NOSSAS LETRAS

Wira, a sobrevivente

Difícil imaginar as cenas degradantes descritas neste livro num vilarejo ucraniano escondido a 160 km da capital Kiev. Leia o artigo de Luzia Izete da Silva.

Por Luzia Izete da Silva | 04/03/2023 | Tempo de leitura: 1 min
Especial para o GCN

Acabo de ler A Fortaleza de Wira, escrita pelo historiador Anderson Prado. Uma biografia cujo desenrolar começa na Ucrânia soviética e descreve os horrores do Holodomor -A Grande Fome- de 1932-33, período em que os sobreviventes praticaram o canibalismo, num ato desesperado de sobrevivência diante do confisco de alimentos pelo governo russo.

Objetivo de tamanha crueldade? Há teorias sobre o assunto mas uma coisa é evidente: o profundo desprezo para com seu semelhante, vizinho próximo inclusive em cultura.

Difícil imaginar as cenas degradantes descritas neste livro num vilarejo ucraniano escondido a 160 km da capital Kiev. Pouco se “sabia da Rússia com sua foice”, ao passo que vidas dissecavam nos campos brancos de neve, tingidos de sangue, dor e cerejeiras. Alguns, vendo “o bárbaro espetáculo, preferiram (os delicados) morrer”, suicidando. Sem a delicadeza para a morte prematura, Wira Wodolaschka, depois, no Brasil, Vera e por casamento Kloczack, com o também ucraniano Josef, ainda na Europa, suportou as agruras do Holodomor – o holocausto ucraniano, conceito ainda em discussão, em sua infância.

E o que ainda estava por vir na Europa conturbada pela Segunda Guerra Mundial, Wira viu-se deslocada para a Alemanha nazista, perdeu-se da família, cavou trincheiras para o inimigo, enfrentou o preconceito na resiliência. Quis o destino trazer Wira e Josef para o norte do Paraná, onde enfim, contou recentemente sua história de vida ao historiador dr. Anderson Prado.

Doutrinas extremistas e guerras matam, dispersam e descarrilam vidas pacatas que nada têm a ver com os interesses dos governantes. Anderson teve sensibilidade em descrições que nos levam a lágrimas. Termino este livro pensando em como primitivos e fratricidas ainda são muitos dos atos humanos.

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