos na Assembleia Legislativa, relembra as candidaturas para prefeito, revela qual foi o Chefe do Executivo da cidade com quem mais teve facilidade para trabalhar, além de falar sobre sua saída e sua volta ao PSDB. Aos 79 anos, ele decreta: “é hora de descansar”.

GCN - Após oito mandatos, somando 32 anos na Assembleia, qual a avaliação que o senhor faz de seu trabalho?
Engler - É bastante tempo pra avaliar (risos). Mas, tentando sendo objetivo, posso dizer que saio com o sentimento de missão cumprida. O que a gente buscou foi justificar a confiança depositada por tanta gente durante tanto tempo. E creio que isso foi alcançado. Vejo que até mesmo os adversários políticos, os críticos de nossa atuação em uma ou outra ocasião, respeitam o trabalho que foi desenvolvido. Isso é um sinal de que tivemos bem mais acertos do que erros.

GCN - Quais as principais conquistas conseguidas para Franca ao longo de seus mandatos?
Engler - Penso que para definir o que é mais importante, o critério deve ser avaliar o quanto a realização A ou B melhorou a vida das pessoas. E claro que quanto mais pessoas beneficiadas melhor. Então eu me orgulho muito de programas e serviços que contaram com a nossa atuação para vir pra Franca e beneficiar muita gente. Vou lembrar sempre do AME, do Poupatempo, dos muitos avanços na área da Educação: escolas estaduais, Etecs, Fatec, Unesp. Tivemos um olhar muito atencioso sempre com a Santa Casa, o Allan Kardec, a Apae e entidades sociais, creches, abrigos para idosos, entre outros. Um programa que valorizo demais é o Projeto Guri, que trabalha a iniciação musical com as crianças, algo que tem impacto por uma vida inteira. Fora as rodovias, que sempre demandaram investimentos que significam não apenas mais conforto, mas mais segurança e preservação de vidas. Eu sou capaz de apostar que perto da casa de cada francano tem alguma realização que contou com o nosso trabalho. Isso é bom sinal.

GCN - Por que o senhor não concorreu à reeleição?
Engler - Essa foi uma decisão que eu vinha amadurecendo há bastante tempo. Vou fazer uma revelação aqui. Mesmo em 2018, eu já tive dúvidas se deveria seguir candidato. O motivo maior desses questionamentos sempre foi a vontade de ficar mais com a família, desfrutar mais do tempo livre. A rotina de idas e vindas de São Paulo cansa, ainda mais por tantos anos. Então a opção de não concorrer em 2022 foi algo natural, que não surgiu de uma hora para outra.

GCN - O senhor disputou a Prefeitura de Franca por duas vezes. Por que acredita não ter sido eleito?
Engler - Em 1988, era a novidade. Foi a melhor campanha da minha vida. Gastei dois pares de sapatos percorrendo cada rua de Franca, vendo de perto a pobreza, as mazelas, as dificuldades das pessoas. Foi ali que percebi, pela primeira vez, a responsabilidade que é ser político e ter a missão de ajudar as pessoas. Naquela eleição, saí mais de 30 pontos atrás do líder nas pesquisas, que era o Maurício Sandoval Ribeiro. E nunca o venci. A votação terminou com uns 2% de diferença, salvo engano. Já em 1992, foi o contrário. Eu era o líder das pesquisas disparado. Mas, não sei explicar exatamente o porquê, os adversários foram ganhando terreno. Tem vários episódios marcantes nessa campanha sobre falhas da nossa equipe, gente que achava que a eleição estava ganha, estratégias condenáveis por parte de outros concorrentes. Mas aí o que houve é que o Ary Balieiro passou à frente na reta final e venceu, com méritos.

GCN - O senhor tem sentimento de frustração por não ter sido prefeito de Franca?
Engler - De coração, olhando pra trás e vendo as coisas como se sucederam, não. Acredito que era para ter sido como foi, que havia muita coisa pra fazer como deputado e que essas missões eram minhas. Então, não tenho frustração. Acho, inclusive, que a minha carreira política foi como deveria ter sido, em todos os aspectos.

GCN - Qual o prefeito de Franca que o senhor teve melhor relacionamento nesse período como deputado?
Engler - É espantoso, porque ele é de um partido que rivalizou com o PSDB ao longo dos últimos 30 anos, mas é o Gilmar Dominici. Ele sempre buscou ser justo no relacionamento com o deputado e teve a humildade, quando precisou, de buscar a colaboração. Os demais, com raras exceções em momentos específicos, sempre optaram por trabalhar sozinhos, o que é legítimo, mas dificulta um pouco o trabalho parlamentar que envolva a Prefeitura.

GCN - O senhor teve uma vida ligada ao PSDB, saiu e voltou. Como foi essa mudança e o retorno?
Engler - A saída foi provocada por uma mudança dentro do partido. Em 2018, João Doria se tornou a bola da vez dentro do PSDB e eu antevia que ele não seria a melhor alternativa para a legenda. O tempo mostrou que eu estava certo. Ao mesmo tempo, recebi um convite generoso do então governador Márcio França para ir ao PSB, e achei que isso poderia ser interessante para que o meu mandato fosse mais eficaz e também para colaborar no sentido de que São Paulo pudesse ser governado por alguém que eu julgava ser mais apropriado -no caso o Márcio França. Quanto à volta, no início do ano passado, o partido me procurou. Achei que a volta era algo coerente, afinal a minha história como deputado estadual foi construída dentro do PSDB e nada mais normal do que encerrá-la também como membro do partido.

GCN - O senhor teve alguma decepção ao longo desse tempo na Assembleia?
Engler - Ah, sempre tem, né? Mas, na maior parte das vezes, são passagens muito específicas, que nem merecem registro. Uma decepção que se tornou algo grande e que exigiu uma ação contundente, da qual me orgulho muito, foi a tentativa do Governo de colocar três novos pedágios na nossa região. Havia a promessa de que melhorias seriam feitas e não teríamos novos pedágios. Teria sido uma decepção muito grande se isso tivesse se materializado. Mas nós falamos alto, fizemos barulho. Foi o “panelaço da Alta Mogiana”, como eu mesmo disse na tribuna da Alesp. E, diante da nossa voz, da mobilização popular, do movimento "Não aos Pedágios", com um papel importante inclusive do próprio GCN, o então governador Geraldo Alckmin mudou de ideia.

GCN - Qual o futuro político do senhor? O que vai fazer após 15 de março?
Engler - A carreira política está chegando ao fim. São mais de 40 anos de dedicação, 32 anos como deputado estadual. Encerrando por aqui, com o sentimento de dever cumprido. Agora, é descansar, curtir a família.

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